Eu sigo com os deslumbrados. Que permitem que a pecha de lunáticos lhes suba à cabeça. Que se encantam com borboletas, pássaros e outras minúcias da natureza que passam despercebidas aos olhos da geração high tech e dos homens extremamente ocupados. Que colocam flores nos cabelos e se julgam especiais integrantes da nobre realeza. Que não possuem um carro. Que não aplicam na bolsa. Que não perdem milhões. Que são felizes com quase nada. Que nadam de braçadas em abraços de contentamento.
Eu sigo com os ensandecidos. Que jogam pedra em avião. Que voam sem asas. Que não dão golpes no erário. Que nunca se adaptam. Que vivem à margem das certezas. Que incomodam Deus com perguntas cabeludas. Que não possuem o menor talento para liderar equipes, mas, cuidam de suas vidas com admirável simplicidade. Que são estranhos, mais carismáticos do que um raio de sol.
Eu sigo com os rebeldes agitadores. Que leem livros. Que questionam tudo. Que catam lixo. Que tem um mau gosto danado para se vestir. Que plantam árvores. Que fazem caridade com discrição. Que compram brigas em defesa das liberdades. Que dão uma boiada para não entrar no céu. Que são viciados em democracia. Que saltam muros e abrem gaiolas, enquanto os colecionadores estão dormindo. Que perdem noites de sono a sonhar acordados. Que consentem que nada vale a pena quando a alma é pequena. Que insistem em mudar o mundo com poesia. Que são flagrados a ser felizes e, felicidade — todo mundo sabe — é um sentimento individual absolutamente insuportável aos olhos alheios.
Eu sigo com os perdidos. Que atacam moinhos nas zonas de conforto. Que creem na ciência. Que se irmanam na dúvida. Que se dividem entre o desencanto completo e o descontrole emocional. Que não entendem bulhufas de geopolítica. Que tem fome de justiça social e de paz. Que não percebem melhoras substanciais na essência humana. Que suportam a morte, mais do que a própria vida, como porta de entrada ou rota de saída.
Eu sigo com os cancelados. Nem que seja sozinho.