Os relatos divergem. O explorador inglês Arthur Kidneypie afirma ter vislumbrado o Limite do Humor em 1867, depois de cruzar o verdejante Vale do Nonsense. No alto de um pequeno morro, ele avistou, ao longe, pessoas escorregando em cascas de banana e jogando tortas nas caras umas das outras.
Algumas dificuldades impediram, no entanto, que Kidneypie chegasse lá. Os limites do Limite do Humor são guardados pelos selvagens Oogaboolaoonga, tribo que pratica canibalismo e alta gastronomia. Sem paciência nenhuma para lidar com exploradores indecisos na saída do metrô, os Oogaboolaoonga se recusaram a dar informações precisas ao desolado inglês, que ficou perdido no Nonsense.
Os relatos de Arthur Kidneypie, publicados no ano seguinte, foram, contudo, fundamentais para estimular novos aventureiros. Dez anos depois da primeira expedição, Pierre Canard fez o mesmo percurso e, desta vez, conseguiu uma negociação melhor com os selvagens Oogaboolaoonga. Apreciadores de comida francesa, os nativos escoltaram a expedição em troca de dois parisienses magros e uma marselhesa gordinha.
Canard passou pelas Montanhas do Cinismo e prosseguiu pelas Veredas do Ceticismo até alcançar a margem esquerda do caudaloso Rio da Ironia, divisão geográfica para o Limite do Humor.
No seu livro de memórias (“Desconstrutivismo e a arte de assentar tijolos”), ele enaltece o guia Oogaboolaoonga, que considerava muito mais civilizado que seus concidadãos: “Apenas o sentimento eurocêntrico xenofóbico nos leva a chamar de selvagem um indivíduo que tem 847 palavras diferentes para ‘mosquito’ e um paladar extremamente sofisticaaaaahhh solta meu braço, canibal desgraçaaaaadoooooo” (página 178, segundo parágrafo).
Depois disso, o Oogaboolaoonga voltou para casa e a expedição seguiu sozinha, margeando o Rio da Ironia em busca de um ponto seguro para a travessia. Em vão. As águas da Ironia ganharam velocidade e volume, até se transformarem nas turbulentas e perigosas Corredeiras do Sarcasmo, impedindo a passagem para o outro lado.
Munido de uma luneta, o explorador descreve, no entanto, a fauna fantástica que observa à distância. São manadas de metáforas, tropas de trocadilhos e cáfilas de caçoadas. Choldras de chistes. matilhas de malícias e súcias de zoeiras. Ao cair da noite, os exploradores veem revoadas de ridículos risíveis e observam as passadas paquidérmicas dos palhaços. Mas, assim como Kidneypay, Canard também não consegue alcançar o Limite do Humor.
Nenhum dos dois aventureiros, o francês e o inglês, identificam o local com precisão. Por isso, os estudiosos o situam em vários pontos do mundo. Alguns acreditam que fique na Ásia. Outros afirmam que é na África. Mais uns tantos apostam nos Açores. Ou nos Andes. Nos Alpes. Na Antártica. Antuérpia. Albânia. Atlântida. Armênia. Azerbaijão. Andorra. Austrália. Ou até na Asneirice, um lugar que eu acabei de inventar.
É por isso que, vira e mexe, os turistas e viajantes se perguntam: “Será esse o Limite do Humor?”