Os 10 melhores filmes da década para assistir na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Os 10 melhores filmes da década para assistir na Netflix

O homem, infeliz, sempre perdido em meio a um turbilhão de questionamentos que não pode dirimir e confuso por causa dos tantos desejos que não consegue saciar, tem uma necessidade até patológica de ser aceito, precisa que lhe digam como é, como deveria ser e, mais importante, o que lhe cabe fazer para mudar a natureza que lhe consideram nefasta — e essa é uma das tragédias incontornáveis do ser gente. O gênero humano principiou sua jornada no mundo da forma mais desaconselhável que poderia, traindo a confiança que lhe depositara seu próprio Criador, segundo o cristianismo, ou subjugando espécies mais fracas e menos desenvolvidas e, em sendo contrariado, se devotando ao confronto físico com outros indivíduos de sua mesma espécie, num e noutro caso para se manter vivo — ainda assim um cenário nada virtuoso. Irremediavelmente condenada, a humanidade teria alguma possibilidade de se salvar se cada um de nós se apropriasse de seus erros, os assumisse e os reparasse, o que, é uma grande tristeza, jamais irá ocorrer. As transformações de maior vulto pelas quais já passaram as sociedades ao longo do tempo nunca vieram sem o sacrifício de pessoas, ordinárias ou célebres; isto é, o processo evolutivo do homem, que, por óbvio, nunca resta acabado, começa a partir da decisão pessoal de um indivíduo, o que converge para o pensamento do sociólogo germânico Max Weber (1864-1920): uma suposta redenção da humanidade só se daria caso os mais de oito bilhões de habitantes do globo concluíssem, a um só tempo, que alguma coisa em sua vida está fora da ordem, hipótese absurdamente utópica — até porque muita gente passa a vida tentando descobrir qual o seu problema, muitas vezes ululante, e não consegue — quiçá a maioria. A incerteza sobre tudo, a dúvida, a falta de fé pululam na cabeça de todo indivíduo sobre a face da Terra em maior ou menor proporção, e cabe a cada um de nós, seres capazes de absorver do pensamento a reflexão e agir de modo a viver, e não apenas existir. Os dez filmes que recomendamos, todos na Netflix e produzidos entre 2019 e 2013, em alguma medida tratam de escolhas, renúncias, desejo, glória, desonra, pontos sobre os quais se debruça a condição humana no intuito de encontrar o epílogo de seus infinitos dilemas, como o do garoto de “Me Chame pelo Seu Nome” (2017), do italiano Luca Guadagnino, que se descobre apaixonado por um rapaz mais velho e é correspondido, embora sofra por saber que o romance tem data certa para acabar; ou o do velho mafioso de “O Irlandês”(2019), dirigido por Martin Scorsese, que ao se retratar depois de décadas no crime, parece menos infeliz e mais tranquilo para encontrar a morte, a única amiga que lhe sobrara. “O Irlandês”, “Me Chame pelo Seu Nome” e os outros oito títulos da nossa lista figuram entre os melhores da última década, os dez compilados na Netflix, justamente por trazer a lume as histórias que, não só merecem ser contadas, como eternizadas pelo lirismo do cinema.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.