Tchékhov com tradução direta do russo por Rubens Figueiredo

Tchékhov com tradução direta do russo por Rubens Figueiredo

Anton Tchékhov é um dos maiores contistas e dramaturgos russos. Na prosa curta, não tem rivais na Rússia e, talvez, noutros países. Seus contos estão bem traduzidos no Brasil, tanto por Boris Schnaiderman e Tatiana Belinky quanto, mais recentemente, por Rubens Figueiredo. Porém, salvo engano, suas peças têm sido esquecidas, ao menos em traduções do russo. Rubens Figueiredo traduziu, do russo, para a extinta Cosac Naify (que faz falta; Charles Cosac deveria ressuscitá-la), “A Gaivota”. Por sinal, a Edusp (sim, a editora da venerável USP) publicou a peça “A Gaivota”, com tradução de Barbara Heliodora, e, acredite, está escrito assim: “Título do original em inglês: ‘The Seagull’” e “Título do original em francês: ‘La Mouette’”. Como se sabe, não há, ao se tratar de um escritor russo e que escrevia em russo (Vladimir Nabokov é russo, mas escrevia em inglês e, às vezes, em francês), “originais” em inglês e francês. Curiosamente, talvez devido à experiência da crítica com as nuances do teatro, a versão indireta de Barbara Heliodora não é ruim.

Quatro Peças, de Anton Tchékhov
(Penguin Companhia, 368 páginas)

A peça “Três Irmãs” (ou “As Três Irmãs”) saiu numa tradução de Maria Jacinta, a partir do “original francês”, o mais certo, ou do “original inglês”. As peças “O Jardim das Cerejeiras” e “Tio Vânia” saíram no Brasil pela Editora L&PM, com tradução de Millôr Fernandes. Este informa que sua tradução “se baseia em dez versões diferentes”. Tudo indica que traduziu do inglês ou do francês ou das duas línguas. A tradução do filósofo do humor é tão fluente quanto a de Barbara Heliodora. Ainda assim, é uma tradução indireta. Se não sabia russo, Millôr certamente não conseguiu “adaptar” com precisão a prosa do mestre da terra de Púchkin. Há quem diga que, lendo Tchékhov em francês, fica-se com a impressão de que se está lendo um autor francês, não um russo.

Agora os leitores patropis não terão desculpa para tangenciar o teatro de Tchékhov, pois a Penguin Companhia das Letras está lançando, num único volume (de 368 páginas), “A Gaivota”, “Tio Vânia”, “Três Irmãs” e “O Jardim das Cerejeiras”, em tradução direta do russo, num empreendimento de Rubens Figueiredo. É um dos grandes lançamentos do ano. A palavra “imperdível” perdeu energia, dada sua banalização, mas, no caso, não há como dizer diferente: o lançamento é imperdível mesmo.

Rubens Figueiredo, além da tradução, faz a apresentação e é o responsável pelas notas. Repetindo: i-m-p-e-r-d-í-v-e-l.

Euler de França Belém

É jornalista e historiador.