João Gilberto é o Carlos Drummond de Andrade da música brasileira? Por certo, é. Cabe, claro, lembrar que Noel Rosa, Tom Jobim, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque são nobres no reinado de São João Gilberto. A Bossa Nova, assim como seu principal “articulador”, se articulador era, é um continente muito explorado, mas, inesgotável, ainda a explorar. Há um refinamento na música do verdadeiro rei da música popular patropi que, assim de cara, pensa-se que se trata de coisa simples. Talvez seja o “simples” obtido pela sofisticação. Recluso, JG abria-se com pouca gente, quiçá desconfiado de que os “súditos” não mereciam crédito.
A Bossa Nova e seu criador tiveram sorte ao “cair” nas mãos de intérpretes tão bem-(in)formados e perspicazes quanto Ruy Castro e Zuza Homem de Mello (1933-2020). O primeiro escreveu “Chega de Saudade — A História e as Histórias da Bossa Nova” (Companhia das Letras, 536 páginas). É uma excelente biografia da Bossa Nova e de João Gilberto. Uma bíblia sobre os dois assuntos que, a rigor, são um só. Ainda que a Bossa Nova não tenha sido representada tão-somente pelo criador baiano.
Zuza Homem de Mello escreveu ensaios e dois livros de qualidade sobre a Bossa Nova: “Eis Aqui os Bossa Nova” (WMF, 240 páginas) e “João Gilberto” (Publifolha, 128 páginas). Depois de explicar detida e competentemente a Bossa Nova e seu pai, que também é filho, Zuza Homem de Mello decidiu escrever a biografia de João Gilberto. O livro estava programado para sair pela Editora 34, mas sairá — já está em pré-venda nas livrarias virtuais — pela Companhia das Letras.
“Amoroso — Uma Biografia de João Gilberto” (Companhia das Letras, 344) resulta de toda uma vida dedicada à Bossa Nova e a João Gilberto. É provável que Zuza Homem de Mello soubesse mais a respeito dos temas do que João Gilberto, Tom Jobim e os demais bossa-novistas. O estudioso da música popular brasileira morreu recentemente, mas felizmente deixou a obra concluída.