Depressão é uma doença psíquica que, quando em estágio avançado, mina a capacidade intelectual e física e pode levar à morte. Já tristeza não tem fim, disse o poeta, acomete do mais contente ao mais casmurro, e sempre passa. Dor de cotovelo, dor de amor, dor de corno — com o perdão da má palavra —, falta de grana, doença na família, espinhela caída, mau olhado, quebranto… Quando vem aquela vibe ruim, o olho ficando rasinho, aquela vontade incontrolável de chorar, chore, chore mesmo, sem medo de ser ou parecer infeliz ou fraco. Se você se importar muito com a opinião alheia, chore na cama quentinha, debaixo das cobertas, com as luzes todas apagadas, mas chore. Só as pedras não sofrem e só a bailarina daquela música não passa perrengue. Em horas como essas, só um filminho cheio de poesia, de romance, uma história leve, permeada de humor na medida para fazer a gente recuperar o moral e tocar as coisas. É justamente a esse fim que se propõem os ditos comfort movies, que nada mais são que filmes com enredos suaves, doces, que dão um quentinho no peito, uma brisa de mar depois de um expediente inteiro de trabalho duro ao longo de uma tarde abafada, quando o relógio avança na direção diametralmente oposta à nossa vontade de continuar a viver, ou quando não se chega a tanto, mas em a vida seguindo numa razão inversamente proporcional aos nossos desejos de como queríamos que ela fosse, é inevitável não se assolar pela frustração. A perda de um amor, a possibilidade de outro amor, não concretizada justamente por não se conseguir esquecer a antiga razão de nosso afeto maior, incomodo que nos leva às raias da insanidade, nos impede de trabalhar e, em se tratando de um artista, implica num irrefreável bloqueio criativo. Quem nunca passou por situação assim? Esse é o tema de “A Última Nota” (2019), do diretor Claude Lalonde que, com suas locações paradisíacas, faz a tristeza mais renitente se desvanecer por completo. Nas circunstâncias em que, ao se defrontar com um grande trauma, tudo com que a gente sonha é um mundo para chamar de nosso, só nosso, “Bem-Vindos a Marwen!” Os sete títulos da nossa lista estão todos no acervo da Netflix, dispostos do mais novo para o lançado há mais tempo, e não obedecem nenhuma outra norma. Esqueça o baixo astral, bote o coração — e a cabeça — em ordem e conduza a vida pelo salão.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix
Vivo, um pequeno primata que se apresenta em números musicais por Havana, em Cuba, vê seu cotidiano virar de cabeça para baixo quando Andrés, seu dono e parceiro nos shows, recebe uma carta de Marta Sandoval, velha colega dos palcos tornada mundialmente famosa. A animação da Sony Pictures, distribuída pela Netflix, aborda o amor sob sua embalagem mais inocente: um bichinho, um velho e uma criança envolvidos na missão de fazer a resposta de Andrés chegar a Marta sob a forma de canção de amor. A vedete está prestes a se aposentar, seu último espetáculo será em Miami e Vivo terá de embarcar numa viagem cheia de reviravoltas. Para que tudo dê certo, ele conta com Gabi, uma pré-adolescente com todos os conflitos da idade, antissocial e solitária, mas com uma aflorada paixão pela arte.
Crítica de teor social, ainda que diluído, em “A Incrível História da Ilha das Rosas” o diretor Sydney Sibilia traz a história verídica do engenheiro Giorgio Rosa, cujos tédio — e indignação — o impelem a fundar uma ilha no litoral da Itália. A ilha é declarada por ele nação independente, o que logo atrai a curiosidade mundial. O governo italiano responde à altura, a ilha e seu patriarca passam à condição de inimigos públicos do país, mas ele segue firme em seu propósito: na Ilha das Rosas a única forma de governo é a aspiração por um mundo melhor, utopia para ele absolutamente possível, embora para tantos o caos seja mesmo quem deve governar com mãos de ferro a humanidade.
Depois de um casamento falido, em que era abusada pelo companheiro, só resta a Clara, fugir, sem nada, levando os dois filhos pequenos. A fim de não apavorar as crianças, ela finge que acabaram de entrar de férias, mas, sem ter nada o que esperar da vida, logo a necessidade os colhe. Os três, completamente perdidos na sociedade amoral, mesquinha e dominada por ególatras na maior cidade megalópole do mundo, passam por maus bocados, só resistindo graças à bondade de estranhos, que se ajudam movidos pelo que há de comum em suas histórias, enquanto tentam viver por mais um dia e não sucumbir aos rigores do inverno de Nova York, à espera de que dias melhores cheguem depressa.
Henry Cole é um virtuose do piano que devotou a vida à carreira. Cole nunca tivera problemas com sua natureza de verdadeira obsessão pelo trabalho, sempre em busca da performance irretocável, mas a morte da mulher o abala especialmente e ele decide interromper suas apresentações. Oscilando entre a vontade de retomar o que faz de melhor na vida e às implacáveis crises de ansiedade, o pianista conhece Helen Morrison, jornalista da revista “The New Yorker” cuja admiração rapidamente dá lugar a um afeto maior, a que Cole não pode corresponder, mas que é imprescindível quanto a retornar aos palcos e retomar sua história, ainda que nada volte a ser como antes.
Depois de sofrer um espancamento por vários homens, Mark Hogancamp entra em coma. Ao recobrar a consciência, ele não se lembra mais dos parentes e amigos. Recuperando-se do trauma muito lentamente, a fim de reaver suas memórias e escapar da depressão que se avizinha, Mark tem uma ideia que lhe parece excelente: constrói a maquete da cidade onde mora, povoando-a com bonecos que ganham vida, fenômeno que reacende nele sentimentos que imaginava mortos para sempre e dos quais passa a se valer para enfrentar sua nova realidade.
Fustigada por um câncer que aos poucos consome sua vida, Deborah Hall tem fé de que vai se curar. Casada com Ron, famoso negociante de obras de arte, ela deseja que o marido se torne amigo de Denver, um mendigo violento, cujo passado remonta a episódios de abuso e exploração. Como nunca deixou de amar a mulher e quer conservar seu casamento, Ron tenta se aproximar de Denver. Contudo, as ilusões românticas de Deborah podem transtornar sua vida.
A proximidade da vida adulta se apresenta particularmente difícil para Nadine, em especial porque ela teve de se defrontar com uma situação nada cômoda: Krista, a amiga em quem sempre pôde confiar, está namorando seu irmão, Darian. Sentindo-se traída e mais solitária do que nunca, ela só encontra algum conforto na nova amizade que a fará encarar o cenário que a vida lhe desenha agora.