O “Dirigível de Chumbo” alçou voo em 1968, sustentado por blues rápidos e pesados, sob o comando do capitão Jimmy Page. Antes de assumir o comando do dirigível, Jimmy Page era um dos mais requisitados guitarristas de estúdio de Londres na década de 1960. Ele teve participação em gravações de artistas consagrados como Rolling Stones, Kinks, Who e Joe Cocker.
Em 1966, Page foi convidado pelo amigo e guitarrista Jeff Beck para tocar contrabaixo nos Yardbirds. Dentro de um dos mais importantes grupos da cena blues da Londres dos anos 1960, Page não demorou muito para voltar ao seu instrumento de origem e protagonizar antológicos duelos com Beck.
Os Yardbirds são muito lembrados hoje por terem contado entre seus membros com três dos maiores guitarristas do rock de todos os tempos, sucessivamente: Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. O grupo, originalmente uma banda de blues ao longo do tempo incorporou temas psicodélicos e de apelo pop.
Apesar da alta qualidade de sua música, o almejado sucesso comercial não vinha. Isto terminou por fazer implodir os Yardbirds, após as saídas de vários de seus componentes incluindo Jeff Beck, a banda chegou a 1968 praticamente com um único membro: Jimmy Page.
Com intuito de reformular os Yardbirds, Page e o empresário Peter Grant saíram à procura de bons músicos para a banda. Em uma desconhecida Band of Joy conheceram o vocalista hippie Robert Plant e o poderoso baterista John “Bonzo” Bonham. Para completar a trupe, chamaram outro excelente músico de estúdio: o baixista e tecladista John Paul Jones. Com o nome de New Yardbirds estavam prontos para excursionar e honrar contratos previamente assumidos por Peter Grant.
Segundo relatos da época, Keith Moon, baterista do Who, ao comentar sobre o som dos New Yardbirds teria dito que “o grupo era tão pesado que afundaria como um zepelim de chumbo”. Depois da sarcástica piada de Moon, o grupo decidiu mudar o nome para Led Zeppelin, já que apenas Jimmy Page era um Yardbird.
O Led Zeppelin fez sua estreia em Londres, ainda em 1968, com direito a aclamação de público e elogios da imprensa. A ideia musical que Page tinha para o grupo era combinar o peso do blues elétrico com melodias mais etéreas do folk. O resultado dessa química é um som totalmente novo que escreveu as primeiras linhas da cartilha do rock dos anos 1970 em diante e mostrou o caminho, tanto para o hard rock e o heavy metal, quanto para diversas outras tendências musicais.
O primeiro álbum, “Led Zeppelin”, foi gravado em tempo recorde em 1969. Nele a ideia original de Jimmy Page para o som da banda toma forma e nos mostra um entrosamento tão grande entre seus membros que eles pareciam já tocar juntos há vários anos. Riffs espetaculares de guitarra, um baixo seguro e marcante, uma bateria ao mesmo tempo pesada e dançante, e uma voz aguda e única. Este álbum, um dos mais sensacionais álbuns de estreia do rock, é composto por blues antigos, temas emprestados (plágio?) “reciclados” e composições próprias.
O disco abre com a vibrante “Good Times Bad Times” que contém vários dos elementos que viriam a compor a marca registrada do som do grupo. Seguem-se recriações pesadas e inovadoras para dois blues de “Willie Dixon: You Shook Me” e “I Can’t Quit You Baby”. O folk marca presença em “Babe I’m Gonna Leave You”, “Your Time Is Gonna Come” e “Black Mountain Side”.
O futuro do rock pesado é mostrado nos riffs e solos de guitarra de “Communication Breakdown”. Um casamento perfeito entre hard rock e blues na faixa “How Many More Time” encerra o disco. O coração do álbum, com certeza, é a espetacular “Dazed and Confused” um ícone eterno que representa o som do Led Zeppelin, com suas influências de diversas fontes musicais, mas ao mesmo tempo mostrando um som totalmente novo para a época.
A capa é baseada em uma foto do incêndio do dirigível Hindenburg (construído pela empresa alemã Luftschiffbau-Zeppelin) em 1937, ao final de uma viagem Hamburgo — Nova Jersey.
