A solidão pode ser angustiante, mas também carrega uma beleza escondida. Segundo o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, somente quando estamos sozinhos é que somos livres. A pandemia da Covid-19, somada à superficialidade das relações digitais, tem nos afastado ainda mais dos outros. Para transformar esses momentos de isolamento em experiências prazerosas, a Bula reuniu em uma lista dez ótimos livros que são ótimas companhias. São obras sobre pessoas solitárias e atormentadas pelas indiferenças, que mostram que não estamos sozinhos em nossas angústias. Entre os livros selecionados, estão “Homem Invisível” (1952), de Ralph Ellison; e “Walden ou A Vida nos Bosques” (1854), de Henry D. Thoreau. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais recente para o mais antigo.
Karen Nieto é uma criança que não sabe nem ao menos falar, quando sua mãe, que a deixava sozinha em um cômodo escuro, morre. Isabelle, a tia da menina, herda a empresa de pesca de atum da irmã, com surpresa a existência de Karen, de quem começa a cuidar. Com um histórico de agressões sofridas e tendo sido rejeitada pela mãe, Karen desenvolve a fala e passa a ter contato com a sociedade graças ao esforço de sua tia. Diagnosticada com autismo funcional, a menina surpreende os que a cercam em função de suas atitudes inusitadas, ainda que seja mais inteligente do que a maioria das pessoas com quem convive. Com seu jeito peculiar, Karen vai aos poucos se tornando uma respeitável mulher e transforma a empresa familiar de pesca de atum em uma companhia mundialmente reconhecida.
Dos subúrbios de Boston para uma prestigiosa universidade para mulheres. Do campus para um estágio em Nova York. O mundo parece estar se abrindo para Esther Greenwood, que agora trabalha na redação de uma revista feminina e possui uma intensa vida social. Mas, um verão aparentemente promissor é o gatilho da crise que leva a jovem do glamour a uma clínica psiquiátrica. Único romance da poeta Sylvia Plath, “A Redoma de Vidro” é repleto de referências autobiográficas. A narrativa é inspirada nos acontecimentos de 1952, quando Plath tentou o suicídio e foi internada. Assim como a protagonista, a autora foi uma estudante exemplar que sofreu uma grave depressão.
“Os Diários de Virginia Woolf” estão repletos não só de mergulhos profundos numa escura depressão, mas também de momentos luminosos. É um guia para a arte e a mente da escritora, divulgado por seu marido, Leonard Woolf, a partir de um registro pessoal que ela manteve ao longo de 27 anos. Estão incluídas passagens que se referem ao ofício da escrita, outras que são claramente exercícios literários; relatos de pessoas e cenas relevantes para o seu trabalho; e comentários sobre os livros que estava lendo. Virginia Woolf, escritora inglesa, nasceu em 1882 e se tornou uma figura conhecida no período entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial. Considerada a maior romancista do idioma inglês, ela cometeu suicídio em 1941.
Obra fundamental na formação intelectual de Barack Obama e um dos romances fundamentais da comunidade negra norte-americana, “Homem Invisível” narra a história de um jovem negro que se submete às humilhações dos brancos para frequentar a universidade no sul dos Estados Unidos. Mesmo fazendo tudo que o pediam, ele foi é expulso da instituição. Convencido de que é o único culpado pelo acontecido, ele viaja em busca de um emprego no Harlem, em Nova York, no início do século 20. Com o passar do tempo, entre experiências frequentemente contraditórias, o protagonista conhece um mundo muito diferente daquele que idealizara. Invisível para brancos racistas e também para negros, ele deseja apenas ser como é.
Considerada a primeira obra de ficção científica da história, “Frankenstein” é narrado por meio das cartas que o capitão Robert Walton escreve para a irmã. Durante uma expedição marítima, o navio liderado por Walton fica preso quando o mar se congela e ele avista Victor Frankenstein num trenó. Ele abriga o homem, que lhe conta sua história de vida: Frankenstein, um cientista dedicado e autodidata, encontrou o segredo da geração de vida e se dedicou febrilmente a criar um ser humano gigantesco, mas abandonou a criatura. O monstro, rejeitado e escorraçado pela sociedade, se voltou contra seu criador e começou a atormentar a vida de todos que Frankenstein amava.
A metamorfose é a mais célebre novela de Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a história da literatura. O texto coloca o leitor diante de um caixeiro viajante, chamado Gregor Samsa, que abandona seus próprios desejos para sustentar a família e ajudar os pais. Numa certa manhã, ele acorda e percebe que está se transformando em um inseto monstruoso e gigante. Sua primeira preocupação é chegar atrasado no trabalho, mas quando abre a porta assusta a todos. A família insiste que Gregor, que é demitido, fique isolado no quarto. Rejeitado por todos, o agora inseto passa por muitas angústias, já que era o único responsável financeiramente pela casa.
O livro é uma autobiografia escrita pelo pensador estadunidense Henry David Thoreau. Insatisfeito com a complexidade da vida moderna, impulsionada pelo avanço da industrialização e da urbanização, Thoreau propõe o retorno ao simples. Em 1845, ele se retira para a floresta, onde constrói com as próprias mãos seus móveis e sua casa, à beira do lago Walden. Ali, ele vive isolado por dois anos, com o propósito de obter uma maior compreensão da sociedade e de descobrir as necessidades essenciais da vida. Por meio dessa experiência, o autor prova que uma vida simples e humilde é viável, contrariando a sociedade capitalista.
Jane Eyre, uma garota órfã e rebelde, vive na mansão de Gateshead Hall, sob os cuidados de uma tia. Após um confronto com sua tutora, ela é enviada para a escola Lowood, onde recebe uma rigorosa educação, tornando-se uma mulher madura e independente. Formada e depois de ter trabalhado como professora por dois anos em Lowood, ela aceita o emprego de tutora de Adèle, na casa de Thornfield Hall. Aos poucos, ela começa a se aproximar de seu patrão, o sr. Edward Rochester, e se apaixona por ele. Jane sente que finalmente encontrou a felicidade, mas Rochester esconde segredos que podem separá-los para sempre
A partir da experiência de ter sido preso, Xavier de Maistre escreveu “Viagem ao Redor do Meu Quarto”. Ao longo do livro, ele narra uma viagem de 42 dias que fez dentro de seu quarto. Sem sair de seus aposentos, o autor encontra objetos que o levam a refletir satiricamente sobre a morte, a amizade, o poder, a sociedade e suas injustiças. Impossibilitado de abandonar aquelas quatro paredes, Maistre as observa como se fossem paisagens de uma terra distante e enaltece esta nova forma de viagem que, segundo ele, é ideal para pobres, enfermos e preguiçosos. O livro tornou-se rapidamente um clássico da literatura, inspirando outros grandes escritores, como Machado de Assis.