O ano de 2021 não tem sido fácil e a literatura, principalmente em tempos turbulentos, pode ser a melhor companhia para fugir um pouco da realidade ou para compreendê-la melhor. Para os aficionados por leitura, a Bula reuniu em uma lista os dez melhores livros para ler em 2021. A seleção foi realizada a partir das indicações dos editores da Revista Bula e possui obras aclamadas de diferentes gêneros e nacionalidades, lançadas ou traduzidas para o português no último ano. Entre elas, estão o romance turco “A Mulher Ruiva”, de Orhan Pamuk; o suspense policial norte-americano “Longo e Claro Rio”, de Liz Moore; e a coleção poética “Pequena Enciclopédia de Seres Comuns”, da brasileira Maria Esther Maciel. Os livros estão organizados por ordem alfabética e não seguem critérios classificatórios.
Perto de uma pequena cidade turca, um escavador de poços e um aprendiz são contratados para procurar água num terreno baldio. À medida que cavam o poço, sob um calor abrasador, vai-se desenvolvendo uma forte ligação entre ambos, como se fossem pai e filho. Os dois trocam histórias que refletem diferentes visões do mundo. Contudo, o desejo e o medo do desconhecido fazem com que o protagonista tome uma atitude completamente inesperada que mudará para sempre o rumo de sua vida. Com rara habilidade narrativa, Orhan Pamuk constrói mais um romance memorável sobre as relações humanas e o poder que pequenas decisões exercem em nossa trajetória.
Ludo é um menino que cresce em uma pequena fazenda na Normandia sob os cuidados de seu tio, um fabricante de pipas. Numa propriedade aristocrática perto dali, passa os verões a jovem polonesa Lila, por quem Ludo se apaixona. O livro acompanha a trajetória dessa dupla improvável em meio à eclosão da Segunda Guerra. Com personagens que apostam tudo na luta para manter vivas as esperanças, “As Pipas” é o apelo poético de Romain Gary a toda forma de resistência. Ele dedicou parte importante de sua vida à tentativa de dar forma ficcional à tragédia da Europa conflagrada. Mesmo sendo o último de uma vasta galeria de romances de Romain Gary, “As Pipas” preserva intactos os principais atributos que garantiram a fama do escritor: da força poética ao carisma dos personagens.
“Baixo Esplendor” marca do retorno de Marçal Aquino à literatura, 16 anos depois do sucesso de ‘Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”. A trama se passa em 1973, um dos períodos mais duros da ditadura militar no Brasil. Miguel, um agente do setor de Inteligência da polícia civil, se infiltra em um grupo de ladrões de carga, tornando-se íntimo de Ingo, o chefe, que não só apadrinha sua entrada no bando como lhe apresenta a irmã, Nádia, com quem Miguel inicia um relacionamento intenso. Miguel acredita que, na hora certa, não terá dificuldades para romper os laços surgidos durante a operação. Mas as coisas não saem como ele imagina, pois ele se apaixona profundamente por Nádia.
Jules e Holly são amigas desde a universidade. Elas contam tudo uma para a outra, trocando revelações e confissões, e compartilhando tanto os pequenos quanto os mais relevantes detalhes das suas vidas: Holly é a única pessoa que sabe sobre o caso amoroso de Jules; enquanto Jules esteve com Holly quando o marido dela morreu. E seus filhos, separados por apenas três anos, cresceram juntos. Então, quando a filha de Jules, Saffie, alega que o filho de Holly, Saul, cometeu um crime, nenhuma das mulheres está preparada para o impacto que isso terá em sua amizade. Principalmente porque Holly, por causa dos seus princípios, se recusa a acreditar que seu filho é culpado.
“Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira”, livro escrito e ilustrado por Edson Aran, reúne os fatos mais importantes da vida e da obra dos maiores autores brasileiros. Coisas nunca lidas ou comentadas, por exemplo, Machado de Assis saindo no braço com José de Alencar por conta de índio pelado, Paulo Coelho realizando sacrifícios humanos para vender mais livros, Clarice Lispector driblando o assédio de um agente literário meio safado. Ou ainda: as colunas sobre vinho que Guimarães Rosa escreveu no jornal “A Tocha de Codisburgo” e que tacaram fogo no sertão das Gerais. Do quinhentismo ao terraplanismo, toda a literatura brasileira desfila por esse livro fascinante cheio de cascatas de colorido sutil. “Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira” traz histórias tão boas que, caso não existissem, seria preciso inventá-las. Foi exatamente isso que Edson Aran fez.
Este livro, que compôs a lista de leituras favoritas de Barack Obama em 2020, é um suspense policial que alterna entre um mistério atual e a infância e adolescência das irmãs Mickey e Kacey. Mickey é uma agente da polícia responsável pelas rondas na periferia da Filadélfia, região tomada pela crise dos opioides. É nessa mesma área que vive sua irmã, Kacey, que é dependente de heroína. Kacey repentinamente desaparece, ao mesmo tempo em que um serial killer começa a atacar na Filadélfia — as vítimas, ao que parece, se encaixam perfeitamente no perfil de Kacey. Arriscando seu emprego e talvez até o bem-estar de seu filho de quatro anos, Mickey torna-se perigosamente obcecada em descobrir o que aconteceu com sua irmã e as outras mulheres desaparecidas.
Esta antologia reúne pela primeira vez no Brasil uma amostra do melhor de Simic. Com seleção e tradução do poeta Ricardo Rizzo, a coleção mostra a variedade de tópicos abordados pelo autor: da inescrutabilidade da vida cotidiana a observações de caráter metafísico; de contos populares a casamento, guerra e vida urbana. Charles Simic nasceu na Sérvia, em 1935, e vive hoje nos Estados Unidos. Um dos grandes nomes da poesia norte-americana, publicou dezenas de livros de poemas e coletâneas de artigos e ensaios sobre literatura, volumes de memórias, além de traduções de poetas do Leste Europeu. É professor emérito de literatura americana e criação literária na Universidade de New Hampshire.
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, enquanto o nazismo e o fascismo avançavam pela Europa, a aristocrática família Finzi-Contini insiste em tentar ignorar o crescente preconceito contra os judeus. Os irmãos Alberto e Micòl continuam protelando a formatura: ocupam o tempo realizando competições de tênis com os amigos na quadra de sua bela casa; os pais, por sua vez, fingem não notar o avanço da doença de Alberto, que enfraquece a cada dia. No fim dos anos 1930 a família se isola no casarão, e passam a frequentá-lo alguns jovens expulsos do clube da cidade, que se encontram para jogar tênis. Entre eles, o narrador do livro, um estudante de letras judeu cujo nome desconhecemos. É nesse microcosmo que toma forma a paixão do narrador pela fascinante Micòl Finzi-Contini.
Atento ao que havia de mais original na cultura europeia de seu tempo, mas com os afetos e a sensibilidade firmemente ancorados na realidade russa, Ivan Turguêniev, um dos grandes mestres da ficção do século 19, produziu uma obra que se tornaria modelo para escritores em todo o mundo. Em “O Rei Lear da Estepe” (1870), ele parte da conhecida tragédia de Shakespeare, na qual o soberano, com idade avançada, abre mão de seu reino para deixá-lo às filhas; mas ambienta-a na pequena propriedade rural de uma província russa. Para reconstruir a trama da corte inglesa no campo povoado por senhores, servos, agregados e trabalhadores pobres, Turguêniev utilizou suas próprias experiências de juventude.
passeio — literário e ecológico — pela sensibilidade de uma das mais principais escritoras brasileiras contemporâneas. Maria Esther Maciel nasceu em 1963, em Patos de Minas, Minas Gerais. Poeta, escritora e ensaísta, é professora da faculdade de letras na Universidade Federal de Minas Gerais. Publicou, entre outros, a ficção “O Livro dos Nomes” (2008), e os estudos “Pensar/Escrever o Animal: Ensaios de Zoopoética e Biopolítica (2011)” e “Literatura e Animalidade” (2016).