Meu playground etário foi a década de 70, e nela, numa distraída sexta (lembro que saí da escola feliz pelo dia seguinte ser sábado e, principalmente, meu aniversário), topei numa banca, dei de cara e me apaixonei insanamente pela MAD, a ponto de começar a desviar dinheiro da (minha) merenda escolar pra manter aquele vício mensal. Além da devoção que passei a prestar aos fabulosos (míticos, pronto) artistas publicados pela revista, sempre fui fã do talento, da dedicação e da férrea teimosia de um certo Otacílio d’Assunção Barros, editor da versão brasileira e que esteve bravamente à frente da revista em todas as incontáveis enca(de)rnações editoriais por que ela passou.
De lá pra cá minha admiração só se agigantou, principalmente ao testemunhar o que o Ota fazia pelos quadrinhos e pelo humor — da lavra dele e de centenas de outros, famosos e emergentes, brazucas e gringos, envolvendo edições e reedições de gibis, revistas e livros, curadoria de eventos e o escambau. Sem falar que tive a honra de me tornar seu amigo virtual e não desperdiçar nenhuma oportunidade de conversarmos, sempre que dava. E que conversas.
Ota fez o diabo pra se diversificar, reinventar-se e — à medida que o tempo veio passando e os tempos difíceis chegaram com tudo — buscar formas de subsistência pra sua obra e principalmente pra si próprio. Um gigante do mercado editorial, cada vez mais tratado como pária. É o Brasil. Somos nós.
Pois, de tanta coisa surpreendente que o Ota já fez, nunca, nunca imaginei que nos deixar fosse uma delas.
Ota não merecia o tratamento que recebeu. E nós, que ficamos, não merecemos sua partida.
Tinha que ser numa sexta.