O sucesso do primeiro álbum lotou a agenda de shows do Led Zeppelin. Foi nos escassos intervalos entre esses compromissos que a banda gravou seu segundo álbum, ainda em 1969, chamado “Led Zeppelin II”. O álbum levou o Led Zeppelin a conquistar definitivamente os Estados Unidos e um lugar de honra no panteão dos grandes nomes do rock de todos os tempos. A sonoridade, que hoje identificamos como marca registrada do Led Zeppelin, foi consolidada neste álbum.
A potente faixa de abertura, “Whola Lotta Love”, contém riffs e solos de guitarra que ajudaram a definir o hard rock e o heavy metal. O par interligado “Heartbreaker” e “Living Loving Maid” segue a mesma linha pesada. Além da maestria de Page, temos a impressionante bateria de John Bonham, com direito a solo (sem baquetas) na faixa “Moby Dick”, a competência absoluta de John Paul Jones no baixo e teclados e o, na época, impressionante espectro vocal de Robert Plant.
O blues eletrificado marca presença em “The Lemon Song”, com tema “emprestado” de Howlin’ Wolf. É um dos álbuns mais pesados do Led Zeppelin, mas possui seus momentos de tranquilidade como na balada “Thank You” e nos momentos de calmaria, alternados com momentos de tempestade, de “What Is and What Should Never Be” e “Ramble On”, essa última com destaque para violão de Page. O álbum é finalizado pelo blues “Bring It on Home” que começa com um lúgubre vocal de Plant acompanhado de sua gaita, fica rápido e pesado, para terminar novamente lento.
A capa do disco é uma colagem dos rostos dos membros da banda e dos técnicos, em cima de uma foto da Força Aérea Alemã da 1ª Guerra Mundial.
O terceiro álbum do Led Zeppelin, lançado em 1970, começa tão pesado quanto seu antecessor com o petardo “Immigrant Song”. A segunda faixa: o folk “Friends” desacelera o ímpeto inicial, que é parcialmente retomado por “Celebration Day”. O lado A termina com a enérgica “Out on the Tiles”, com John Bonham mostrando sua força na bateria. Antes disso, temos a maravilha de um dos blues mais bonitos que existem: “Since I’ve Been Loving You”.
É no lado B que o Led Zeppelin nos surpreende com cinco canções acústicas de folk, das quais se destacam “Tangerine” e “That’s the Way”, e duas belas e emocionantes baladas. Não era apenas mais um disco de rock pauleira. O álbum que deixou alguns fãs perplexos, e até revoltados, e parte da crítica desconcertada, foi resultado de uma parada para descanso do grupo após a agitação de longas turnês e das corridas sessões de gravação para os dois primeiros álbuns.
Com mais tempo livre, Jimmy Page e Robert Plant resolveram passar uma temporada na pequena cidade de South Snowdonia, no País de Gales. Hospedados num chalé chamado Bron-Y-Aur, que não contava com energia elétrica, os dois músicos compuseram grande parte do material do disco, inspirados pela atmosfera bucólica do local e fortemente influenciados pelo folclore de raízes celtas.
O Led Zeppelin dá uma demonstração de versatilidade neste álbum. Eles já haviam mostrado que eram bons em músicas pesadas e elétricas, e aqui mostram que se saiam bem, também, em canções mais brandas e acústicas.
Os detratores podem falar mal o quanto quiserem de “Stairway to Heaven”, mas ela é perfeita, maravilhosa e eterna. Seu esquema de balada que esquenta até ficar pesada e esfria novamente foi constantemente homenageado pelos anos afora (um dos melhores exemplos é “Bohemian Rhapsody”, do Queen). Porém se pegarmos o quarto disco do Led Zeppelin, “aquele que não tem nome” ou “IV” ou “ZoSo” ou “Quatro Símbolos”, só por causa de “Stairway to Heaven”, logo descobriremos que estamos diante de uma obra-prima, cheia de música de primeira grandeza.
Lançado em 1971, é um álbum cheio de mistérios, a começar pela falta de título. “IV”, assim chamado para facilitar, é carregado de simbolismos visuais e sonoros: a foto do ancião na capa, outro ancião portando uma lanterna na capa interna (identificado com o Eremita do Tarô), os símbolos rúnicos que representam cada um dos quatro membros do grupo, bem como os temas das músicas. Era a primeira vez que as letras, no caso só a de “Stairway to Heaven”, de música vinham impressas em um álbum do Led Zeppelin. Demonstração de que Robert Plant estava seguro de haver escrito algo realmente bom após algumas letrinhas fraquinhas e sexistas que serviam de apoio à música dos três primeiros álbuns (e que música!).
