Houve uma conjunção de planetas, dizem uns. Outros garantem ter ocorrido encontros de almas iluminadas há 55 anos. O fato é que é difícil uma época que tenha produzidos tantos discos clássicos e inovadores do rock. São obras influentes que mudaram a tendência da música e ampliaram os horizontes. Seguem abaixo 12 razões para aquele 1967 ter sido tão marcante para a música. A cada mês, saía uma obra-prima.
Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane), fevereiro de 67: traz o clássico “White rabbit” de uma banda que marcou o festival de Woodstock. A cantora Grace Slick foi uma das primeiras a liderar um grupo. A repercussão do Jefferson Airplane pode ser vista no quarto filme da série “Matrix”, recém-lançado, que traz a canção “White rabbit” na trilha sonora. O refrão deixa claro de onde as irmãs Wachowski tiraram ideias: “Uma pílula deixa você maior/E uma pílula deixa você pequeno/E as que sua mãe te dá/Não fazem efeito algum/Vá perguntar à Alice/Quando ela tiver três metros de altura”.
The Velvet Underground & Nico (Velvet Underground), março de 67: conta-se a anedota de que o primeiro disco da banda de Lou Reed vendeu apenas 200 cópias. Mas os 200 compradores montaram as 200 melhores bandas das décadas seguintes. De Television a R.EM., passando por Jesus & Mary Chain e Strokes. Recentemente foi lançado um documentário de Todd Haynes, exibido na Apple+, que resgata a história do grupo. Tempos atrás, o cantor Beck regravou na íntegra esse famoso disco que tem a imagem de uma banana e a assinatura do artista plástico Andy Warhol.
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Beatles), maio de 67: a música que encerra o disco, “A day in the life”, é uma das construções mais complexas e impressionantes do rock. Os quatro fabulosos já haviam deixado de tocar ao vivo, estavam mergulhados na cultura indiana e tinham a parceria infalível com o produtor George Martin. A capa do disco é uma obra de arte, mostrando a imagem dos Beatles simulando um retrato com as maiores figuras do século 20. As canções “Lucy in the sky with Diamonds” e “When i´m sixty four” comprovam a capacidade criativa do grupo para além do rock tradicional.
Are You Experienced (Jimi Hendrix), maio de 67: a faixa “Third stone from the sun” já vale o disco e apareceu anos atrás na abertura do filme “Os sonhadores”, de Bernardo Bertolucci. Um músico negro que conseguiu fazer a fusão definitiva do rock com a música black (blues, jazz, soul, funk). As faixas “Hey Joe” e “Purple haze” abriram caminhos para novos músicos e suas experimentações. Não haveria Prince ou Red Hot Chilli Peppers sem o som criado por Hendrix. E a influência dele chegou ao Brasil e pode ser ouvida em Gilberto Gil e os Novos Baianos.
The Piper at the Gates of Dawn (Pink Floyd), agosto de 67: do começo ao fim, reina a figura do vocalista e guitarrista Syd Barrett, mostrando um caminho inovador e bem diferente do que o grupo faria nas décadas seguintes. Foi o primeiro disco de um grupo que ficaria mundialmente conhecido pelas “viagens” de seus discos nos anos 1970, sob o comando de Roger Waters e David Gilmour. Barrett acabou expulso da banda, pois não conseguia manter um mínimo de sanidade para levar o trabalho adiante.
The Doors Album (The Doors), agosto de 67: uma mistura de blues dos Estados Unidos com o alemão Bertolt Brecht e o francês Jacques Brel em plena Califórnia psicodélica. Basta ouvir a longa “The end”, trilha sonora da abertura do filme “Apocalipse Now”, de Francis Ford Coppola, para perceber que o grupo estava milhas acima da terra. O cantor Jim Morrison comandou essa experiência radical e acabaria falecendo de overdose com apenas 27 anos de idade. Deixou o legado de canções como “Light my fire” e “Soul kitchen”, regravadas à exaustão nas décadas seguintes.
Smiley Smile (Beach Boys), setembro de 67: dizem que o líder da banda, Brian Wilson, conversou muito com John Lennon, que estava gravando o disco Sgt Peppers no estúdio ao lado dos garotos da praia em Londres. Trocaram ideais e palpitaram um no trabalho do outro. A música “Good vibrations” é ainda impressionante. A canção de abertura, “Heroes and villains”, exibe a harmonia para combinar várias vozes cantando ao mesmo tempo, e tudo parece ser apenas uma única voz.
Their Satanic Majesties Request (Rolling Stones), novembro de 67: pouco lembrando, mas um disco fenomenal com Mick Jagger e Keith Richards brincando de psicodelia na época. São imperdíveis as canções “Citadel”, “She is a rainbow” e “2000 light years from home”, ainda com alucinado guitarrista Brian Jones, que morreria em seguida. Os Stones provaram que poderiam ser extremamente sofisticados, o que ficaria ainda mais evidente nos álbuns seguintes “Beggars banquet” e “Let it be”.
Forever Changes (Love), novembro de 67: Arthur Lee apenas fez a trilha sonora do “summer of love” daquele ano, atravessando o Atlântico e estabelecendo a conexão de São Francisco com Londres. Assim como Jimi Hendrix, foi um músico negro que invadiu o rock psicodélico. A canção “Alone again or” mistura, por exemplo, violões do folk de Bob Dylan com sons da música espanhola. Impressiona o quanto as músicas de Lee influenciaram quem veio depois ou simplesmente foram copiadas.
Disraeli Gears (Cream), novembro de 67: segundo disco da banda Eric Clapton, com os dois clássicos “Sunshine of your love” e “Tales of brave Ulysses”. O grupo tem a clássica formação de um trio de rock (Jack Bruce no baixo e Ginger Baker na bateria). Talvez seja uma das bandas mais perfeitas da História. O som do blues ganhou o clima viajante dos psicodélicos. Para entender aquela atmosfera, é sempre bom rever o filme “Blow Up — Depois Daquele Beijo”, de Michelangelo Antonioni, que entendeu como poucos a importância dos roqueiros londrinos.
John Wesley Harding (Bob Dylan) dezembro de 67: o maior músico dos Estados Unidos a partir dos anos 1960 havia deixado de lado o estilo voz e violão. Ele aderiu ao som elétrico do rock e dos psicodélicos. Os fãs mais ardorosos demoraram a entender a mudança e reclamaram muito. A canção “All along the watchtower” foi regravada por Jimi Hendrix, que colocou as guitarras na linha de frente e mudou de vez os limites do que poderia uma música de rock.
The Who Sell Out (The Who), dezembro de 67: já na era de álbuns-conceitos, a banda inglesa brinca com a ideia do consumo e ironiza jingles comerciais nos intervalos das músicas. Dois clássicos são “Tattoo” e “Our Love was”. Os líderes Roger Daltrey e Pete Townshend expandiriam o estilo conceitual ao criar as antológicas óperas-rock “Tommy” e “Quadrophenia”. Foram obras que colocaram os roqueiros em outro patamar criativo e mostraram a importância do boom de 1967.
Ouça as principais músicas dos 12 discos de 1967 na playist: