Depressão é uma doença psíquica que, quando em estágio avançado, mina a capacidade intelectual e física e pode levar à morte. Já tristeza não tem fim, disse o poeta, acomete do mais contente ao mais casmurro, e sempre passa. Assistir a um filminho ou filmaço — que nem sempre tem um roteiro lá tão engraçado assim — ajuda. O cinema tem o dom de eternizar cenas, por exemplo, as de “A Vida É Bela” (1997), de Roberto Benigni, mesmo tirando dos brasileiros a chance de sonhar com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, também disputado por “Central do Brasil” (1997), de Walter Salles. Além de “A Vida É Bela” aparecem outros nove na lista da Bula. A propósito, as produções não seguem critérios de classificação e estão organizadas da mais recente para a mais antiga. Aperte o play e sorria.

O nonagenário Lucky (Harry Dean Stanton), ateu praticante, fumante inveterado e morador de um lugarejo perdido no deserto, toma consciência de que a morte se aproxima e quer se preparar para fechar a cortina final. Para isso, ele precisa remexer seu baú de ossos e de lá tirar a tão desejada iluminação. Aqui a confusão entre personagem e ator é deliberada: Stanton foi um dos mais famosos astros do cinema dos anos 1950 e 1960, se destacou com os papéis de caubói durão nas fitas de faroeste, mas continuou na ativa até morrer, o que “Lucky” prova. E ninguém esquece esse velho cavaleiro.

Lee Chandler precisa voltar à sua cidade natal a fim de tomar conta de seu sobrinho adolescente depois da morte prematura do pai do garoto, que o nomeou como seu tutor. Esse regresso forçado a um passado que ele tinha como morto vai se tornar quase insuportável para Lee devido à sua personalidade arisca e um tanto agressiva, e a convivência entre dois estranhos — ainda que tio e sobrinho — só por causa de mera formalidade legal poderia degringolar num melodrama duro de descer, o que, definitivamente, não se aplica ao filme de Lonergan.

Bradley Cooper e Jennifer Lawrence são os grandes responsáveis pelo sucesso de “O Lado Bom da Vida”, graças à alquimia mágica a que dão corpo em cena. Pat Solitano (Cooper) é um sujeito bipolar que explode em uma crise e por pouco não mata alguém. Tiffany (Lawrence), uma mulher agressiva, que não supera a morte inexplicável do marido. Esses mundos tão semelhantes e tão particulares se chocam no início, mas eles percebem que somente juntos podem levar adiante a vida.

Amélie Poulain mais observou que viveu, além de ter seguido à risca as ordens de seus pais esquisitões, o que resultou numa mulher que apenas existe — e não vive — sem maiores dramas, ou amores. Até que ao saber da morte da princesa Diana pela TV, vira-se sobre ela um feitiço e sua vida começa de fato: Amélie se transforma na super-heroína responsável por provocar as mais inusitadas situações no destino dos que a cercam.

Diga-se logo: esse filme ter recebido tal nome soa como piada. Irmãos que se odeiam sempre tiveram ampla aceitação no decorrer da história, haja vista a tragédia sobre Caim e Abel, citada na trama, aliás. Mas o que nos inquieta em “A História Real” é o roteiro non sense, que só a própria vida é capaz de escrever, de um velhinho que quando fica sabendo da morte iminente do irmão, com quem já não fala há muito, decide largar tudo e ir fazer as pazes com ele —dirigindo um cortador de grama, por não ter habilitação. É ou não é para se repensar a vida?

O enredo altamente alegórico de “A Vida É Bela” conta a história de Guido, que com imaginação e um incansável estoicismo, não permite que o filho saiba que o mundo está em guerra — no caso, a Segunda Guerra Mundial — e terríveis vilões — ou seja, os nazistas — querem vencê-los. Este roteiro, o mais pessoal de Roberto Benigni — também protagonista da história — foi inspirado em Luigi, pai do diretor e ator, que viveu em um campo de concentração nazista por anos e, para não apavorar os filhos, inventava causos bem-humorados sobre a infausta experiência.

No renomado MIT, o professor Gerald deixa na lousa um complexo problema de matemática para cuja solução seus alunos não têm resposta. A aula termina, todos vão embora, a lousa não é apagada e, no dia seguinte, para surpresa de todos, a equação está resolvida. Gerald descobre que o responsável pela façanha é o servente, Will Hunting, um arruaceiro. Sean Maguire, psicólogo da instituição, fica intrigado com a história de Will e passa a ajudá-lo a mudar de vida.

Uma dona-de-casa com graves problemas emocionais só consegue sufocar suas mágoas com comida. Toda semana, ela e o marido — que lhe devota um elaborado desprezo — visitam num hospital uma tia dele — que também não tem por ela a menor consideração, não permitindo sequer que entre no quarto. Numa dessas torturantes esperas, como que por encanto, surge na vida dessa mulher amargurada e sem mais qualquer esperança de ser feliz a doce figura de Ninny Threadgoode, uma debilitada e gentil octogenária que lhe conta umas histórias e faz com que ela acorde para a vida.

A chegada do novo professor de inglês e literatura transforma a rotina dos estudantes de um tradicional colégio graças a seu método de ensino irreverente. Ele motiva seus alunos a ingressar na Sociedade dos Poetas Mortos, o grupo fundado por ele quando discente da escola. Para esse mestre do bom viver, a poesia salva e sua forma tão peculiar de ver o mundo à luz dos versos os encoraja a também ter uma vida extraordinária.

Um homem já fora muito feliz, mas passou a ser um degredado em sua própria vida. A única lembrança que tem de seu passado glorioso é uma película filmada em super oito, o que só o faz ter ainda mais saudade de tudo o que jamais voltará a ser. Travis Henderson — é este o nome dele —, mais um da galeria de tipos inesquecíveis de Harry Dean Stanton, está perdido nas próprias memórias e tudo o que fica sabendo a seu próprio respeito é que tem um irmão, para cuja casa é despachado após quatro anos desaparecido. A volta desse homem quase morto há de exorcizar alguns fantasmas e criar mais outros tantos.