São muitas as razões pelas quais a gente acaba perdendo a linha, soltando os cachorros no primeiro que aparece, chutando o balde e emporcalhando todo o salão. A vida cada vez mais permeada pela tensão, apuros de dinheiro, doença… Todas essas circunstâncias, em maiores ou menores proporções, deixam a gente jururu, borocoxô, macambúzio, casmurro, ou baixo astral mesmo. O mau humor também se manifesta por causas meramente físicas. A alimentação pobre em fibras e proteínas, presentes nas frutas, verduras e carnes, e que prioriza o açúcar refinado, por exemplo, pode ser um gatilho para o inferno existencial nosso de cada dia. Outro motivo está na falta de exercício, já que o corpo humano foi moldado pelos milhões de anos de evolução para o movimento. Primeiro, éramos obrigados a procurar nossa comida mediante caçadas perigosas; depois, passamos a sair pelo mundo em busca de bons campos a fim de instalar o gado; e, por fim, vimos que o melhor negócio era se estabelecer num lugar que reunisse o cenário ideal para a criação de animais, com solo fértil a fim de cultivar tudo que fosse parar em nossas mesas, e tocar a vida. Até fizemos isso, mas o gênero humano sempre quer, deseja, aspira, mais e mais. Logo chegamos à conclusão de que a vida poderia ser bem melhor fora do campo, fomos para a cidade, nos tornamos parte da selva de pedra que construímos e o tempo para comer de modo saudável, praticar atividade física, contemplar a natureza tornara-se uma doce — e pálida — lembrança. Dá para se voltar ao que um dia fomos? Até dá; o x do problema é saber se o queremos de fato, e tudo indica que a resposta seja negativa. Nas últimas sete décadas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o homem se viciou na comodidade tóxica da vida nos grandes centros, cada vez mais assoberbado de trabalho e, por conseguinte, cada vez mais aborrecido, entediado, frustrado, triste. E vício é a palavra exata para descrever a sinuca de bico das emoções humanas do ponto de vista biológico. O homem não suporta ficar indisposto, refém das descompensações químicas que ele mesmo fomenta. Qual a solução, rápida, por que não há tempo a se desperdiçar? Antidepressivos, ansiolíticos, sedativos… e o ciclo recomeça. Às vezes, a sensação de nó na garganta só se dissipa com a ajuda da medicina, mas na maior parte dos casos, há muitas outras saídas antes de se entregar aos tarjas-pretas da vida. Já pensou em ir a um lugar em que todo mundo tem o mesmo mal que você, discutir ali os seus problemas, ainda que o terapeuta falte? É o que fazem os personagens de “Toc Toc” (2017), do diretor espanhol Vicente Villanueva; mas se você joga no time de quem prefere um besteirol rasgado — e bem-feito —, junte-se aos protagonistas de “Debi e Loide — Dois Idiotas em Apuros” (1994), dos irmãos Bobby e Peter Farrelly, nada bobos. Esses dois filmes e mais oito estão no catálogo da Netflix, do mais novo para o mais antigo. De um jeito ou de outro você vai dar um tempo na cara emburrada (pelo menos até a próxima topada na quina da mesa).
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Vivo, um pequeno primata que se apresenta em números musicais por Havana, em Cuba, vê seu cotidiano virar de cabeça para baixo quando Andrés, seu dono e parceiro nos shows, recebe uma carta de Marta Sandoval, velha colega dos palcos tornada mundialmente famosa. A animação da Sony Pictures, distribuída pela Netflix, aborda o amor sob sua embalagem mais inocente: um bichinho, um velho e uma criança envolvidos na missão de fazer a resposta de Andrés chegar a Marta sob a forma de canção de amor. A vedete está prestes a se aposentar, seu último espetáculo será em Miami e Vivo terá de embarcar numa viagem cheia de reviravoltas. Para que tudo dê certo, ele conta com Gabi, uma pré-adolescente com todos os conflitos dessa fase da vida, antissocial e solitária, mas com uma aflorada paixão pela arte.

Adri leva a vida de um jeito meio inconsequente, pulando de bar em bar e seduzindo o maior número de mulheres que pode, como uma fera insaciável num mundo cheio de opções ao alcance do seu apetite. Certa noite, o garanhão incorrigível aposta com os amigos da madruga que é capaz de conquistar a mulher que eles escolherem. O trato é selado e Adri parte para a sua caçada, sem imaginar que tropeçaria num imprevisto. Entre sua mesa e o balcão surge Carla, por quem se sente atraído imediatamente, ou seja, vai de predador a presa em minutos. Os dois se entendem e deixam o bar, dispostos a viver a noite mais inesquecível de suas vidas. Primeiro, invadem uma festa de casamento, dormem na cama reservada aos noivos e por pouco não são pegos. Cada um corre para um lado, sem nada que garanta que vão se esbarrar outra vez. Ao abordar encontros amorosos fortuitos, “Loucura de Amor” propõe um pacto com o público: nada de elucubrações muito profundas aqui, muito menos juízos de valor acerca do comportamento dos protagonistas. Primeiro, Adri e Carla não estão apaixonados, mas estão, sim, na mesma vibe, e é isso o que importa. Em seguida, há que se tomar o argumento da doença psíquica numa trama tão despretensiosa quanto uma comédia romântica exatamente dessa forma: ninguém está querendo dar lições de moral, tudo é mero entretenimento. E sempre pode acontecer que a partir daí, do entretenimento, se cheguem a conclusões importantes. É o que se tem nessa história de um amor nada sublime, mas intenso.

