Anos atrás, havia uma pinguela muito velha que precisava de reforma. Várias pessoas morriam na travessia, mas o imperador não se importava. Era necessária a interdição, uma questão de vida ou morte, mas o tenente (prefeito nomeado) também não se importava muito, afinal, a economia não podia parar — dinheiro acima de tudo. Um grupo de ribeirinhos pediu a construção de uma ponte de madeira e, como o imperador não tomou a iniciativa e, ainda, foi contra a construção, os próprios ribeirinhos cotizaram os custos e fizeram a ponte. A ponte de madeira foi inaugurada com fogos e festa, mas o imperador e parte do povo a criticou.
A nova ponte ficava do lado da antiga pinguela. O imperador enviou um mensageiro, com o pedido de que catalogasse todos os acidentes que acontecessem na travessia da ponte recém-inaugurada. Outros críticos, também, resolveram observar. Parte do povo continuou usando a pinguela, mas a maioria preferiu a moderna e nova ponte de madeira. Em um mês, morreram 1, 2, 3… 17 pessoas na apodrecida pinguela, mas ainda não havia morrido ninguém na ponte de madeira.
Certo dia, ocorreu o primeiro acidente na nova ponte: uma pessoa morreu e o mensageiro correu, feliz, para contar ao imperador. O imperador, comemorando, bradou em alto e bom som: “Viram, eu disse que a ponte não funcionaria! Uma pessoa morreu”. Seus súditos replicaram a notícia, o jornal do império deu como manchete, e parte da população começou a divulgar que a ponte era um grande risco a população.
Apenas uma pessoa tinha morrido na nova ponte, mas a triste exceção começou a ser utilizada, por muitos, como regra.
Apesar do lamentável acidente, a maioria dos moradores da região continuou usando a nova ponte. Ao longo dos meses, morreram outras 25 pessoas na velha pinguela, além de alguns feridos.
Um dia, de sol a pino, o tempo virou e, repentinamente, começou uma tempestade. As pessoas passaram a fazer a travessia somente na ponte de madeira. Um novo acidente aconteceu: uma pessoa ficou ferida e outra morreu. Novamente o mensageiro do reino correu para informar ao imperador. Ao saber, o imperador, riu alto e parecia muito satisfeito, quando falou: “Para quem tinha dúvidas, está aí a prova que a ponte de madeira não funciona. Agora já são duas mortes”.
No jornal semanal do império a notícia do trágico acidente foi capa e, novamente, os súditos espalharam a notícia.
E, assim, surgiu uma das primeiras fake news da história. E parte do povo, até os dias, atuais continua atravessando na velha pinguela.