10 filmes premiados na Netflix que farão seu final de semana valer cada segundo

10 filmes premiados na Netflix que farão seu final de semana valer cada segundo

A história do homem é a história de seus problemas. Uma pletora de questionamentos éticos pulula na cabeça de cada indivíduo sobre a face da Terra, e cabe a cada um de nós, seres dotados de razão, tomar a atitude mais adequada a fim de levar a vida adiante. Em “O Suicídio”, obra máxima de Emile Durkheim (1858-1917), o sociólogo francês elabora uma verdadeira gênese da morte achada pelas próprias mãos. Durkheim disserta sobre três formas de suicídio: o egoísta, o altruísta e o anômico. O suicida egoísta é o que comete o ato tresloucado de tirar a própria vida motivado pela completa ausência de vínculos sociais; o suicídio consumado por razões altruístas era corriqueiro em povos ancestrais, a fim de se preservar a unidade de uma sociedade ou de um grupo religioso; e a modalidade da extrema autoflagelação dita anômica se dá quando há uma equivalência entre o aumento das taxas de suicídio e os índices de desemprego e a consequente pauperização de determinados estratos sociais. Pauperização, aliás, era um conceito muito usado por Karl Marx (1818-1883), que o empregava a fim de defender o argumento de que o desastre da humanidade, a Revolução Industrial (1760-1840), foi a responsável pelo empobrecimento galopante do proletariado do mundo inteiro, tornado incapaz de reagir ao avanço das máquinas. Roger Scruton (1944-2020), reconhecia, por óbvio, a importância das máquinas para o desenvolvimento do homem, mas também alegava que com elas o mundo perdera muito de sua ingenuidade, sua ternura e sua beleza, daí a arte não poder nunca prescindir da estrita observação de todos os paradigmas canônicos no que concerne ao requinte estético. Como o suicídio, segundo Durkheim, é a única questão que importa na vida, dada sua complexidade dos pontos de vista sociológico, metafísico e religioso, basta que nos mantenhamos longe, bem longe da perdição irremediável do homem e fiquemos aqui, frente a frente com nossos tantos dilemas vitais. Quem está no mundo passa por dificuldades, em maior ou menor escala, e só não tem crises quem já morreu. Um obstáculo decerto perigoso quanto a se permanecer vivo — e são — é perder um filho, tanto pior como se dera com Martha Weiss, a protagonista de “Pieces of a Woman” (2020), do diretor húngaro Kornél Mundruczó, vivida pela espetacular Vanessa Kirby. Não é menor a agonia de um músico cônscio de seu talento, mas tomado por conflitos de toda ordem, a começar pela cor da própria pele. Esse é o caso do trompetista Levee Green de Chadwick Boseman (1976-2020) em “A Voz Suprema do Blues” (2020), de George Costello Wolfe. “Pieces of a Woman”, que conferiu a Vanessa Kirby, merecidamente, o prêmio de Melhor Atriz do Festival Internacional  de Cinema de Veneza, na Itália; “A Voz Suprema do Blues”, que faturou os Oscars técnicos de Melhor Maquiagem e Figurino, e mais oito títulos, igualmente laureados e todos na Netflix, do mais novo para o mais antigo, reafirmam, ano após ano, a força do cinema e são um programaço para o seu fim de semana. Esqueça os problemas e se concentre nas possíveis soluções. Inspire-se.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.