10 filmes geniais para assistir na Netflix e começar a semana com o pé direito

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A natureza humana está sempre envolta por mistério. Desde a concepção, a jornada do homem se caracteriza pela disputa, pela capacidade de conseguir se destacar dos outros, pelo talento de despertar em seu próximo a sensação de que têm alguma coisa em comum, fora a coincidência de estarem os dois no mesmo plano, ainda que rivalizando pela preferência de alguém num cenário específico. Esforçamo-nos por deixar, pelo espaço de um instante que seja, de ser só mais um rosto (feio) na multidão e figurar no centro do palco da vida, acreditando que isso é o que nos faria experimentar a promessa de felicidade de que falou o escritor francês Henri-Marie Beyle, o Stendhal (1783-1842). Muitas vezes, quando percebemos que essa esperança não se concretizou, que o doce pássaro da juventude já batera asas faz tempo e levara consigo o encanto de um semblante outrora fresco, mas hoje sulcado pelo passar dos anos; a harmonia do corpo já não mais vigoroso que agora começa a se entregar à decrepitude; boa parte da energia e do gosto por realizar determinadas atividades, o espírito, porque oco, se quebra. Por essa razão, a velhice para tanta gente é mesmo o naufrágio de que falou certa feita o general Charles de Gaulle (1890-1970), ex-presidente da França entre 1958 e 1969, sobre o marechal Henri Pétain (1856-1851), também ex-chefe de Estado francês de 1940 a 1944, o mais velho mandatário do país até hoje, quiçá o mais velho presidente em exercício do mundo. Pétain tinha tudo para figurar na história como herói durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas passado um quarto de século, vira sua glória se esfarelar ao conferir à República de Vichy uma postura colaboracionista para com a Alemanha de Adolf Hitler (1889-1945) ao longo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Somos sempre os únicos responsáveis por nossos sucessos e por nossas falhas, e ainda que leve o tempo de uma vida, nunca é tarde para se arrepender, mudar e, de preferência, reparar nossos erros. Esse parece ser o último propósito de Francis Joseph Sheeran (1920-2003), ex-combatente da Segunda Guerra Mundial e ex-motorista de um frigorífico que, em almejando mudar de vida, se torna um dos maiores gângsters dos Estados Unidos. Já no fim da vida, morrendo de câncer, Sheeran, protagonista de “O Irlandês” (2019), dirigido por Martin Scorsese, resolve dizer parte do que sabe ao FBI, o serviço federal de investigações americano, talvez por mero — e tardio — desencargo de consciência, ou quem sabe ainda não tivesse se redimido tanto assim e ainda desejasse sentir aquele quase esquecido gosto pela vingança, por sangue, que sempre pautara sua vida. A procura por uma vida de fato mais digna também é a aspiração de Ulisses em “Ya no Estoy Aquí” (2019), do mexicano Fernando Frías de la Parra, que deixou público e crítica em êxtase. “O Irlandês”, “Ya no Estoy Aquí” e mais oito filmes — produzidos entre 2021 e 1975, todos no acervo da Netflix —, demonstram o gênio de muito o que é feito no cinema ao redor do planeta. Só a arte mesmo para nos fazer acreditar que a humanidade, porventura, não seja um caso perdido.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.