7 novos filmaços que acabaram de chegar à Netflix

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Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), filósofo da Grécia Antiga, é, decerto, um dos maiores sábios que a humanidade já produziu. Tendo conseguido estender seu campo de observação aos mais diversos temas, da física à música, da linguística à biologia, passando pela metafísica, pela poesia, drama, lógica, retórica, política, economia e zoologia, Aristóteles chega à ética, ciência que permeia — ou, pelo menos, deveria permear — todas as outras. Aristóteles se dedicou com tal afinco quanto a explicar no que consistiria a disciplina, a mais particular na plêiade dos textos elementares para o conhecimento, que, dentre todas as ricas contribuições de seu gênio a fim de entender e aprimorar a natureza humana, a ética figura como sua menina-dos-olhos — e não por acaso Aristóteles é visto como o fundador da ética. Nas tantas aulas que ministrou sobre o assunto, Aristóteles analisava o comportamento do homem frente a situações extremas, que o desafiavam justamente por seu caráter dicotômico e paradoxal, ou seja, a decisão mais fácil é errada e a mais complexa poderia, muitas vezes, resultar na interrupção da vida, o que gera um problema de vulto. Se o homem deve se empenhar por conservar-se vivo, uma vez que a existência é uma dádiva que lhe concede o Céu — ou a biologia, para os céticos — e, em verdade, nem lhe pertenceria, como ser ético se a ética o impeliria à morte? A resposta, em se tomando apenas a biologia, remeteria à impossibilidade da ética no homem, animal como outro qualquer, que visa, depois do nascimento e do desenvolvimento — no caso específico do homo sapiens, trinta anos depois ou ainda mais —, a reproduzir-se, para dar à sua espécie a chance mais primeva de continuidade, e, afinal, morrer, voltar à terra, de onde tudo vem, em maior ou menor proporção, o que não deixa de ter seu aspecto transcendental; por essa razão, ao falar de ética, Aristóteles prescinde do argumento biológico e chama às falas a metafísica, “a filosofia primeira” — expressão erroneamente atribuída à sua lavra, malgrado tenha sido mesmo ele o polímata que foi mais longe no estudo de uma filosofia que rege todos os outros saberes, a filosofia além de toda filosofia. À luz da metafísica, sobreposta à ética, é que a discussão do bem agir humano ganha sentido, tenham os agentes a crença, a fé, que tiverem. Sempre rogando aos céus por alguém que o redima — e quanto mais pirrônico o sujeito, mais desesperado e histriônico se torna em seu clamor —, o homem encontra na figura de seus iguais uma promessa de dias gloriosos, por mais vã que seja a glória do mundo. É natural que alguns desses personagens agreguem a seu nome fama internacional dado o caráter público de sua atividade e a proeminência com que a exercem, o que fomenta um processo de retroalimentação, isto é, quanto mais famoso, mais admirado, e quanto mais incensado, mais célebre. O alemão Michael Schumacher foi, sem dúvida, o melhor piloto de Fórmula 1 de seu tempo — até porque seu concorrente imediato, o brasileiro Ayrton Senna da Silva (1960-1994), morrera no auge da carreira, aos 34 anos, precisamente no exercício de sua profissão; se tivesse seguido a vida como ela deveria ser, e como ele merecia, talvez a história fosse outra. Nove anos mais novo, Schumacher tinha Senna como espelho, inspiração que, amalgamada a seu talento, o levou a conquistar o campeonato mundial por sete vezes, feito superado pelo inglês Lewis Hamilton apenas em 2020. Boa parte da história do atleta — que encerrou a carreira em 2012 e que, no ano seguinte, foi vítima de um acidente de esqui que o deixou paraplégico — é contada no documentário “Schumacher” (2021), dos diretores germânicos Hanns-Bruno Kammerstöns, Michael Wech e Vanessa Nöcker. Embora a humanidade siga carecendo de um guia, o herói anônimo que protagoniza “O Pai que Move Montanhas” (2021), do romeno Daniel Sandu, se contenta em salvar o próprio filho, que se perdera durante um passeio pelas montanhas geladas da Romênia no inverno. “Schumacher”, “O Pai que Move Montanhas” e outros cinco títulos — cinco lançados em 2021, e os sete recém-chegados à Netflix —, evidenciam, a um só tempo, os lados obscuro e luminoso do homem, esse bicho nefasto e maravilhoso.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.