A gastronomia existencialista acaba de ganhar mais uma casa na cidade, o restaurante Compadre Jean-Paul, sob o comando do chef João Kierkegaard, que já passou pelo Le Canard Depressive . Desta vez, no entanto, a inspiração é a cozinha regional brasileira, que recebe sutis ingredientes existencialistas.
A Galinha Cozida Com Quiabo e Angústia, por exemplo, vem à mesa no ponto certo e cada garfada é um convite ao desespero. É como se o prato gritasse “a vida é uma experiência vazia e sem sentido, mas tem uma pimenta aí pra acompanhar?”
O mesmo não se pode dizer do Pato Desolado ao Tucupi que, com sabor amargo e carne dura, é um convite para que o comensal cometa suicídio antes do final do jantar. A existência precede a essência, mas o Pato Desolado de Kierkegaard beira a indecência.
Já o Filé a Camus é um prato desiludido, com um bife amarguradamente insípido coroado com um ovo frito inútil como a queda de uma árvore num lugar desprovido de observadores. Terá o filé existido per-se ou é apenas a representação imperfeita de um filé ideal que existe num universo perfeito? E, neste caso, será que é possível pedi-lo ao ponto, ligeiramente mal passado?
O clamor pela vida é parcialmente recuperado com as sobremesas de João Kierkegaard. A Banana Suicidada em Calda de Laranja acrescenta delicado engajamento marxista-leninista à fruta, trazendo algum sentido à existência vazia do comensal. O Picolé Amargo da Solidão é o fecho perfeito para uma refeição plena de ansiedade, agonia e amargura. Saltar de uma ponte é de bom tom, mas só se ninguém se jogar na água para socorrê-lo.