Dom estreou na Amazon Prime Video no último dia 4 de junho. Essa é a primeira série de drama brasileira produzida pela plataforma de streaming e chama atenção pela produção robusta, que percorreu 164 locações ao longo dos oito episódios. Também se sobressai nas atuações flamejantes trocadas entre os dois protagonistas, interpretados por Gabriel Leone e Flávio Tolezani, além dos panoramas paradisíacos da capital fluminense.
Os episódios narram a história real do assaltante de casas mais procurado do Rio de Janeiro entre os anos 2004 e 2005, Pedro Dom. Filho de uma família estruturada, pai policial e classe média, o rapaz se tornou cabeça de uma quadrilha violenta, ofício que veio na esteira de sua dependência em cocaína.
Mas quem aguarda por uma série policial focada em violência e perseguições pode se decepcionar. A ideia do criador, Breno Silveira, é aprofundar a narrativa no drama familiar vivido por Victor e Pedro, pai e filho. O primeiro, um policial determinado a combater a circulação de drogas no Brasil desde os anos 1970. O outro, um adolescente apresentado à cocaína por seu inseparável amigo, Lico, vício que o conduziu ao seu trágico destino.
Em meio à dinâmica de pai e filho, a série mostra a ascensão de um criminoso de cabelos loiros e olhos claros, que se tornou a sensação da mídia. Chamado de “ladrão fashion” e “bandido gato”, por seu gosto por roupas de grife e a boa aparência, o assaltante e sua gangue invadiam residências de bairros opulentos, tratavam suas vítimas com truculência e as ameaçavam com granadas.
Em entrevista, Silveira afirmou que as cenas que mais parecem coisa de cinema ficcional ocorreram realmente, como a parte em que Victor entra na favela e interrompe um baile funk à procura de Pedro. Procurado pelo próprio pai do criminoso para que a história fosse imortalizada nas telas, Silveira, que dirigiu “2 filhos de Francisco”, se assustou com a brutalidade do que foi contado pelo ex-policial.
Enquanto o Francisco venceu a batalha para tornar os filhos sertanejos famosos por meio da música, Victor, uma espécie de “Serpico” brasileiro, perdeu a sua batalha para manter o filho longe das drogas e do crime. Dois pais que dedicaram suas vidas em lutar por seus filhos e tiveram destinos inversos.
Na série, às vezes o estilo de vida de Pedro e seus comparsas parece glamourizado, como tentativa pitoresca de apresentar essa ilusão de um enriquecimento fácil e emocionante. Enquanto Victor segue sua vida em direção oposta, Silveira consegue equilibrar com competência os diferentes paralelos que a história envolve.
Com um enredo que navega entre os anos de 1970 e 1999, ainda resta história para explorar, como mostrar como Pedro se tornou Pedro Dom, detalhar a rotina de crime e como foram os dias que precederam sua morte. Para o espectador, há pano para uma manga mais longa e a Amazon Prime se prepara para anunciar a segunda temporada, já que gostou da recepção do público.
Vale ressaltar, a título de curiosidade, que as filmagens foram finalizadas em maio de 2020, em pleno lockdown no Rio, e que nenhuma das cenas foram gravadas em estúdio. O roteiro foi baseado no livro homônimo, escrito por Tony Belloto e publicado pela Companhia das Letras.