O amor acabou. Às vezes o para sempre acaba. Mas a gente finge que não vê

O amor acabou. Às vezes o para sempre acaba. Mas a gente finge que não vê

Eu permaneço, tu permaneces, ele permanece. Por que então nós permanecemos aqui, injuriados e desmotivados? Por que não viramos a mesa, não abandonamos o barco, não mandamos tudo para o espaço? Ora, porque acreditamos! Em alguém ou alguma coisa. Só por isso. Ah, se não fosse esse restinho de esperança que habita o nosso peito cansado e sofredor… Uma horas dessas já teríamos partido para outro lugar, outros braços, outra vida seguramente mais excitante do que essa que empurramos agora.

Olha, eu vou te falar uma coisa. Permanecer não é para qualquer um. É para os fortes, como dizem por aí. Porque o mais fácil é desistir mesmo, largar mão de bater a cabeça, de insistir naquilo que deixou de ser motivo de felicidade espaçosa, e agora pesa feito elefante, machucando as costas.

Essa é a parte mais chata da vida. A permanência. Um período de sacrifício onde já não nos contentamos mais. Mas, ainda assim, enxergamos no fim do túnel a luz que sinaliza a bonança, ou, quem sabe, a possibilidade de tudo voltar a ser como antes. De repente não estamos realizados, não somos felizes, nada está bom. E, ao mesmo tempo que a insatisfação se instala, a inércia faz companhia. A vontade de sair do martírio não é maior do que a força propulsora do salto. Cadê a coragem para deixar de ser um casal a voltar a ser indivíduo? Por que continuamos aqui, amargurados, amarrados, atrelados, fingindo que as coisas não estão tão ruins? O amor acabou. Mas por que não temos força para acabar com ele?

A gente só fica em uma relação enquanto acreditamos nela, enquanto nos preenche a certeza de que vale a pena os esforços, de que o outro é merecedor da nossa renúncia. Um amor que, ainda sim, tem a ilusão de se reinventar, a esperança de um futuro próspero, a recompensa depois de tanto abdicar…

Às vezes a permanecia dura para sempre, mas às vezes o para sempre acaba. Desatamos os nós e as correntes e seguimos sozinhos, rumo ao fascinante e assustador mundo novo. Quando não esperamos mais nada já não existem razões para ficar ou aceitar.

Acabou a renúncia, o resigno, a fé de que vida vai mudar quando, na verdade, ela só muda se você der o primeiro passo. Para que continuar assim, miserável, arrastando correntes, se você já sabe o fim dessa história? Por quanto tempo você vai espiar a felicidade dos outros pela janela e esperar que ela bata na sua porta?

Se o amor acabou, não tem mais nada que você possa fazer. Só resta começar de novo…

Karen Curi

é jornalista.