Ellie é a típica garota interiorana em uma cidade pequena que mora com o pai, um mais solitário que o outro. Excelente aluna, se vale de seu talento para a redação a fim de ganhar algum dinheiro escrevendo textos para os colegas. Numa dessas, recebe a encomenda de Paul, que lhe pede para escrever uma carta romântica para Aster, uma das moças mais bonitas da escola, por quem está interessado. Ellie aceita a tarefa, e, a partir de então, vai se deparar com uma pletora de emoções nada confortáveis.

A vida adulta é uma sucessão de dificuldades. Há que se formar numa boa faculdade, a fim de se ter um diploma que conte, o que não é garantia de se conseguir um bom emprego. Quando se começa a chegar lá, é necessário se mostrar antenado com as muitas transformações do mundo contemporâneo, sem se deixar engolir pelo mercado, cada vez mais competitivo. Por fim, em se afinando todas essas variáveis, cuidar das obrigações sociais: arranjar um bom parceiro, casar e ter filhos. Mas e quando os ponteiros do relógio começam a girar mais e mais depressa, o tempo avança e não acontece nada disso? Sanjay e Karina, dois perdedores, como o mundo os enxerga, não têm dinheiro o bastante para comprar a casa que querem. A solução parece óbvia: o casamento, ainda que nem de longe estejam apaixonados um pelo outro. Eles desafiam as circunstâncias e apostam nisso, sem saber que podem estar mudando suas vidas para sempre.

Pete e Ellie, recém-casados, estão decididos a adotar um filho. Resolvem começar a busca por um evento que promove reuniões entre adultos e jovens sem família, onde conhecem Lizzie, que não se destaca exatamente pela doçura. Lizzie vai com Pete e Ellie, que acabam levando junto os dois irmãos de Lizzie. Os três se mostram bagunceiros e rebeldes, mas mesmo assim, irresistíveis. Surge, inesperadamente, uma família incomum, improvável, um pouco desajustada, mas unida pelo grande amor que logo os faz capazes de superar qualquer adversidade.

Se o atraso de um médico é capaz de provocar tensão entre pessoas ditas normais, quando se trata de gente com um parafuso a menos a situação resvala para a iminência de um verdadeiro pandemônio. A trama aparentemente banal de um grupo de pacientes com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) que aguarda a chegada do psicoterapeuta que os atende tem o condão de revelar as muitas misérias do homem, perdido no mundo em busca de autoconhecimento, sem ser enfadonha, pelo contrário. Enquanto esperam, os pacientes passam o tempo falando sobre o dia a dia nada normal de cada um, se examinam entre si, avaliam quem está melhor ou pior e fazem força para tolerar as loucuras um do outro, sem saber por quanto tempo vão conseguir aguentar esse verdadeiro tormento. Mesmo o espectador mais certinho se reconhece neles em alguma medida, toma o lugar do analista e começa a também perscrutá-los, no intuito de avaliar suas possíveis pequenas insanidades.

A tragédia que colhe Ben muda completamente o curso de sua vida, e ele resolve abandonar a carreira de escritor para se dedicar a cuidar de pessoas com necessidades especiais. Trevor, 18 anos, seu primeiro cliente, é portador de distrofia muscular, o que não o impede de desancar Ben quando tem vontade. Trevor convida o novo amigo a fazer uma viagem, e os dois visitam os lugares que o garoto só conhecia pela televisão. Na estrada, se juntam a eles Dot e Peaches, e a aventura se torna cada vez mais saborosa à medida que redescobrem a vida a partir da importância dos amigos.

David Clark, traficante pé-de-chinelo, leva uma volta e perde o carregamento de entorpecentes que lhe era destinado. Brad Gurdlinger, seu chefe na quadrilha, dá uma nova chance ao malandro, e o despacha para o México, a fim de supervisionar a compra de uma grande quantidade de maconha. Para não dar margem à desconfiança da polícia, David recruta a stripper Rose O’Reilly para passar por sua esposa, junto com Casey e Kenny, que compõem o restante do suposto clã, os Miller, em férias a bordo de um trailer. Até aí, nenhuma dificuldade se avulta no horizonte e o plano parece à prova de erros; os problemas começam quando esses delinquentes nada convencionais não se aguentam e dão asas a seus delírios.

O argumento de “Um Lugar Chamado Notting Hill” soa improvável, afinal quando uma estrela de cinema entraria, como que surgida de constelação qualquer, numa livraria de um bairro pacato de uma Londres que poucos conhecem, assim, sem mais nem menos, e conhece o dono do estabelecimento, um homem simples, que a encanta justamente por sua simplicidade? O insólito do evento prepara uma surpresa e eles logo se interessam mais e mais um pelo outro, duas criaturas tão típicas de seus respectivos habitats. A paixão, sempre possível, une esses dois mundos e agora eles terão de vencer a dureza das circunstâncias para conciliar suas vidas, tão diferentes uma da outra, só por causa do amor.

Filmes com marmanjos bobalhões, incapazes de seguir as tantas regras sociais e donos de um histórico nada linear que os conduziu a uma vida de sucessivos fracassos têm lugar especial no coração do público, tanto mais se interpretados por atores que tornaram uma espécie de ícone justamente por causa desse gênero de personagem. É o caso de Jim Carrey e seu Lloyd Christmas, um ingênuo motorista de limusine que, como o sapo se apaixona pela lua, se encanta por Mary Swanson, uma ricaça que conduz até o aeroporto. Mary esquece de propósito uma mala cheia de dinheiro no saguão do aeroporto, a fim de pagar o resgate do marido, sequestrado. Antes que os sequestradores peguem a valise, Lloyd a recupera e tenta lhe devolver. Como o avião já decolou, ele convence o amigo Harry Dune, outro adorável débil mental, a ir atrás de Mary com ele, dando início a uma jornada repleta de confusão, tiradas nada tolas e algumas surpresas.