O grande problema de Batman é que sua história tem muitas versões para o cinema e a maioria delas são muito ruins. Quando em 2005, o autoral Christopher Nolan lançou “Batman Begins”, pareceu ter encontrado a mão certa de seriedade e obscuridade que constitui a essência do vigilante mascarado de Gotham. Três anos depois, quando chegou “O Cavaleiro das Trevas”, ele revolucionou o lance todo e criou um filme difícil de superar.
Matt Reeves não foi bobo e decidiu trilhar por um caminho parecido ao de Nolan. Nada tão glorioso, americano, heroico e sem a menor graça quanto o Batman de Ben Affleck ou a caricatura cômica de Tim Burton que, à propósito, envelheceu tão mal. Com uma fotografia arrebatadora de Greig Frasier, que inclui cenas dos arranha-céus com bokehs e contrastes entre luz e sombras incríveis. É possível ver Gotham de dia e Frasier ainda consegue manter aquele magnetismo e mistério da cidade.
Nesta versão bastante elogiada em sua similaridade com os quadrinhos, Bruce Wayne, interpretado por Robert Pattinson, é um jovem milionário antissocial, que cresceu como órfão e foi criado pelo seu mordomo Alfred. O pai de Bruce, Thomas, foi assassinado décadas antes, quando disputava as eleições para prefeito de Gotham. Durante a campanha, Thomas anunciou um fundo, chamado Renovação, para ajudar os órfãos e carentes, mas ele é morto e a máfia usa o fundo para se financiar e crescer. De lá para cá o crime cresce exponencialmente. Mesmo com a chegada de Batman, como vigilante, a onda de violência parece apenas crescer. Até que um assassino, que tem caçado autoridades, deixa charadas para Batman solucionar e descobrir quem será a próxima vítima.
Com um elenco estelar irreconhecível, talvez o público sequer consiga desvendar de primeira todos eles. O Batman de Pattinson é um playboy emo, é preciso dizer. Com uma franja lisa sobre os olhos borrados de maquiagem escura, lembra mais o Corvo, do que o homem-morcego. Mas sua atuação não é exatamente ruim. Na verdade, é difícil avaliar a atuação de qualquer Batman, já que o próprio personagem exige que não se faça muita coisa ou muitas expressões. No documentário “Val”, de 2021, o ator Val Kilmer fala exatamente sobre isso, em como ele sonhava em ser o super-herói no cinema e como a experiência foi frustrante para ele, porque ele não precisou realmente atuar.
Mas a disputa entre quem brilha mais na tela é entre Colin Farrell e Paul Dano, que interpretam Pinguim e Charada, respectivamente. Não há olhos que reconheçam Farrell de primeira. Ao lado de um grisalho John Turturro, que interpreta Carmine Falcone, eles praticamente transformam a atmosfera do filme em um mobster, e isso é muito legal e diferente de qualquer outro filme do herói. Paul Dano, que é um ator genial em absolutamente tudo que faz, não decepciona. Tem muita gente querendo compará-lo ao Coringa de Heath Ledger. Seria tão injusto quanto impossível, porque o Charada sequer apareceu tantas vezes na tela quanto o vilão de “O Cavaleiro das Trevas”.
Vale fazer um último elogio. O filme possui uma cena interminável e incrível de perseguição de carro entre Batman e Pinguim. Quem não gosta de ação vai ficar impressionado com a sequência impecável de efeitos especiais realistas. Quem gosta, vai ficar maluco. Menti e gostaria de acrescentar mais elogios às atuações de Jeffrey Wright, que se encaixou como luva no papel do detetive Gordon, e Andy Serkis, que apesar de tão expressivo, conseguiu dar de si a medida perfeita para interpretar Alfred. Como já dito anteriormente, The Batman tem mais cara de mobster que de filme de herói e isso me ganhou. Reeves nos deu o melhor filme do vigilante desde “O Cavaleiro das Trevas”. Não foi impecável como Nolan por cenas descartáveis no final, o moralismo quase que arrogante de Batman e outros detalhes, que agora parecem insignificantes. Espero que Zoe Kravitz retorne para termos mais de sua misteriosa e sensível Mulher-Gato.
Filme: The Batman
Direção: Matt Reeves
Ano: 2022
Gênero: Ação/Aventura
Nota: 9/10