Em um dos muitos episódios fantásticos do romance “Cem Anos de Solidão”, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, as pessoas esqueceram o nome das coisas e, para lembrarem, colaram bilhetinhos com esses nomes nos objetos, nas plantas, nos animais, nas pessoas, em tudo. Ainda não aconteceu esse curioso fenômeno em nosso mundo, mas a ideia dos bilhetinhos é boa. Só sugiro uma mudança: ao invés de colar a palavra “cadeira” em uma cadeira, ou “mesa” em uma mesa, podíamos colar frases de García Márquez em tudo e em todos. Viveríamos em um mundo carimbado de sabedoria e, certamente, muito menos solitário. Para dar início a essa campanha, a Revista Bula selecionou 50 das muitas frases instigantes, provocadoras e inspiradoras do mestre colombiano, para você colar em sua parede.
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.
Um escritor só escreve um único livro, embora esse livro apareça em muitos tomos, com títulos diversos.
Diria que o machismo, tanto nos homens quanto nas mulheres, não é mais que a usurpação do direito alheio.
Tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte.
Quem não tiver Deus, que tenha superstições.
Sou um patrimônio nacional. Não tenho um grama de privacidade.
Cada linha de Cem Anos de Solidão tem o ponto de partida na realidade. Eu forneço uma lente de aumento para os leitores entendê-la.
Quando eu era criança, minha avó me contava histórias horríveis de mortos que apareciam. Nossa casa parecia mal-assombrada.
Eu e Mercedes estamos juntos há 25 anos e não sei a idade dela. É impossível conhecer completamente uma pessoa.
Acho muito perigoso descobrir por que motivos um livro que escrevi pensando apenas em alguns amigos é vendido em todos os lugares como cachorro-quente.
Todos somos reféns de nossos preconceitos.
Mas não se esqueçam de que, enquanto Deus nos der vida, nós continuamos sendo mães, e por muito revolucionários que vocês sejam temos o direito de lhes baixar as calças e dar uma boa coça diante da primeira falta de respeito.
Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados.
Hoje, ao vê-lo, descobri que só nos unia uma ilusão.
Fizeram um amor tranquilo e são, de serenos avós.
Era como se tivessem saltado o árduo calvário da vida conjugal, e tivessem ido sem rodeios ao grão do amor.
Mais vale chegar a tempo do que ser convidado.
Deus meu, isso dura mais tempo que uma dor!
A cobiça de ouro de nossos fundadores nos perseguiu até recentemente.
Nossa independência da dominação dos espanhóis não nos pôs fora do alcance da loucura.
Onze anos atrás, em 1971, o chileno Pablo Neruda, um dos brilhantes poetas de nosso tempo, iluminou este público com suas palavras. Desde então, os europeus de boa vontade — e às vezes aqueles de má vontade também — têm sido arrebatados, com cada vez mais força, pelas novidades fantásticas da América Latina, esse reino sem fronteiras de homens alucinados e mulheres históricas, cuja infinita obstinação se confunde com a lenda.
Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e canalhas, todas as criaturas desta indomável realidade, temos pedido muito pouco da imaginação, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios concretos para tornar nossas vidas mais reais. Este, meus amigos, é o cerne da nossa solidão.
Você não pode imaginar como pesa um homem morto.
A América Latina não quer, nem tem qualquer razão para querer, ser massa de manobra, sem vontade própria.
No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5 e 30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo.
Nunca me interessou uma ideia que não resista a muitos anos de abandono.
Sei por experiência própria que, quando se toma notas, a gente acaba pensando para as notas e não para o livro.
Quando era jovem, escrevia de uma tirada, fazia cópias, voltava para corrigir. Agora vou corrigindo linha por linha à medida que escrevo, de sorte que, ao terminar a jornada, tenho uma folha impecável, sem manchas nem rasuras, quase pronta para levar ao editor.
Há um momento em que todos os obstáculos são derrubados, todos os conflitos se apartam e à pessoa ocorrem coisas que não tinha sonhado, e então não há na vida nada melhor que escrever. Isso é o que eu chamaria de inspiração.
A vida cotidiana na América Latina nos demonstra que a realidade está cheia de coisas extraordinárias.
Para mim bastaria estar certo de que você e eu existimos neste momento.
Acredito que a técnica e a linguagem são instrumentos determinados pelo tema de um livro.
A solidão, para mim, é o contrário da solidariedade.
Sempre acreditei que o poder absoluto é a realização mais alta e mais complexa do ser humano e que por isso resume ao mesmo tempo toda a sua grandeza e toda a sua miséria.
Não acredito em uma terceira alternativa: acredito em muitas.
A mulher mais bela do mundo não tinha que ser, necessariamente, a mais apetecível, no sentido que entendo esse tipo de relações. Minha impressão ao fim de uma breve conversa, foi que o seu temperamento podia me causar certos conflitos emocionais que talvez não fossem compensados pela sua beleza.
Não poderia entender a minha vida, tal como é, sem a importância que nela tiveram as mulheres.
Em todos os momentos de minha vida há uma mulher que me leva pela mão nas trevas de uma realidade que as mulheres conhecem melhor que os homens e nas quais se orientam melhor com menos luzes.
Tenho um instinto muito especial: quando entro num lugar cheio de gente, sinto uma espécie de sinal misterioso que me dirige a vista, irremediavelmente, para o local onde está a mulher que mais me inquieta entre a multidão.
Há feministas, por exemplo, que o que desejam realmente é ser homens, o que as define de uma vez como machistas frustradas. Outras reafirmam a sua condição de mulher com uma conduta que é mais machista que a de qualquer homem.
A gente continua se vendo por dentro como sempre foi, mas de fora os outros reparam.
Acho que a incapacidade para o amor é o que os impulsiona a procurar o consolo do poder.
Todo homem normal chega morto de medo a uma experiência sexual nova.
O que me impede de ser, como se diz, um garanhão público, não é a necessidade de preservar a minha vida privada, mas sim o fato de que não entendo o amor como um assalto momentâneo e sem consequências.
Enquanto houver flores amarelas, nada de ruim pode me acontecer.
Os motivos da amizade são múltiplos e insondáveis.
Digamos que a celebridade é positiva nesse sentido, porque oferece oportunidades muito ricas para fazer amizades que de outra forma não seriam possíveis.
Não sou comunista. Nunca fui. E nunca pertenci a nenhum partido político.
A ternura é inerente não às mulheres, mas aos homens. As mulheres sabem que a vida é muito dura.
As estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra.