10 filmes anarquistas na Netflix que valem cada segundo do seu tempo

10 filmes anarquistas na Netflix que valem cada segundo do seu tempo

Anarquia: sistema de governo em que não há governo. A ideia, um paradoxo teratológico que dá azo ao que pode haver de pior na política e, por extensão, na vida em comunidade expressa bem o quão complexo é lidar com os desejos mais distintos e as mais urgentes necessidades do homem. Existem os que defendem que se cada um cuidasse dos seus próprios interesses, cumprisse com suas obrigações sem que fosse necessário que alguém o mandasse, o mundo seria um lugar muito melhor. Será mesmo? Qual o sentido de a humanidade ter passado por tudo o que passou, guerras, miséria, fome, indisposições sociais as mais diversas, para ao cabo sermos todos forçados a ter de desenvolver um talento para o qual não fomos talhados? É uma verdade irrefutável que pela leniência de seus líderes com a corrupção, a incúria, o desleixo com a coisa pública, a falta de decoro dos donos do poder, a democracia degringola em um regime que, na prática, deixa uma nação acéfala, sem governo, sem freio rumo ao precipício. No entanto, ainda que repleta de defeitos, a democracia é, sim, a melhor das piores formas para se gerir um país. Por outro lado, em se falando de um ponto de vista estritamente individual, louve-se, grite-se em favor da natureza libertadora, transformadora da anarquia. Felizmente, passaram pelo mundo muitos anarquistas que honraram essa sua índole de absoluto descompromisso com o que quer que fosse. Decerto um dos maiores anarquistas que o Brasil já conheceu foi o músico Raul Seixas (1945-1989), que personalizava como poucos o melhor da filosofia do pouco caso com o estabelecido, de um jeito meio cínico, meio debochado, mas dizendo grandes, avassaladoras verdades. A metamorfose ambulante, que não tinha opinião formada sobre quase coisa nenhuma, mas que abalava corações e mentes com seu timbre rasgado é o protagonista do documentário “Raul, o Início, o Fim e o Meio” (2011) de Walter Carvalho, que registra passagens épicas da vida do Maluco-Beleza, esse, sim, um verdadeiro anarquista, graças a Deus. Já o caráter deletério do modo de ser que enaltece a falta de limite também pode ser conferido na história do cinema. É o caso de “Massacre no Bairro Chinês” (2009), do diretor Tung-shing Yee, sobre uma desilusão amorosa que descamba para tudo o que não é amor. Esses e mais oito filmes que exaltam, criticam, refletem sobre a geleia geral da vida compõem a nossa lista dos dez de hoje, todos disponíveis na Netflix e em ordem contra-cronológica, do mais recente para o mais antigo, sem nenhum outro critério, bem ao modo anárquico de ser. Agora, é só se ajeitar no sofá, e ir conferindo um por um, sem pressa e na ordem que você preferir, afinal, a anarquia está declarada!

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.