Os brasileiros gostam de galhofa. Você há de convir que isso é uma verdade universal; ressoa aos quatro cantos, de norte a sul, e ecoa para todos no planeta. Estamos falando do campo fértil para grávidas de Taubaté e ETs Bilus tornarem o escracho uma maneira de alcançar o estrelato. A seriedade e o compromisso, por aqui, precisam ser selados, registrados, carimbados, avaliados e rotulados se quiserem medrar. E ninguém parece querer que isso ocorra, convenhamos. Nesse universo de descalabros, registram-se expiradas meio milhão de vidas nacionais. Estamos pagando com sangue pelo apreço à zoeira.
Analise, querido leitor, quem somos eu e você perante o vasto campo de atuação da malandragem, do pouco caso e do oportunismo. Não somos ninguém. Talvez, apenas números. Estatísticas. E somos, ao mesmo tempo, os maiores responsáveis para que a engrenagem dessa parafernalha logre êxito. Um ponto à observação: a palavra “parafernalha” sequer existe para o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Mas não há termo mais perfeito para designar o escárnio à nossa volta. É ele tão vivaz e válido para o português castiço quanto a nossa credibilidade é para com os outros países do globo. Estamos no lucro, ora bolas. Nada mal. Contudo, voltemos aos meios.
Do namoro com a vicissitude prospera a ignorância abundante. O descaso com a educação propiciou o calabouço de nossas virtudes. Saibamos reconhecer: o plano deu certo. Estava tudo armado para a festa pobre, de convidados ilustres, esturdiar a nossa República. Faltava, apenas, uma pitada de crueldade. E, nesse quesito, sempre somos primorosos em dobrar a meta. Do monturo ergueu-se um desalmado. Junto com ele, o vilipêndio do que nos ainda restava de dignidade. Nos registros, os apoios jamais serão apagados. Até lá, torçamos por nossa sobrevivência. Não tiveram a mesma sorte quinhentos mil dos nossos.
Beethoven escreveu a “Eroica”, em velada homenagem a Napoleão. Aguardemos, ansiosamente, qual funk proibidão será direcionado ao triunfal desfecho de nossa tragédia. O desacordo é um só: abater os mais fracos, desdenhar dos enfermos e massacrar os inválidos. Cultura essa que já estrelou um enredo nefasto no país de Ludwig. Diferentemente da Potsdam do moleiro de Sans-Souci, não parece mais haver juízes por aqui. Por isso, seguimos inertes, calados e imóveis ao som de uma fúnebre marcha, mui bem coordenada, com motociatas, exaltações de fungicidas, incentivo à não proteção facial e muita, mas muita, galhofa por parte do ignaro comandante. Afinal, é disso que gostamos. Salve-se quem puder.