Este álbum é um resumo do que o dirigível de chumbo, conduzido pelo capitão Jimmy Page, havia feito até então: blues pesado, hard rock, psicodelismo e folk. “Black Dog” e “Rock and Roll” são hard rocks de riffs arrebatadores. “The Battle of Evermore”, com a especial participação da cantora folk Sandy Denny, e “Going to California” são canções acústicas que fariam bonito no lado B de “Led Zeppelin III”. “Misty Mountain Hop” segue numa linha mística oriental. E tem “Four Sticks” que é um pouco de tudo isso junto, e com um toque psicodélico acentuado pelos teclados de John Paul Jones.
O vinil tem uma coisa especial que outras formas, principalmente as mais modernas, não dão a mínima bola: a mística da faixa física e da posição das músicas. O mais comum é que as músicas de maior apelo fossem colocadas nas primeiras faixas de cada lado do disco.
O Led Zeppelin, conscientemente ou não, colocava excelentes surpresas musicais na última faixa de cada lado de seus discos. No “IV” isso não é diferente: se a canção das canções “Stairway to Heaven” fecha o lado A, a última faixa do lado B é uma música que tem tudo para reivindicar seu posto de importância face à “Black Dog” (que abre o disco): “When The Leeve Breaks”, um rock pesado e lento que destaca a qualidade do baterista John Bonham. “IV” retrata uma banda no auge de sua forma e ousadia, a experimentar suas possibilidades e acertar em todas.
O sexto álbum de estúdio do Led Zeppelin é, ao mesmo tempo, o ponto mais alto de sua carreira e a síntese de todos os caminhos musicais que o grupo havia trilhado até então. Uma catedral sonora chamada “Physical Graffiti”
“Physical Graffiti”, lançado em 1975, é resultado de várias sessões de gravação, intercaladas por turnês, no ano de 1974. Algumas músicas, inclusive, são oriundas das gravações dos álbuns anteriores. O caso mais pitoresco é a música “Houses of the Holy” que não saiu no álbum anterior: “Houses of the Holy”. O que poderia parecer uma colcha de retalhos se revela a grande força de “Physical Graffiti”. As músicas se encaixam perfeitamente umas nas outras dando unidade à diversidade: blues, folk, hard rock, rock progressivo, etc. A paleta sonora do álbum é riquíssima.
A viagem do dirigível de chumbo começa bem pesada com “Custard Pie” e “The Rover”. A música de estúdio mais longa da banda, o blues rock “In My Time of Dying” de 11 minutos, fecha o Lado A. No Lado B, temos o rock dançante “Houses of the Holy”, o funk rock “Tramped Under Foot”, e o épico de tintas orientais “Kashmir”, a música mais conhecida do álbum, com seu arranjo orquestral via mellotron de John Paul Jones.
Os teclados de John Paul Jones dão brilho à progressiva “In the Light”, que abre o Lado C. Na sequência, o folk acústico instrumental “Bron-Y-Aur” (a música mais antiga do álbum, das gravações do “III” em 1970). “Down by Seaside” é um rock leve e “Ten Years Gone” uma balada cheia de peso.
Para iniciar o Lado D, um rock cheio de balanço: “Night Flight”, seguido de “The Wanton Song”, mais um hard rock. Os rocks acústicos “Boogie with Stu” e “Black Country Woman” têm a participação especial do pianista Ian Stewart (cofundador dos Rolling Stones). “Physical Graffiti” se encerra em grande estilo com a pesadíssima “Sick Again”.
“Physical Graffiti” é sensacional até com relação à sua capa. Cheia de mistérios, bem ao gosto de Jimmy Page, a capa é uma foto manipulada das fachadas de dois soturnos prédios de apartamentos de Nova York. As janelas são vazadas de tal sorte que combinem com uma série de fotografias estampadas nos encartes dos dois discos. Os Rolling Stones usaram os mesmos prédios da capa de “Physical Graffiti” como cenário para o clipe de “Waiting on a Friend”, de 1981.
O Led Zeppelin ainda lançaria mais dois bons álbuns até o encerramento de suas atividades em 1980, em virtude da morte do baterista John Bonham. Passados mais de 40 anos do fim da banda, a música do Led Zeppelin continua atual e fascinante, não envelhece e nem fica datada.