Aplaudido de pé em Cannes, novo filme de Wes Anderson vai adoçar a sua vida

Aplaudido de pé em Cannes, novo filme de Wes Anderson vai adoçar a sua vida

O eixo central de “A Crônica Francesa” é um suplemento de crônicas lotado em uma cidade fictícia da França e que faz parte de um jornal americano de veiculação mundial. Sob a batuta de Arthur Howitzer Jr., a redação é apresentada com um certo tom de despedida, porque sabemos desde o princípio que o editor irá morrer e, com ele, a magazine. No local, trabalham os jornalistas Roebuck Wright, Lucinda Krementz, Herbsaint Sazerac e J.K.L. Berensen, que narram quatro contos que acompanhamos dentro do longa-metragem.

A primeira crônica é escrita por Herbsaint Sazerac, interpretado por Owen Wilson, que além de ter sido colega de faculdade do diretor Wes Anderson, tem sido colaborador assíduo de seus trabalhos. No conto, uma breve descrição romântica sobre Ennui-sur-Blasé, a cidade onde a redação da revista está localizada. A segunda crônica conta a história do criminoso Moses Rosenthaler, um homicida e pintor extraordinário, que enquanto passa seus dias na cadeia à espera do julgamento, vê sua carreira como artista cada vez mais promissora e suas obras negociadas por valores sempre mais exorbitantes. Provavelmente não por acaso, a história se assemelha à de Caravaggio, o famoso pintor nascido no século 16, que apesar de seu comportamento lascivo e violento, deixou um legado brilhante nas artes. Apesar das diferenças, Rosenthaler também tem um quê de alma sem salvação.

A terceira crônica narra a história do jovem Zeffirelli, um líder estudantil em pleno espectro da revolução de 1968. O ciclo de histórias é fechado com uma crônica sobre o chef Nescaffer e um misterioso caso de sequestro.

Com um elenco estelar, que conta com Benicio Del Toro, Adrien Brody, Léa Seydoux, Tilda Swinton, Frances McDormand, Timothée Chalamet, Jeffrey Wright, Owen Wilson e Bill Murray, além de outros bons nomes, os enredos são narrados de maneira a perpetuar o estilo icônico de Wes Anderson, que mistura cenários infantis e diorâmicos (aproximadamente 130 sets diferentes de filmagens), personagens uniformizados e excêntricos, inserções de cartoons, cores flamejantes e cenas simétricas. Desta vez, com uma estética inspirada nos filmes franceses, país onde o diretor mora.

O filme é praticamente uma ode a “The New Yorker” em seus anos de glória e sob uma visão extremamente romantizada do jornalismo. Não como nos filmes hollywoodianos, que mostram os repórteres investigando casos de corrupção e promovendo justiça social, mas os transformando em caprichosos escultores de ideias e intelectuais formadores de opinião, escondidos sob figuras caricatas e antissociais, que se sentam solitariamente em suas escrivaninhas ou viajam o mundo vivendo aventuras misteriosas ao lado de figuras conhecidas. É como se todos os jornalistas fossem Ernest Hemingway, Christiane Amanpour ou, quem sabe, Hannah Arendt.

Apesar de ser uma história sobre despedida, Wes Anderson mantém a energia alegre, é quase um pessimismo feliz ou uma nostalgia. “A Crônica Francesa” não é fácil de explicar, mas é fácil de sentir. Apesar de tocar tantos assuntos de profundidade e muitas vezes mostrar o lado negativo das coisas, como da própria Ennui-sur-Blasé, é um filme confortável e que faz o espectador se sentir bem, no fim das contas.


Filme: A Crônica Francesa
Direção: Wes Anderson
Ano: 2021
Gênero: Comédia/Romance
Nota: 8/10