Uma coisa que eu falo poucas vezes, por medo da negatividade que a afirmação carrega, é que 2018 foi o ano mais complicado da minha vida. Eu sei que estes tempos de pandemia têm sido terríveis, eu também sinto os efeitos do medo e do isolamento todos os dias, mas acreditem: para mim, 2018 foi mais difícil. Para deixar tudo pior, em novembro eu fui demitida. Nas minhas outras experiências profissionais, havia deixado amigos e portas abertas, portanto eu não estava acostumada a ser rejeitada. Mas decidi focar no futuro e visitar a minha irmã, a quem não via há quatro anos, enquanto pensava no que fazer dali em diante.
Foi enquanto estava viajando que recebi a ligação da minha amiga, Jéssica, avisando que iria se mudar de cidade. Ao mesmo tempo em que estava feliz por ela, sentia o peso da distância se colocando entre nós. “Eu vou te indicar para trabalhar na Bula, você quer?”, ela me disse ao final da ligação, deixando o clima mais ameno para mim.
E uma semana depois eu estava trabalhando para a Bula. Parecia o verdadeiro sonho americano receber para escrever sobre séries, filmes, livros… tudo que eu sempre amei! E agora, depois de 2 anos e meio, acho que posso me considerar uma especialista. Não em cultura em geral, claro, mas em streaming.
Sei quais são as séries mais aguardadas, as decepcionantes, as ignoradas — mas muito boas; os melhores filmes estrangeiros escondidos, os códigos para rastrear categorias diferentes na Netflix e onde encontrar cada um dos seriados que todo mundo ama. Ganhei, carinhosamente, o apelido de “Mariflix”. É assim que meus amigos me chamam quando pedem indicações.
Além disso, escrever sobre livros para a Bula ampliou muito minha lista de leitura, conheci escritores e escritoras sem os quais não sei como vivi até hoje. Sempre fui muito apegada aos clássicos, mas descobrir quais são as obras recentes que estão em alta me deixou curiosa. E essa curiosidade me manteve sã (na maioria dos dias) durante a pandemia.
Mas há muito a se explorar no jornalismo e eu senti que precisava disso. Por esse motivo, não serei mais redatora na Bula. Às vezes ainda vou aparecer por aqui, mas não todos os dias. Para a pessoa que vem depois de mim, eu desejo muita sorte, criatividade e paciência. E não leia os comentários.
Eu me acostumei a ler “quem foi a jornalista idiota que escreveu essa besteira?” depois do quinto comentário desse tipo. Algumas pessoas vão dizer que você está descendo o nível do jornalismo por cliques. Mas não se incomode, ninguém é ingênuo nesta selva de arrobas. Se todos os que reclamam comprassem jornais, nós não estaríamos em busca de cliques.
No mais, é ótimo saber que há milhões de pessoas lendo o que escrevemos. E que estamos fazendo algo saudável, indicando atividades que têm ajudado as pessoas em tempos tão caóticos. Todo mundo precisa de sossego, distração e de um pouquinho de egoísmo.
Acho que a Mariflix não acabou, continuo amando tudo o que me trouxe até aqui. Mas quero amar outras coisas, pois é este mundo de possibilidades que me mantém jornalista. Obrigada, Bula, pela oportunidade. E obrigada a todos os leitores que acompanharam as minhas dicas, relevaram meus erros e não reclamaram de mim nos comentários.
Acho que não fui totalmente clara anteriormente: além do mundo de possibilidades, o que me mantém jornalista são as pessoas como vocês.