George Orwell se tornou aquilo que não gostaria de ser: uma indústria e um produto. A esquerda o reivindica como um dos críticos mais viscerais do capitalismo. De fato, era anticapitalista. A direita o reivindica como crítico radical do totalitarismo de esquerda, do comunismo. De fato, sua obra é uma crítica corrosiva do stalinismo que impregnou quase toda a esquerda no século 20. Os que se apropriam dele e de suas ideias esquecem que o autor da novela “A Revolução dos Bichos — Um Conto de Fadas” e do romance “1984” — duas das principais distopias literárias da história — manteve sua independência firme, avessa a controles. Como morreu em 1950, com 46 anos, não tem como se defender. Mas sua obra, se lida, é o melhor antídoto contra os esquematismos esquerdistas e liberais — os tais “grileiros” de suas ideias. É sua defesa.
Recentemente, quiçá numa tentativa de vender exemplares — o mercado editorial e livreiro vai mal —, procedeu-se, em jornais brasileiros, a uma discussão empobrecedora a respeito do título “A Revolução dos Bichos”. O “novo” título, seguindo o original, é “A Fazenda dos Animais”. A desconstrução do título anterior é uma tentativa, das mais bisonhas, de descaracterizar a crítica de Orwell ao totalitarismo de esquerda. Porque o “conto de fadas” é um retrato satírico e corrosivo da Revolução Russa de 1917 e seus desdobramentos (o stalinismo), que, como Saturno, devorou seus próprios filhos. Os resenhistas deveriam ter discutido duas questões, o que não fizeram: primeiro, as traduções têm ou não qualidade?; e, segundo, se as versões atuais revelam que a anterior havia sido distorcida. Não há a menor dúvida de que a tradução de Paulo Henrique é de excelente nível, mas a anterior, de Heitor Aquino Ferreira, não faz feio. Há várias versões recentes, como a de Denise Bottmann (edição da L&PM), uma tradutora categorizada. Então, se o conteúdo não sofreu alterações, a discussão sobre o título é irrelevante. Mas o “debate” tem a ver com o que se disse no primeiro parágrafo — com as apropriações das histórias e ideias de Orwell.
Em Portugal, o livro ganhou o título de “A Quinta dos Animais”. Mas “A Revolução dos Bichos” permanece um título perfeito — até melhor do que o dado por Orwell. Capta a essência da história, a relatada, e da História, o stalinismo em ação.
Se as obras de Orwell estão chegando ao Brasil, em edições às vezes caprichadas, as biografias e livros de crítica chegam a conta-gotas, quando chegam. No livro “George Orwell — Biografia Intelectual de um Guerrilheiro Indesejado” (Edições 70, 439 páginas), a portuguesa Jacinta Maria Matos, professora da Universidade de Coimbra, faz um apanhado dos livros sobre o escritor e sua obra.
Por mais que seja vulgarizado, “Orwell ainda é um autor desconhecido”, sustenta Jacinta Maria Matos, no seu excelente livro. “Orwell é um daqueles escritores cuja obra se autonomizou em relação ao seu criador e passou a pertencer ao domínio público.”
Querem “controlar” Orwell, apresentando-se como porta-vozes do escritor e de sua obra. Entretanto, postula Jacinta Maria Matos, o autor era um homem “sempre-em-pé”, desses que “ninguém consegue domesticar ou calar”. A biógrafa assinala que, “às vezes, fica-nos a sensação de que não é ele quem fala, antes passou a ser um daqueles bonecos de ventriloquista a quem todos emprestam a sua própria voz”. O homem, como intelectual e, digamos, político, era “incômodo” — “por escolha própria, durante toda a vida”. Ele marchava “ao lado do exército sem integrar suas fileiras, acompanhando a luta, mas sempre pronto a desertar”. O próprio Orwell escreveu: “O melhor significado de liberdade é ter o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir”.
No capítulo final do livro, “Bibliografia selecionada e comentada”, com 15 páginas, Jacinta Maria Matos arrola o que de melhor se escreveu sobre Orwell e sua obra. A mestre é posicionada e incisiva. Vou seguir seu roteiro, acrescentando obras não citadas e mostrando o que se tem em português.
