“Meu Pai” é um longa-metragem do cineasta francês Florian Zeller, lançado em 2021 e ganhador do Oscar de melhor filme neste mesmo ano. Protagonizado por Anthony Hopkins, o longa-metragem tem 1h37 de duração e está disponível para compra no Amazon Prime Video. Com data prevista para estreia nos cinemas em março deste ano, houve mudança de planos por conta da pandemia e ele nunca chegou a ser lançado nas telonas.
O filme é uma adaptação da peça homônima escrita pelo próprio diretor, mas o ajuste do roteiro para o cinema teve ajuda de Christopher Hampton. O espetáculo já completa oito anos de exibição em teatros da Europa e rende, ainda hoje, um bom público.
Levar o roteiro para as telas parece ter sido uma tarefa fácil para Zeller e Hampton, já que “Meu Pai” demonstra um trabalho extremamente primoroso de montagem. Propositalmente confuso, para fazer com que o espectador mergulhe na mesma água turva que o protagonista, o filme é uma jornada angustiante pela demência. Anthony, um senhor de 80 e poucos anos, sofre da doença, enquanto vive no mesmo apartamento que sua filha, Ann, interpretada por Olivia Colman.
Em entrevista ao Toronto Internacional Film Festival (Tiff), Zeller conta que quando pensou em levar a peça para as telas, desde o princípio, tinha Anthony Hopkins em mente para interpretar seu personagem central. Ao compartilhar com os colegas da produtora, todos teriam rido e achado a ideia impossível. Mesmo assim, Zeller decidiu enviar o projeto para Anthony, por meio do agente, e, para sua surpresa, conseguiu uma reunião.
Anthony é um idoso que vive em seu apartamento luxuoso no centro de Londres. Para o espectador, assim como para o protagonista, tudo parece normal, à princípio. A filha, Ann, que vive na mesma residência, chega em seu pai e conta que irá se mudar para Paris, onde vive o novo namorado. Até aí tudo bem, mas quando Ann sai e entra novamente em cena, sua fisionomia é outra. Há um estranho sentado no sofá da casa, que trata Anthony como um visitante indesejado. Em questão de segundos, tudo muda novamente.
Um quadro na parede desaparece. Aliás, parede essa que está com cor diferente. A mobília está em outro lugar. O homem que o trata com desprezo agora também tem outra face e é mais agressivo. Uma cuidadora com um rosto familiar é contratada, mas Anthony logo dá um jeito de se livrar dela, afinal, não precisa da ajuda de ninguém.
Neste filme, não são apenas as personagens que ganham vida, mas também o cenário e tudo que há nele. Eles não nos contam a história, pelo contrário, confundem, intrigam. A cada cena o espectador está mais perdido, sem saber quais são os verdadeiros rostos ou o que, de fato, está acontecendo.
Assim como Anthony, o público passa a ter dúvidas do que é real e do que não é. A interpretação de Hopkins parece fluir com muita naturalidade. Ele resmunga, é charmoso, é irritado, paranoico. A atuação do veterano é chocante, emocionante e arrasadora. Olivia Colman, que também é um grande talento, complementa essa obra-prima, porque os dois emitem uma sintonia muito forte. Anthony é confuso, mas a angústia de Olivia é o que contamina os sentimentos, as expressões e as ações de todos os personagens.
Zeller, o diretor, diz que o filme também é sobre empatia, sobre se colocar no lugar de Ann e pensar: o que eu faria com a pessoa que amo que vive em situação de demência?
Perguntado no Tiff sobre como foi a experiência nesse filme, sir Anthony Hopkins responde que, apesar de ter realizado ótimos trabalhos nos últimos anos, esse foi seu favorito, o ponto alto de sua carreira. Ao ser questionado sobre como conseguiu encontrar a essência daquele personagem tão complexo e cheio de facetas, ele responde que foi fácil. “Cheguei naquela idade em que eu sinto o que Anthony sente: a melancolia”, afirma.