São numerosos os registros a respeito de criaturas sobrenaturais que deixam seus túmulos quando ninguém vê e zanzam pelas cidades como se ainda estivessem vivas. Os zumbis habitam a literatura fantástica desde pelo menos a Idade Média, quando também se popularizaram relatos sobre bruxas e vampiros — bruxas existiram mesmo e acabaram queimadas nas fogueiras da Inquisição e as tramas de vampiros têm alguma fidedignidade histórica, em grande medida, graças à sombria figura do conde romeno Vladímir Drákul. Quanto aos zumbis, a controvérsia é certa. Há quem diga que rituais de magia negra praticados em países da América Central, como o Haiti, por exemplo, seriam capazes de fazer os mortos voltarem à vida, e existe quem defenda que essa conversa toda é mero delírio ou, pior, grosso preconceito. De qualquer forma, os zumbis ganharam o mundo — e, por óbvio, o cinema. A Bula meteu a colher no caldeirão e tirou dez filmes para quem não perde uma boa história sobre esses polêmicos mortos-vivos, todos na Netflix, a começar por “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas”, do diretor Zack Snyder, recém-saído do forno, que por isso abre nossa lista. Tem ainda duas produções da franquia “Resident Evil”: “O Último Capítulo”, de 2016, dirigida por Paul W.S. Anderson, e “A Vingança”, do ano seguinte, a cargo de Takanori Tsujimoto. A propósito, é interessante notar que desses, quatro são dirigidos por asiáticos. Por que será que eles gostam tanto de zumbis? Nossa seleção foi feita a partir do filme mais recente para o mais antigo e não sugere nenhum critério de classificação. Separe a água benta.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Em “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas”, o diretor Zack Snyder traz a história de Scott Ward, um desabrigado e ex-herói de guerra a quem só restou vender hambúrgueres na rua. Scott vislumbra uma oportunidade de mudar de vida ao ouvir a proposta de Bly Tanaka, um magnata dos cassinos: invadir Las Vegas, infestada de zumbis, a fim de roubar 200 milhões de dólares de um cofre antes que vença o prazo de 32 horas dado pelo governo e a cidade seja reduzida a ruínas. O dinheiro da recompensa talvez o ajude a se reconciliar com a filha Kate, e, por isso, ele aceita o desafio e monta uma equipe com os ladrões mais bem preparados que conhece a fim de realizar o grande roubo.

Mortos-vivos volta e meia aparecem na tela grande, nem sempre em filmes de terror. Frequentemente, zumbis são apresentados à plateia numa trama híbrida que mescla situações horripilantes com comédia, drama, ação ou ficção científica e até romance, como é o caso de #Alive, do sul-coreano Il Cho. O filme, a estreia do diretor, conta a história de um garoto aficionado por jogos virtuais que precisa permanecer vivo em meio a um apocalipse zumbi e se encerra em seu apartamento. O cenário torna-se ainda mais caótico quando o fornecimento de energia é cortado e ele se vê impedido de falar com parentes e amigos, jogar online e se conectar com o mundo exterior.

Quem gostou de “Invasão Zumbi” e da série “Kingdom”, por exemplo, vai aprovar “Desenfreado”, do sul-coreano Kim Sung-hoon. A história se passa na Coreia do século 17, muito antes do cisma que deu origem aos territórios do Sul e do Norte. O paranoico rei de Joseon, Lee Jo, sente que está rodeado de inimigos, que conspiram para vê-lo fora do trono, e rebeldes, insatisfeitos e indignados com os desmandos e privilégios da monarquia. Enquanto isso, um navio traz o príncipe Lee Cheung, que volta do exílio. Ele terá a missão de liderar um exército capaz de pôr um freio na ganância desmedida dos aristocratas, mas ignora que também haja monstros de outro mundo ameaçando destruir o reino.

Andy foi mordido por um zumbi e agora está infectado por um vírus mortal. Ele tenta desesperadamente salvar a filha Rosie do mesmo destino e, para tanto, tem apenas 48 horas para encontrar um lugar seguro e assim garantir a vida da menina. A solução talvez seja ir para uma tribo aborígene isolada, mas para poderem ser incorporados ao grupo, ele terá que ajudar uma jovem indígena a vencer um perigoso desafio. Apesar de este ser um filme de zumbis, o roteiro vai mais além e aborda questões não muito assíduas do gênero, como compaixão, perseverança e fé. Andy é o típico herói de tramas desse filão, carismático, confiante e disposto a sacrifícios sobre-humanos quando a vida de quem ama está em jogo.