Biografias de Bernardo Crick e Jeffrey Meyers
Eric Arthur Blair, verdadeiro nome de Orwell, deixou um testamento com o seguinte teor: “Se houver sugestões nesse sentido, peço que não se realize qualquer cerimônia fúnebre depois da minha morte, nem que se escreva a minha biografia”. O tcheco “faustiano” Franz Kafka, que escrevia no alemão de Goethe e Rilke, pediu ao amigo Max Brod que queimasse seus originais. Como amigo da cultura, Brod não atendeu e publicou sua magnífica obra e nós, leitores, só temos a agradecê-lo pela “traição do bem”. Orwell também não foi atendido, felizmente. Porque sua vida, de tão singular, tem ares de ficção. Mas, bem contada, fica-se sabendo que é tudo, ou quase tudo, verdade.
Os primeiros a vasculharem a vida de Orwell foram Peter Stansky e William Abrahams, que lançaram, em 1972, “The Unknown Orwell” e, em 1979, “Orwell. The Transformation”. Os críticos americanos pontuam que há conexões entre a vida e a obra, mas que, apesar disso, “o Blair histórico e o Orwell escritor são entidades diferentes, devendo ser claramente diferenciadas”, anota Jacinta Maria Matos, que concorda com os autores.
Bernard Crick é o autor da segunda biografia, “George Orwell. A Life” (Sutherland House, 500 páginas), de 1980. “É o melhor estudo biográfico do autor. Tendo acesso ao espólio, cedido pela viúva (pelo menos até os dois se desentenderem), Crick é exemplar na extensão e solidez da investigação feita, no equilíbrio conseguido entre a descrição da vida e a consideração da obra, no seu entendimento profundo da dimensão política e ideológica do autor e sobretudo na distância crítica que demonstra ter relativamente à figura. Um clássico não só sobre Orwell, mas também da biografia como gênero, a obra estabeleceu uma bitola a partir da qual se medem todas as outras (e poucas lhe chegam aos calcanhares…)”, escreve Jacinta Maria Matos
“George Orwell — Biografía Autorizada” (Emecê, 516 páginas, tradução de César Aira, de 1991), de Michael Shelden, é, na avaliação de Jacinta Maria Matos, uma hagiografia.
“Shelden foi o primeiro biógrafo a ter à sua disposição o espólio completo, facultado pela firma que, depois da morte de Sonia Orwell, o passou a gerir e controlar”, informa a biógrafa. “Demasiado subserviente e frequentemente acrítica, a obra acaba por não prestar favor nenhum nem a Orwell nem a quem a ‘autorizou’.” Não há dúvida de que a scholar portuguesa — uma mestre (orientada pelo escritor David Lodge) pela Universidade de Birmingham e doutora — é uma estupenda crítica de Orwell e de seus críticos. Trata-se mesmo de uma biografia de quase-santo, mas, para o leitor comum, não aficionado pelas polêmicas acadêmicas ou não, é uma obra que informa bem.
Convém lembrar que o grande crítico V. S. Pritchett escreveu que Orwell era “a fria consciência de uma geração… uma espécie de santo”.
O jornalista Ricardo Bonalume Neto (pena que tenha falecido tão cedo) escreveu um opúsculo, “George Orwell — A Busca da Decência” (Brasiliense), de 1984, que certamente é tributário do livro de Bernard Crick. É uma boa introdução ao universo do escritor.
A biografia “Orwell — La Conciencia de Una Generación” (Ediciones B, 443 páginas, tradução de Maria Dulcinea Otero), de Jeffrey Meyers, “merece-me algumas reservas, sendo indubitavelmente uma ‘biografia de tese’, organizada de modo a provar que Orwell teve, durante toda a vida, uma ‘pulsão de morte’ ou impulso suicidário. Discordando desta leitura (por legítima que seja), mais grave me parece a leitura forte e exclusivamente orientada nesse sentido que Meyers faz de todo o percurso biobibliográfico do autor”.
Para o leitor brasileiro, o que não é apontado por Jacinta Maria Matos, há uma informação interessante. Jeffrey Meyers relata que a brasileira Mabel Robinson Fierz, filha de ingleses e nascida no Rio Grande do Sul, foi decisiva na publicação do primeiro livro de Orwell, “Na Pior em Paris e Londres”, de 1933. Os dois eram amigos e chegaram a ter um affair.
“George Orwell”, de Gordon Bowker, e “Orwell. The Life”, de D. J. Taylor, “em termos factuais pouco somam ao levantamento já anteriormente realizado por Crick”, sugere Jacinta Maria Matos. Entre as duas, ambas de 2003, a de Bowker seria “mais fiável”.
“Sonia Orwell — La Chica del Departamento de Ficción” (Circe, 214 páginas, tradução de Xoán Abeleira), de Hillary Spurling, conta a história da última mulher de Orwell. Ela havia sido namorada do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. O livro contribui, de alguma maneira, para se entender sobretudo como se dava o relacionamento do escritor com sua mulher e seu filho adotivo, Richard.
O livro de Jacinta Maria Matos é de 2019, portanto não havia como citar uma biografia de 2020, “Orwell — Um Homem do Nosso Tempo” (Tordesilhas, 356 páginas, tradução de Renato Marques de Oliveira), de Richard Bradford. O livro esclarece, de vez, que Orwell nunca foi dedo-duro de companheiros ou ex-parças da esquerda.
Estudos de Raymond Willians e Peter Davison
Depois de apresentar as biografias, Jacinta Maria Matos examina os “estudos críticos” da obra de Orwell.
“The Making of George Orwell. Na Essay in Literary History” (1969), de Keith Alldritt, fornece, registra Jacinta Maria Matos, “análises detalhadas e argutas de muitas das obras do autor. Vale também a leitura de “Orwell” (1965), de Edward M. Thomas.
“George Orwell: The Critical Heritage”, organizado por Jeffrey Meyers, “reúne recensões críticas das obras de Orwell até o final da década de 1960, sendo instrumento indispensável ao estudo da sua recepção contemporânea”, postula Jacinta Maria Matos.
“George Orwell. A Collection of Critical Essays”, coligida por Raymond Williams, “seleciona os melhores ensaios sobre o autor, integrando alguns (como o de Isaac Deutcsher e o de Richard Hoggart) que se revelaram como particularmente influentes em toda a crítica subsequente”.
Para a biógrafa, Raymond Williams é “um dos melhores críticos de Orwell. “O seu ‘Orwell” (1971) é ainda hoje uma obra de referência obrigatória para quem queira fazer investigação sobre Orwell. Williams não só lhe faz jus como grande ‘mestre’ das letras, mas também o torna relevante para os Estudos Culturais. (…) Este estudo seminal comporta a dimensão política, literária e cultural do autor, uma visão abrangente, perspicaz e sempre certeira nas suas críticas e reservas sobre a figura”.
Jacinta Maria Matos não arrola o livro “O Ministério da Verdade — Uma Biografia de 1984” (Companhia das Letras, 488 páginas, tradução de Claudio Alves Marcondes), de Dorian Lynskey. A obra contém tudo ou quase tudo sobre o livro. Portanto, o leitor que aprecia o romance, uma análise do totalitarismo — sim, não apenas do soviético; o fascista também —, tem de tratar o livro como imperdível. A obra saiu no Brasil em 2021.
A coletânea “George Orwell’s 1984”, organizada pelo crítico literário Harold Bloom, merece leitura “pela qualidade e variedade das contribuições que a integram”, pontua a mestre.
“Os estudos da linguagem e da retórica presidem à análise de Lynette Hunter, ‘George Orwell, The Search for a Voice’. A emergente área dos estudos sobre os media surge claramente em ‘Orwellian Language and the Media” (1988), de Paul Chilton”, arrola a biógrafa.
“A tendência formalista e estruturalista tem em David Lodge e na sua análise de ‘A Hanging’ (em ‘The Modes of Modern Writing. Metaphor, Metonomy and the Typology of Modern Literature”, de 1977) um distinto praticante, que, no seu questionar da noção tradicional de ‘literariedade’, abriu novas perspectivas de análise da produção não-ficcional do autor”, diz a crítica.
“A crítica psicanalítica fez-se representar pelo estudo de Richard Smyer, ‘Primal Dream and Primal Crime. Orwell’s Development as a Psychological Novelist”, de 1979.
Ian Slater, em “Orwell. The Road to Airstrip”, “divide a obra orwelliana em zonas geográficas (‘Burma’, ‘Espanha’, etc.) e as entende como etapas do percurso simbólico em direção a ‘Nineteen Eighty-Four’ [1984]. Algo determinista, no pressuposto de que tudo converge para o último romance, ainda assim uma interpretação sugestiva e refrescada da vida e obra de Orwell”.
Jacinta Maria Matos cita o título de um livro de John Newinger em inglês, “Orwell’s Politics” (de 1999). A autora não diz o motivo, mas consultando a edição portuguesa se entende a razão. Eis o título: “George Orwell — Uma Biografia Política” (Antígona, 284 páginas, tradução de Fernando Gonçalves). O original não cita a palavra biografia.
Um trecho do livro de John Newsinger por certo agradará a esquerda brasileira, às voltas com o debate sobre o título de “A Revolução dos Bichos” e o uso político do livro, em tempos de Guerra Fria: “Como observou Tony Shaw, ‘a obra de Orwell ocupou lugar de destaque’” na “‘cruzada verborreica’ [das agências secretas dos Estados Unidos e da Inglaterra]. A CIA deu o seu apoio a este empreendimento, com Dean Acheson, nem mais nem menos do que o secretário de Estado nessa altura, mostrando-se interessado, em 1951, na publicação de ‘A Quinta dos Animais’ em vietnamita e em português (edição destinada ao Brasil)”. A informação está nas páginas 12 e 13.
Em seguida, John Newsinger sustenta que “a preocupação de Orwell era mostrar que a União Soviética se comportava como as potências imperialistas e que, no fundo, se tornara indistinguível destas”. A visão do escritor, que criticava o comunismo e o capitalismo, não agradou inteiramente à CIA, que, claro, preferia “ataque” apenas ao primeiro.
O livro “Absent Minds. Intellectuals in Britain” (de 2006), de Stefan Collini, contém um capítulo “à posição de Orwell enquanto intelectual público e às suas controversas críticas do mundo da intelectualidade sua contemporânea”.
Os ensaios de Orwell, em geral notáveis, estão sendo publicados no Brasil, como a coletânea “Dentro da Baleia e Outros Ensaios” (Companhia das Letras, 227 páginas tradução de José Antônio Arantes, e organização de Daniel Piza. Há também a tradução de Karla Lima para a Editora Tricaju). Nesta obra, há textos muito bons, como “Lear, Tolstói e o Bobo” e “Política versus literatura: uma análise de ‘Viagens de Gulliver’” e “Dentro da baleia”. “George Orwell the Essayist. Literature, Politics and the Periodical Culture”, de Peter Marks, é “o primeiro estudo inteiramente dedicado à ensaística orwelliana”. Jacinta Maria Matos ressalva, porém, que a análise é “demasiada descritiva e simplisticamente parafrásica”, e “esquece as ligações interativas entre eles e as conexões com a ficção, mas tem o mérito de fornecer elementos preciosos sobre a cultura das revistas e periódicos que Orwell integrou e em que ativamente participou”.
A crítica feminista examinou a obra de Orwell, apontando que trata a mulher de maneira “condescendente, paternalista e sexista”. “Daphne Parai foi a primeira a notar estas falhas em ‘The Orwell Mystique. A Study in Male Ideology”, de 1984. Beatrix Campbell, no livro “Wigan Pier Revisited. Poverty and Politics in the 1980s”, aponta “a ausência da mulher nos relatos sobre a Depressão em geral, e no de Orwell em particular”.
“A Vitória de Orwell” (Companhia das Letras, 204 páginas, tradução de Laura Teixeira Motta), de Christopher Hitchens, é citado por Jacinta Maria Matos. A biógrafa frisa que o ensaísta “se assumiu sempre como herdeiro direto e discípulo dileto de Orwell”.
“Hitchens revela uma colagem demasiada ao seu mentor, desculpando Orwell mesmo quando este disso não precisa, nem deve ser desculpado. De todo o modo, o seu incondicional entusiasmo resulta em leituras muitas vezes inspiradas do autor e da sua estirpe”, anota Jacinta Maria Matos.
Os dois melhores críticos de Orwell, de acordo com Jacinta Maria Matos, são Peter Davison e John Rodden. “O primeiro é o responsável pela edição de ‘The Complete Works’ [a obra completa], trabalho exemplar pelo rigor, exaustividade e cuidado editorial postos nessa monumental tarefa.”
Peter Davison é autor de “George Orwell. A Literary Life” (de 1996), que, segundo a biógrafa, “é um brilhante estudo de Orwell enquanto figura das letras”. Outro livro do autor, “The Lost Orwell”, frisa a pesquisadora, “reúne documentação vinda a lume depois da publicação das obras completas”.
A crítica Jacinta Maria Matos, cujas análises da obra e da vida de Orwell são agudas e originais, afirma que “John Rodden é indisputavelmente o melhor crítico orwelliano da atualidade. Inteligentemente, e perante um campo de estudos cada vez mais sobrecarregado, Rodden deu passos atrás, produzindo uma visão metacrítica do autor, refratada e mediatizada pelos discursos que a foram criando.”
Nenhum livro de John Rodden mereceu tradução no Brasil. Podem ser lidos em inglês: “The Politics of Literary Reputation. The Making and Claiming of ‘St. George’ Orwell”, “Scenes From and Afterlife. The Legacy of George Orwell”, “George Orwell. Into the Twenty-First Century” e “Every Intellectual’s Big Brother. George Orwell’s Literay Siblings”.
