10 obras-primas do cinema asiático aclamadas pela crítica, que você provavelmente não viu, na Netflix Jung Jae-gu / Netflix

10 obras-primas do cinema asiático aclamadas pela crítica, que você provavelmente não viu, na Netflix

Antes um território situado na península de mesmo nome ao nordeste da Ásia, composto por duas nações soberanas ao norte e ao sul, a Coreia sempre viveu sob tensão constante, cenário que se agravou muito a partir de 1950, quando da eclosão de uma sequência de conflitos armados ao longo dos quais os exércitos do Norte invadiram a porção meridional. A Guerra da Coreia só veio a cabo três anos depois, graças a um armistício. Tomando a história oficial por base, a nenhum dos dois foi conferida a vitória, mas ao se analisar o contexto das duas nações no mundo hoje, a hegemonia da Coreia do Sul sobre a irmã do norte é evidente. O país dispõe de um governo democrático, cujo sistema econômico, sempre em visível crescimento, é responsável por garantir à população padrão de vida comparável ao de muitas sociedades europeias e mesmo de algumas cidades dos Estados Unidos. No que diz respeito à arte, nenhuma manifestação do gênero humano é digna de se classificar com tal denominação num regime autocrático — e hereditário! —como o que o povo da Coreia do Norte é obrigado a se submeter há exatos 73 anos. Malgrado seja reconhecida como um país independente desde 9 de setembro de 1948, o que se assiste na Coreia do Norte é um lamentável espetáculo trágico e farsesco, que só se sustenta com a conivência e o silêncio de toda a comunidade internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) à frente. A Coreia do Norte continua negando o que todo o mundo vê — ainda que não tome parte —, e se declara simplesmente como um Estado em que vige um sistema político-econômico fundado no socialismo mais retrógrado, inspirado pelas barbáries do stalinismo mais grosseiro, em que o culto à personalidade do mandatário maior do país mais que dar o tom deve ser observado à risca, sob pena, dizem as autoridades, de prisão. Evidentemente, o castigo vai muito, muito além. A inventividade para o mal vai tão longe que foi criado um termo, Juche, a fim de definir a propalada autossuficiência norte-coreana, que virou lei e passou a constar do arremedo de constituição outorgado em 1972. Segundo a Juche, os poucos meios capazes de gerar alguma renda pertencem ao Estado, que os capitaliza por meio de um universo de estatais e propriedades rurais expropriadas, insuficientes para produzir todo o alimento de que a população necessita, mas servem à perfeição quanto à extorsões, lavagem de dinheiro e delinquências que tais. Como se nota, no lodo em que chafurda a Coreia do Norte não existe nada de que se possa extrair algum proveito, muito menos cinema. A Coreia do Sul, por sua vez, a pouco e pouco, do jeito oriental — e certo — de se fazer as coisas, garante seu torrão junto ao espectador, abordando em filmes produzidos com todo o esmero, temas os mais diversos, de dramas familiares a tramas de zumbi e outros monstros que infernizam a vida da humanidade na telona. Como se percebe, o continente asiático é um mundo, do qual é simplesmente impossível se falar tudo de uma única vez — o que o cinema, por seu lado, faz com a competência de que só ele mesmo é capaz. A saga de um pai austero, ávido por purgar a honra do clã, maculada pelo próprio filho caçula, é o mote de “A Sun” (2019), dirigido pelo taiwanês Chung Mong-hong. O público também é apresentado a outra sorte de desgraça que pode acometer uma família, mesmo num país em avanço ininterrupto do lado de lá do mundo: a pobreza, agudizada pelo descaso com o meio-ambiente, como em “O Hospedeiro” (2006), do sul-coreano Bong Joon-ho. “A Sun” e “O Hospedeiro”, além de mais oito títulos lançados entre 2021 e 2006, os dez no acervo da Netflix, inspiram na gente uma pontinha de esperança na espécie humana quando bem conduzida. Os orientais têm muito a nos ensinar.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix