Já faz um tempo que eu tenho o hábito de dar livros que amo para as pessoas mais importantes da minha vida. E toda vez que o presente é “Americanah”, da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, rola uma conversa no pós-livro, tamanha é a força dessa história.
Não foi por “Americanah” que eu conheci Chimamanda. O primeiro livro dela que eu li foi “Hibisco Roxo”. Comprei mais pela capa, confesso. E pelo hibisco. Quando eu era criança vivi numa casa que tinha essa árvore. Me surpreendi com a delicadeza da autora ao narrar cenas de violência de tirar o fôlego na família da adolescente Kambili. Chimamanda tem o dom de transformar questões locais em temas universais. Mesmo que você não tenha conhecimento da cultura Igbo, por exemplo, você consegue entender e sentir os personagens.
De “Hibisco Roxo” fui direto para “Americanah”, que virou, pra mim, um livro da vida. É uma história maravilhosa daquelas que você não consegue largar. A jornada de Ifemelu da Nigéria para os Estados Unidos e depois de volta pra casa é cheia de emoções. Pra não dar spoiler, vou falar de um dos momentos mais marcantes que é a eleição de Barack Obama. Pelas mãos de Chimamanda fui às lágrimas revisitando o momento.
“Americanah” dá uma aula de racismo, machismo, xenofobia e ainda tem uma linda história de amor. Como Chimamanda conseguiu isso tudo num livro só? Ela conseguiu porque é genial.
E o mais incrível é o efeito que essa história provoca nas pessoas. Eu, por exemplo, comecei a ler muito mais sobre racismo. Uma amiga branca ficou obcecada e queria saber de todos os amigos negros se as diferenças que rolam nos Estados Unidos acontecem no Brasil. Outras pessoas me ligaram pra falar que queriam viver uma história de amor como aquela ou que se identificaram com a xenofobia. É realmente um livro que tem o poder de fazer você repensar a sua postura diante da vida, das pessoas, e de todos os seus “ismos”.
Pra não ficar só nestes dois livros dessa autora que também é feminista vou deixar aqui outros trabalhos dela que eu gosto muito: “No Pescoço” — que é uma seleção de contos — e “O Perigo de uma História Única” — que é um Ted Talk da escritora.
Recentemente, o programa Roda Viva, da TV Cultura, trouxe Chimamanda como entrevistada. Entre muitos assuntos, ela contou que já tinha vindo ao Brasil numa feira literária e comentou a falta de pessoas negras nos lugares que frequentou por aqui. Na feira, nos bares e restaurantes. Chimamanda trouxe uma reflexão sobre como a questão do racismo é mal resolvida no Brasil. Falou também sobre o processo de escrita e foi fantástico ouvi-la.
Chimamanda pra mim é daquelas escritoras que toca a alma de uma forma tão afável que te transforma. É leitura pra qualquer hora.
Beatriz Prates é jornalista e diretora geral do MyNews.