Autor fundamental da literatura moderna de horror em língua inglesa, o britânico Robert Aickman (1914-1981) publicou boa parte de sua produção ficcional entre os anos 1950 e 1980, inclusive as 48 “Strange Tales” (Histórias Estranhas) que o consagraram como um mestre do insólito. Ao longo das três décadas em que publicou suas histórias, Aickman apresentou uma arrojada abordagem de tramas insólitas, muitas vezes borrando os limites do terror, do weird e do gótico. Embora apresentem elementos do gênero fantástico, como vampiros, feiticeiras, possessões, mortos-vivos e entidades desconhecidas, seus contos dissecam situações supostamente banais e destilam atmosferas sufocantes onde nada é o que parece.
Seus enredos variam os pontos de partida para sempre levar seus personagens ao limite do desconhecido e do estranhamento: um motorista que se perde na estrada e passa a noite num estabelecimento indescritível, um pintor atormentado por um encontro sinistro, uma senhora que se descobre em um hotel para insones, a primeira (e aterrorizante) experiência sexual de um rapaz, uma cidade que encobre um segredo macabro, uma ilha grega que abriga três mulheres sedutoras e de onde ninguém sairá impune de seu destino…
Por meio de sua escrita rica e envolvente, Aickman amplifica os sentidos e as possibilidades das marcas reconhecíveis do horror a partir de encadeamentos narrativos cuja clareza contrasta com o enigma proposto. Alguns escritores contemporâneos assumem sua admiração pela obra do britânico justamente por esses aspectos. Neil Gaiman, um dos autores mais celebrados dos últimos anos, já disse que “ler Aickman é como assistir à apresentação de um mágico, e muitas vezes nem sei qual foi o truque que ele usou. Sei apenas que ele o fez de modo brilhante”. A premiada argentina Mariana Enriquez afirmou que seu contista favorito é Aickman, tendo absorvido dele alguns aspectos do estranhamento que se percebe nas narrativas dela. Outros nomes a celebrá-lo constantemente são Ramsey Campbell, Peter Straub, S.T. Joshi, Lisa Tuttle, Fritz Leiber e Roald Dahl, para citar apenas alguns.
Por décadas o autor permaneceu inédito em português, ao menos até 2021, quanto as editoras Ex Machina e Sebo Clepsidra se uniram para trazer ao Brasil a coletânea Repique Macabro e Outras Histórias Estranhas. Para o primeiro livro de Robert Aickman em português, foram reunidas nove narrativas de várias épocas da carreira do autor, entre elas a premiada “Páginas do diário de uma menina” — que lhe rendeu o World Fantasy Award de melhor conto em 1975. Repique macabro e outras histórias estranhas reúne um conjunto de ficções consideradas “autênticas obras-primas” pelo autor e pesquisador inglês Philip Challinor, que assina o posfácio da edição. Challinor diz que as histórias selecionadas pela edição brasileira representam “o estilo singular, ricamente alusivo e consideravelmente desconcertante” de Aickman.