O romance “Torto Arado”, lançado em 2019, foi o best-seller do momento entre 2020 e 2021. Para o bem ou para o mal. Gerou uma falsa sensação de unanimidade, uma vez que a maioria de seus leitores “pareceu” adorar o livro. Foi eleito uma obra-prima de nascença. Super premiado, venceu o Prêmio Leya em Portugal, além do Prêmio Jabuti e o Prêmio Oceanos de 2020. Contudo, pouco a pouco, surgiram vozes dissonantes, mostrando outros lados. Algumas análises destacaram a contaminação política de algumas dessas leituras mais elogiosas. Outras, destacaram aspectos narrativos pouco consistentes. E esse aspecto é o abordado neste vídeo.
Analisamos as vozes narrativas, o desenrolar do enredo, a construção dos personagens. Sem nenhum revanchismo político ou desrespeito ao autor, como deve ser toda crítica intelectualmente honesta. Não que recusemos usar o humor como ferramenta analítica, claro. Afinal de contas, “Torto Arado” se leva muito a sério. Essa é uma das marcas do livro. Não há nenhum traço de humor em suas páginas, e a falta de humor é sempre uma porta aberta para se fazer humor.
Talvez isso aconteça pelo tema em si, por sua pretensão ao épico ou talvez pelo perfil do autor, um acadêmico que estudou muito seriamente e muito profundamente o cenário e o pano de fundo histórico e cultural onde se passa a narrativa. Itamar Vieira Júnior nasceu em Salvador em 1979. Graduou-se em Geografia na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde recebeu a Bolsa Milton Santos, dedicada a jovens negros de baixa renda. Concluiu mestrado e fez doutorado em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia, estudando a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste. Atualmente é funcionário público e trabalha diretamente com processos ligados a questões fundiárias. Sempre escreveu ficção. Em 2012 publicou o livro de contos “Dias” e em 2017 “A Oração do Carrasco”, finalista nesta categoria do Jabuti. “Torto Arado” é seu primeiro romance.
Não se pode negar que começou bem, muito bem, independentemente das controvérsias políticas e problemas estéticos. Mas será mesmo um clássico de nascença ou fruto do entusiasmo de um grupo de leitores carentes de debates sociais na literatura? Assista o vídeo e descubra.