Quem não gosta daquela sensação de fôlego rarefeito e grito preso na garganta enquanto assiste a um bom filme? Principalmente no escurinho do cinema, degustando aquela pipoquinha com manteiga e, de preferência, muito bem acompanhado? Tudo bem, ainda não podemos usufruir das salas de projeção como merecemos, mas nem por isso você precisa passar vontade. A Bula elencou dez filmes para aqueles que, como eu, sabem apreciar um bom enredo cheio de teorias conspiratórias e perguntas nem sempre respondidas. Tem do clássico thriller psicoerótico “Instinto Selvagem”, de 1992, com direção de Paul Verhoeven, a empreitadas mais recentes, caso do muito bem-feito “A Ligação”, dirigido por Lee Chung-Hyun, cada um com seu jeito muito particular de deixar o amigo cinéfilo balançado, com toda a sutileza. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix

Que o cinema sul-coreano vai muito bem, obrigado, ninguém pode negar. Essa tendência tem se cristalizado desde 2019 com o lançamento de “Parasita”, para o bem-estar do mercado e a felicidade do respeitável público. “A Ligação” reúne mistério, ação e uma boa pitada de elementos sobrenaturais para deixar o espectador de cabelo em pé e com a pulga atrás da orelha. Este é “o” filme para quem topa fazer algumas concessões à lógica e ficar preso no sofá.

Todos ou, pelo menos, 90% da humanidade, tivemos problemas com nossos pais, em especial naquele inferno interior chamado adolescência. O bicho pega mesmo é quando se percebe alguma coisa para além de mero amor e zelo exacerbado. “Fuja” expõe sem nenhum pejo a relação de uma mãe superprotetora e sua filha deficiente física Chloé, a surpreendente Kiera Allen, portadora de necessidades especiais na vida real. Chloé quer provar para a mãe que pode ser independente e levar uma vida normal. Mas parece que sua mãe tem outros planos para ela.

A adaptação do livro homônimo de Stephen King, publicado em 1992, entrega o que promete: um suspense na temperatura adequada, temperado por atuações dignas de nota. Em “Jogo Perigoso”, percebe-se a influência de obras anteriores de King, a exemplo de “Louca Obsessão”, também já levado às telonas, mesmo caso de “Fuja”. Este thriller conta a história de um casal nada normal dado a brincadeirinhas sexuais um tanto heterodoxas. O que era para acabar só em diversão e prazer torna-se um episódio que foge inteiramente do controle.

Neste longa do aclamado diretor M. Night Shyamalan, de “O Sexto Sentido” (1999) e “Corpo Fechado” (2000), encontra-se um James McAvoy intenso, maturo, pleno. McEvoy dá vida a Kevin Wendell Crumb, que se equilibra não entre duas, mas entre 23 personalidades. O filme tem elementos cênicos típicos do teatro, momentos em há que se respirar fundo e aguardar alguns para ver qual dessas 23 personas vai entrar em cena. Em “Fragmentado”, Shyamalan, com muita originalidade e honestidade intelectual, aborda a loucura sob pontos de vista diferentes.

A estreia de Raúl Arévalo no papel de diretor pode ser celebrada. Depois de se tornar conhecido por produções como “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Arévalo se aventura por trás das câmeras apresentando um filme singular. O protagonista, o misantropo José (Antonio de la Torre) perde a namorada, morta numa tentativa de assalto a banco, mas parte pra outra numa boa, no caso, Ana (Ruth Díaz), a dona de um café que vai entrando na dele sem saber muito bem com quem está lidando. Vale a pena atentar para os cortes inusitados e o anticlímax no meio da história.

Cria do teatro, Roger Eggers mostra a que veio já em seu début na sétima arte. “A Bruxa” demonstra apuro estético e veracidade em cada uma das cenas que compõem este longa de 2h20. Eggers presenteia o espectador com um filme espantoso. Esse thriller épico narra as desventuras de William e Katherine, imigrantes ingleses que se estabelecem na Nova Inglaterra, Estados Unidos. Forçados a deixar o lugar onde moram, se dirigem para uma floresta, onde eventos funestos (e inexplicáveis) começam a acontecer.

Baseado no livro de mesmo nome de Thomas Harris, este terror psicológico delineia os apuros pelos quais passou Will Graham, ex-agente do FBI que quase morreu ao escarafunchar os mistérios por trás do soturno — e criminoso — Hannibal Lecter. Graham continua ganhando a vida tentando enquadrar tipos como Hannibal, mas para não ser a próxima vítima de seu algoz favorito, vai ter de ser mais engenhoso e pensar numa forma mais eficiente do que ler relatórios para botar as mãos nesse perigoso assassino em série.

Uma trama muito acima da média, um bom elenco, a fotografia perfeita e… voilà!, se dá a mágica. O detetive aparentemente clichê de Leonardo DiCaprio se vê no meio de uma investigação nada convencional em que ele próprio adquire papel central. DiCaprio precisará esquecer qualquer estereótipo do detetive de filme ambientado nos anos 1950 para desvendar o caso do paciente assassinado num sombrio manicômio presidiário no meio do mar. Tudo fica ainda pior quando um furacão deixa a ilha incomunicável, vários internos fogem e o caos se instala de vez.

Um clássico é sempre um clássico, e os clássicos nunca morrem. “Instinto Selvagem” caminha para sua terceira década deixando no chinelo muitas produções do mundo 5.0. O enredo, envolvente, narra a saga do policial Nick Curran, em maus lençóis por ter de desvendar um crime supostamente cometido pela monumental Catherine Trammel, a escritora de, claro!, thrillers que faz de tudo para afastar os tiras de seu belo cangote loiro. A cena da cruzada de pernas mais polêmica — e vista — da história do cinema gerou mal-estar nos bastidores, mas, queira Sharon Stone ou não, tornou-se cult. Sorte nossa.