Após muitas idas e vindas e desencontros legais, a obra de Franz Kafka (1883-1924) é revitalizada e ganha novo endereço, a Biblioteca Nacional de Israel, em Jerusalém. Estão disponíveis no site da instituição documentos como cartas, desenhos e o testamento original de Kafka, no qual o autor pedia ao amigo Max Brod que queimasse toda a sua produção literária, apagando qualquer evidência da passagem de um dos maiores escritores da humanidade pela face da Terra. Brod não acatou o pedido e o resto é história, que pode ser acessada e conferida pelo público.
Documentos como o testamento literário original do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) foram digitalizados e se encontram disponíveis para consulta.
Depois de uma longa batalha judicial, cartas, manuscritos e mesmo desenhos do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) foram digitalizados e agora estão disponíveis online ao público no site da Biblioteca Nacional de Israel responsável pela restauração, com curadoria de Stefan Litt.
Na coleção, constam 120 desenhos, mais de 200 cartas endereçadas ao também escritor Max Brod e o original de seu testamento literário, que se salvou do fogo graças à desobediência de Brod, bem como todo o restante de sua obra. No documento, Kafka pedia ao amigo que queimasse tudo o que escrevera.
Kafka morreu em 1924, acreditando que Brod cumpriria sua vontade. Em 1939, contudo, ele deixou a então Checoslováquia, ocupada pelas tropas nazistas de Hitler, e se exilou em Tel Aviv, tendo consigo a produção de Kafka, totalmente desconhecida.
Com o passar do tempo, Max Brod se converteu numa espécie de publisher da obra do amigo. Foram levados a prelo os livros de Kafka, que só se tornou famoso e adquiriu prestígio como uma das figuras literárias mais relevantes do século 20 depois de morto.
Depois da morte de Max Brod, em 1968, teve início outra novela de Kafka, uma novela com a lei, o que imediatamente nos lembra o enredo de “O Processo”, um de seus romances mais célebres, no qual um funcionário público não consegue saber por que está sendo demitido. Vários países tomaram parte no rolo, o que abalou os estudos acadêmicos em torno da obra de Kafka e, claro, mexeu com os herdeiros tanto de Kafka como de Brod: uma corte da Suíça decidiu que parte dos arquivos, que se encontrava armazenada num cofre naquele país, seria despachada para a Biblioteca Nacional de Israel, em Jerusalém, em maio de 2019, o que, de fato, ocorreu.
Brod já havia se incumbido da maior parte dos registros, como o primeiro romance de Kafka, “Preparativos para um Casamento no Campo”, inacabado, mas os arquivistas em Jerusalém teriam mais duas surpresas.
“Encontramos desenhos inéditos sem assinatura ou data, mas que Brod guardou”, diz Litt, fazendo referência a um retrato da mãe de Kafka e um autorretrato do escritor, além de um caderno azul com textos em hebraico e rubricados com simples K, que era a forma mais corriqueira como Kafka assinava. O destaque do caderno, de 1920, é o inusitado pedido de Kafka ao professor de hebraico para que não se irritasse com suas falhas escolares “pois já estou zangado por nós dois”.
A descoberta, lamentavelmente, não traz nenhum texto inédito, mas lança novo foco de interesse sobre um autor tão genial quanto desconhecido.
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