Pandemia. Na economia, quebradeira; no mercado financeiro, as espertezas de sempre; na cultura, público recluso e sequioso de uma válvula de escape, necessidade que as transmissões de shows, peças e streaming supriram — em alguma medida; na política… Bom, deixa pra lá, vai. A Bula não se permitiu intimidar por vírus nenhum e segue de vento em popa, acreditando e torcendo para que tudo volte ao que era antes, sem o que o antes tinha de errado, de preferência. Relacionamos aqui alguns filmes com o mote “chega de sofrência”, entre os quais se destacam “Dois Papas” (2019), do brasileiro Fernando Meirelles, e o espanhol “Toc Toc” (2017), de Vicente Villanueva. Os títulos não seguem critérios de classificação e estão organizados segundo o ano em que foram lançados.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Contando três histórias sem concluir nenhuma, “Adú” traz propostas de reflexão. O filme é político ao expor problemas cotidianos da vida de um menino que tenta deixar a África com a irmã em busca de uma vida melhor, mas também filosófico e emotivo, quando aborda os dramas particulares de Sandra e o pai Gonzalo, e ainda discorre a respeito da truculência da polícia ao querer dar um pouco de sentido a tamanha desordem. Filme cabeça, filme de autor, filme inteligente, como preferirem, mas filme bom e comovente.

Ellie é a típica garota interiorana em uma cidade pequena e pacata morando com o pai e mercadejando seu talento para a redação com os colegas. Numa dessas, recebe a encomenda de Paul, que lhe pede para escrever uma carta romântica para Aster, uma das moças mais bonitas da escola, por quem está interessado. Ellie aceita a tarefa, e, a partir de então, vai se deparar com uma pletora de emoções nada confortáveis.

O diretor Alan Yang reconta a história do sonho americano à luz das aspirações de um jovem imigrante taiwanês procurando melhorar de vida na tão falada América. Para isso, ele deixa seu país, visando a ascender na fábrica em que trabalha e se casar com a filha do chefe, e se muda para a Nova York da década de 1970. Transcorrido meio século, tudo o que esse rapaz ambicioso e destemido consegue, porém, é um casamento desfeito, muitas amarguras ao longo da jornada no Ocidente e uma relação espinhosa com a filha.

A filha mais velha de uma família de cuidadores de animais londrina, recém-chegada a uma fazenda na África do Sul, se sente desolada sem os amigos. Até que Charlie, um filhote de leão-branco, aparece em sua vida e eles se tornam companheiros inseparáveis. À medida que cresce, Charlie vai se tornando uma presa fácil por sua docilidade e extremamente rentável graças à sua condição rara num país conhecido por fomentar a caça a animais selvagens, o que apavora a garota.

Osamu e seu filho vivem de furtar lojas. Ao deparar com uma garota completamente só, relutam em abrigá-la, mas a esposa de Osamu concorda em ficar com ela depois de saber das dificuldades em que a menina vive. A família de Osamu também é pobre e a vida de pequenos crimes já viu dias melhores. Mesmo assim, eles parecem felizes, até que um incidente revela segredos. O que acaba servindo para colocar à prova a relação que essa família nada formal estabeleceu entre si.

Uma paixão adolescente. Um romance que surge do nada. Um amor platônico e um relacionamento prestes a ruir. Junte tudo e, pronto!, se tem todos os clichês da clássica comédia romântica teen neste filme cuja trama roteiriza três contos de amor que se passam ao longo do período natalino, como a de Tobin, apaixonado por uma amiga, mas sem coragem de se declarar. Luke Snellin se tornou célebre por contar histórias bastante palatáveis, recheadas de números musicais e, por óbvio, final feliz, ideais para quem não dispensa um filme que, basicamente, garanta bons momentos.

Héctor, um adolescente de dezessete anos que ostenta um vasto currículo de delinquências, é denunciado pelo irmão Ismael e vai parar num reformatório, onde estão outros garotos como ele, desajustados e indesejados na sociedade. Mas é justamente nesse lugar hostil que ele encontra o amigo com que tanto sonhara: Ovelha, um cachorro abandonado à espera de um dono, tão arredio e problemático quanto ele. Essa relação vai se cristalizando até que o indomável Ovelha some, mas Héctor não está disposto a ficar sem seu novo — e único — amigo.

O insight do roteirista Anthony McCarten resultou neste filme primoroso: o retrato de como seria a amizade — fictícia, como se soube após a bem-sucedida carreira do filme — entre dois papas, situação jamais vivida pela humanidade antes e que dificilmente voltará a ocorrer. Na trama, o ex-cardeal argentino Jorge Bergoglio, o recém-eleito papa Francisco, passa a se aconselhar e ouvir as confidências de seu antecessor, o alemão Joseph Ratzinger, outrora conhecido por Bento XVI, sobre os rumos a serem tomados pela Igreja, a vida de um religioso, a longa trajetória ao topo do clero e até futebol.

Bertrand, um quarentão depressivo e desempregado há dois anos se dedica a passar seus dias jogando pelo telefone largado no sofá, até que descobre a equipe de nado sincronizado masculino da piscina pública da cidade. Os integrantes desse estranho grupo, claro, são todos perdedores como ele, o que o motiva a ingressar no time e, quem sabe, tomar novo fôlego e tentar outra vez fazer alguma coisa por si mesmo.

O simples atraso de um médico é capaz de provocar um pandemônio entre um grupo de pacientes com transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Enquanto o doutor não vem, eles passam o tempo falando sobre o dia a dia nada normal de cada um, se examinam entre si, avaliam quem está melhor ou pior e fazem força para tolerar as loucuras um do outro, sem saber por quanto tempo vão conseguir aguentar esse verdadeiro tormento.