Chris Redfield invade uma mansão antes usada como base de uma organização especializada no tráfico de armas. Chris tenta prender Glenn Alias, criminoso procurado em todo o mundo. Ele quase consegue, mas alguma coisa sai de seu controle e Alias acaba escapando. Rebecca Chambers, ex-integrante das forças especiais da polícia de Raccoon City, a S.T.A.R.S., é hoje uma professora universitária e conduz uma pesquisa que visa a esclarecer um misterioso incidente que resultou na ressurreição de pessoas mortas. Ela encontra a cura para uma misteriosa infecção viral, mas essa descoberta lhe traz problemas: Rebecca sofre uma tentativa de assassinato, e é salva por Chris. Após o ataque, Chris e Rebecca pedem ajuda ao agente federal Leon S. Kennedy sobre como devem proceder.

John acorda num buraco cheio de corpos em decomposição sem ter a menor ideia de como foi parar ali. Resgatado por uma grei de outros sem-memória, ele vai ter de descobrir de que maneira chegou àquele lugar. Por incrível que possa parecer, o terror não é o foco da trama. O roteiro de “Tumba Aberta” investe pesado no thriller psicológico, gênero cada vez mais presente em filmes dessa natureza. O trunfo maior da história é manter o público curioso, sem nunca se cansar de tecer especulações a respeito de como será o fim de cada personagem. E, claro, só o fato de colocar pessoas completamente alienadas num cenário que parece ter servido de palco para um massacre sanguinário já é argumento mais do que suficiente para instigar o espectador a assistir ao filme até o seu pujante final.

Tão original quanto vibrante, essa produção sul-coreana mostra que zumbis estão longe da extinção nas telonas. Dirigido por Yeon Sang-Ho, “Invasão Zumbi” apresenta um homem divorciado e com uma compulsão por trabalho que é convencido pela filha, que mora com ele, a levá-la para uma temporada com a mãe. Eles tomam um trem para Busan, mas a viagem, que deveria ser tranquila, acaba apresentando mais percalços do que imaginavam. Repentinamente, se dá um surto de zumbis na Coreia. E uma dessas criaturas vai parar no trem, o que gera comoção e tumulto, até que o caos se instala de vez e seja preciso lutar para continuar vivo. O ritmo frenético em que os acontecimentos se sucedem na trama corresponde à ideia que se pode ter de uma invasão de seres sedentos por subjugar e devorar pessoas.

Quatorze anos e seis filmes depois, “Resident Evil 6: O Último Capítulo” encerra a franquia. Baseada em games que viraram febre entre adolescentes do mundo todo, na telona a história seguiu um caminho diferente do apresentado nos jogos e conquistou uma legião ainda mais numerosa de fãs. O longa é um fechamento honroso para a série e deixou o público satisfeito. Depois de ser vítima de uma tocaia, Alice desperta num planeta prestes a fenecer, em que restam poucos milhares de sobreviventes. Os que conseguiram opor resistência estão sob ameaça constante e a única possibilidade de sobreviver para quem ficou funda-se na volta da heroína a Raccoon City, a fim de garantir a distribuição de um antivírus milagroso desenvolvido pela Umbrella Corporation contra a epidemia causada pelo t-vírus.

Uma moléstia desconhecida se alastra pela Terra e infecta indivíduos com uma velocidade impressionante e sem oferecer chance de defesa, transformando-os em zumbis. É aí que, como sempre, entra em cena o governo dos Estados Unidos e convoca um tranquilo pai de família para combater a praga e assegurar a continuidade do homem. Inspirado no livro homônimo de Max Brooks, o filme de Marc Forster segue a máxima de complicar em vez de explicar, como se constata no roteiro, digamos, dinâmico, que reúne preservação da natureza, teorias conspiratórias de fundo religioso, e irresponsabilidade de companhias aéreas, que não interromperam suas atividades e contribuíram para que o contágio se disseminasse ainda mais velozmente. Sem maiores pretensões, “Guerra Mundial Z” é garantia de entretenimento até para os gostos mais exigentes.

A Terra foi dizimada devido a uma variante do mal da vaca louca, vírus que faz com que as pessoas se tornem zumbis. Entre os poucos seres humanos que conseguiram escapar do contágio, está Columbus, estudante da Universidade do Texas, que não vê a hora de chegar à sua cidade natal na esperança de reencontrar seus pais com vida. Ironicamente, Columbus teme muito mais os palhaços do que os mortos-vivos. No caminho ele conhece Tallahassee, que segue rumo à Flórida para trabalhar como exterminador de zumbis. Columbus vai com ele. Ao fazer uma parada numa mercearia, a dupla enfrenta três desses monstros e faz amizade com Wichita e sua irmã caçula Little Rock. Agora, o grupo vai ter de deliberar sobre as providências a serem tomadas.