“Rodden consegue sempre imprimir algo de novo a cada estudo que dedica a Orwell, consolidando a centralidade da sua intervenção no mundo da crítica orwelliana”, elogia Jacinta Maria Matos.
Em português há dois livros que merecem leitura, até pelo caráter inusitado. “Churchill & Orwell — A Luta pela Liberdade” (Zahar, 335 páginas, tradução de Rodrigo Lacerda), de Thomas E. Rick. O jornalista aproxima duas figuras distintas — Orwell, de esquerda (nunca foi de direita), e Churchill, de direita — que se aproximavam na defesa da liberdade. “Seus caminhos jamais se cruzaram, mas eles se admiravam mutuamente à distância, e, quando chegou o momento de escrever ‘1984’, George Orwell batizou seu protagonista de Winston. Segundo os registros, Churchill gostou tanto do livro que o leu duas vezes”. O historiador Simon Schama apresenta os dois britânicos como “arquitetos do seu tempo” e “os mais improváveis aliados”.
O segundo livro é “O Mesmo Homem: George Orwell e Evelyn Waugh — No Amor e na Guerra” (Difel, 297 páginas, tradução de Pedro Jorgensen), de David Lebedoff. A obra reúne, sugerindo conexões, apesar das diferenças, um conservador, Evelyn Waugh, e um homem de esquerda, George Orwell.
Na lista dos melhores estudos sobre Orwell figura o de Jacinta Maria Matos. Seu livro é uma “biografia intelectual”. A doutora de Coimbra publicou também de “Pelos Espaços da Pós-Modernidade — A Literatura de Viagens Inglesa da Segunda Grande Guerra à Década de Noventa” (Afrontamento, 276 páginas).
A melhor obra sobre George é a obra de Orwell? Talvez sim. Talvez não.
Editoras e tradutores do escritor britânico
A editora Companhia das Letras está prestando um inestimável serviço de utilidade pública aos leitores brasileiros: está publicando a obra de Orwell, com edições bem cuidadas e, por vezes, com apresentações e traduções de alta qualidade. Outras editoras também estão publicando a obras de Orwell, que caíram em domínio público. A prioridade da maioria tem sido “A Revolução dos Bichos” e “1984”, mas os ensaios também estão sendo publicados.
Editoras que estão publicando a obra de Orwell no Brasil: Aleph, Arqueiro, Buzz, Companhia das Letras, Faro Editorial, Garnier, Globo Livros/Biblioteca Azul, L&PM, Leya, Melhoramentos, Nova Fronteira, Novo Século, Principis, Tricaju, Troia, Via Leitura.
Tradutores do escritor britânico no país: Alexandre Barbosa de Souza, Alexandre Hubner, Aline Storto Pereira, Ana Helena Souza, Bruno Cobalchini Mattos, Bruno Fortunata, Bruno Gambarotto, Claudio Blanc, Daniel Luhmann, Débora Fleck, Debora Isidoro, Denise Bottmann, Fernanda Abreu, Heitor Aquino Ferreira, Heloisa Jahn, Jorge Bastos Cruz, Karla Lima, Luisa Geisler, Nicolas W. Santos, Paulo Henriques Britto, Pedro Maia Soares, Pete Rissatti, Ronaldo Bressane e Sandra Pina.
Origem do nome George Orwell
Eric Arthur Blair nasceu em Motihari (Índia Britânica), em 25 de junho de 1903, e morreu em Camden, Londres, em 21 de janeiro de 1950. Aos 46 anos. Era uma espécie de Rimbaud da esquerda (não procede que o escritor tenha se tornado direitista; se tornou, isto sim, cético em relação ao comunismo de matiz soviético).
No livro “Orwell — La Conciencia de una Generación” (páginas 131 e 132), Jeffrey Meyers relata que, com receio de “envergonhar” a família e querendo criar “uma imagem profissional”, decidiu se tornar escritor (com o livro “Na Pior em Paris e Londres”) com o nome de George Orwell. Pensou em P. S. Burton, Kenneth Miles e H. Louis Allways (quase o escolhido). Depois de muito refletir, decidiu por “Orwell” — o nome “de um rio que flui dede Ipswich até o mar do Norte e que também dá nome a uma villa próxima a Cambridge”.
“Ao abandonar o nome de Eric Blair, Orwell não se converteu numa pessoa diferente”, pontua Jeffrey Meyers. Na verdade, o escritor “se distanciou da família, de St. Cyprian’s, de Eton [onde estudou], Birmânia e todas as associações desagradáveis de sua vida anterior”.