10 indicações de filmes na Netflix a que todo mundo deveria assistir Chen Hsiang Liu / Netflix

10 indicações de filmes na Netflix a que todo mundo deveria assistir

O espírito humano, cheio de esconderijos, de lugares que muitas vezes nem nós mesmos conseguimos acessar, vai acumulando as muitas experiências pelas quais passamos ao longo da vida, memórias que acabam por nos servir, de um jeito ou de outro, em algum momento, a fim de que possamos manter a salvo a integridade mental. A jornada do homem sobre a Terra é plena de surpresas, eventos inesperados que o colhem, trazendo em seu bojo ora prazer, ora situações infaustas, e mesmo sabendo de tudo isso, a gente não deixa nunca de esperar pelos insólitos da vida, ansiando, por óbvio, que nos sejam doces. Os dilemas existenciais, tão comuns na vida do mais ordinário dos ordinários, nos tiram do prumo ao se prestarem como uma espécie de prova de fogo, a fim de nos fazer descobrir aonde somos capazes de chegar em busca de um ideal, de uma convicção, de um sonho. A natureza humana necessita que lhe deixem abandonar a dureza do mundo da matéria, a austeridade da existência, e rumar para uma dimensão em que tudo soe mais genuíno, paradoxalmente mais racional, em que a vida mesma tenha mais significado — ainda que por um tempo já previamente estabelecido, malgrado o cenário exista somente para aqueles que o podem conceber. A vida para o homem é um constante desafio, sobre o qual tem de se debruçar todos os dias a fim de saber se está fazendo mais acertos ou se está, covardemente, se entregando ao aconchego da falha. O filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) argumentava que não tinha razão de ser uma vida sem pensamento, que a reflexão sobre tudo quanto acontece ao longo de sua trajetória deve ser uma rotina para o indivíduo e, a partir do que se lhe apresentasse do processo, deveria formular alguma ideia organicamente nova, que por sua vez, teria o condão de suscitar novos meios de se enxergar determinado problema, dando fecho ao ciclo. O inconveniente maior em se colocar a recomendação de Deleuze em prática é que, na maior parte dos casos, a alma dos muitos homens que compõem uma sociedade, um povo, uma nação, está tomada por conceitos adulterados a respeito de determinado assunto, o que acaba por exigir muito tempo, empenho redobrado do sistema educacional e, não raro, interferência dos poderes Legislativo e Judiciário quanto a produzir a forma ideal por que devem se guiar os cidadãos. Mesmo pessoas agraciadas com um inestimável talento artístico — que a conduzem a uma vida na qual prestígio e amplo poder aquisitivo tornam-se uma realidade —, passam por experiências abomináveis de discriminação étnica ainda hoje, como se deu com Gertrude “Ma” Rainey (1886-1939), a Mãe do Blues, nos Estados Unidos dos anos 1920; é o que mostra o diretor George Costello Miller em “A Voz Suprema do Blues” (2020), que ainda tem carga dramática extra por ser o último trabalho do ator Chadwick Boseman (1976-2020), mais conhecido por dar vida ao herói Pantera Negra. A indústria alimentícia, segundo defende o sul-coreano Bong Joon-ho em “Okja” (2017), produz muito mais que enlatados cheios de conservantes, edulcorantes e outros aditivos químicos: gera também maus-tratos aos animais (que sacrifica) e uma perversão econômica, uma vez que planta no inconsciente coletivo a demanda por produtos que, embora de baixo custo, não cumprem sua função primeira, ou seja, é comida que não nutre, não é nada. Registros cirúrgicos de seu tempo, “A Voz Suprema do Blues”, “Okja” e mais oito títulos lançados entre 2020 e 2016, os dez na Netflix, são os novíssimos clássicos a que gente tem de dar atenção durante esse curto — e louco — século 21.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix