5 ótimos filmes recentes na Netflix que você pode ter perdido

5 ótimos filmes recentes na Netflix que você pode ter perdido

O ser humano é, certamente, a manifestação de vida mais curiosa a já ter passado pelo mundo. O homem está sempre em busca de autoafirmação, precisa que lhe digam que está no caminho certo, por mais que sua intuição lhe sopre a verdadeira resposta, que seu coração intimamente conhece. Necessitamos de aprovação, temos que saber que estamos agradando. A menor hipótese de decepcionar aqueles que julgamos caros nos apavora. O sentimento de fracasso é, sem sombra de dúvida, um dos venenos mais mortíferos para a vaidosa alma do homem. O convívio em sociedade torna ainda mais profundas as muitas diferenças a nos distanciar. Vivendo no reino das aparências, somos instados a tomar parte num jogo, em que sairia vencedor quem conseguisse o melhor diploma, o emprego mais qualificado, o carro mais moderno, a casa mais suntuosa. Fomos apresentados à aventura da existência sem saber o que teríamos a mostrar, se seríamos capazes de ir além do que nos permite a natureza, a Providência, o destino ou seja lá como se possa classificar. Nascemos cheios de questões muito particulares, muito bem guardadas, de dúvidas, de incertezas, de dilemas existenciais, e isso já seria o bastante para definir o homo sapiens como a espécie mais desgraçada da criação. O infeliz do gênero humano precisa que o avalizem quanto ao que ele é ou deixa de ser, e essa é outra tragédia incontornável do ser gente. As grandes transformações sociais começam dentro de cada homem, daí ser impossível, à luz do pensamento de gênios como o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), uma pretensa salvação da humanidade. A humanidade só se salvaria, irredutivelmente, se cada um de nós se desse conta de suas faltas e se emendasse, o que, é uma lástima, nunca vai acontecer. Cada um é responsável por sua própria redenção — ou sua própria desdita —, sendo sempre possível, evidentemente, arrepender-se, de coração, até o último segundo, tomar um caminho diferente e refazer a vida tanto como possível. A jornada de autoaceitação de um garoto junto àqueles que o amam é o tema de “Boy Erased: Uma Verdade Anulada” (2018), do ator e diretor australiano Joel Edgerton. Uma mulher de meia-idade também parece devotada a dar um novo rumo ao que resta de si, mas, pasmem, enfrenta a resistência da comunidade da cidadezinha que escolhe para abrir seu negócio e tocar a vida, conforme se vê em “A Livraria” (2017), da espanhola Isabel Coixet, dois filmes vibrantes em seu lirismo, como os outros três dessa lista, todos novidades no acervo da Netflix. O relógio nunca para de correr e muitas vezes essas joias vão para o fundo do mar, sem que a gente nem se dê conta. Corra você também e repare esse equívoco.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.