20 comédias terrivelmente hilariantes para alegrar os corações em tempos de pandemia

20 comédias terrivelmente hilariantes para alegrar os corações em tempos de pandemia

Não sou, propriamente, um exemplo de homem bem humorado. Aliás, vendi um dos rins para me consultar com o Doctor Hey! e ele fez um prognóstico terrível: não tinha um só cirurgião plástico em todo o Olimpo que conseguisse mudar o meu semblante sisudo. “Não dá para mim colocar uma sorriso no seu cara, minha caro”, concluiu. Pedi de volta my money, mas, fui ameaçado com um bisturi. Eu não tinha SUS. Eu não era páreo para aquele médico liso e musculoso com uma faixa amarrada na cabeça, como se fosse o Rambo. Me conformei com o rombo na carteira e vazei mais rápido do que o evacuar de um cisne imperial com síndrome do intestino irritável.

Eu cresci assim: com o cenho fechado e a cara de enfezado. Juro que não sou esse sujeito mal humorado que todos dizem. Não antes da eleição de Bolsonaro e da ascensão dos terraplanistas. Ando um pouco ranheta, ultimamente, é verdade. Meu saco cheio não comporta sequer um comprimidinho de cloroquina. Não sei se eu também tinha essa cara de poucos amigos durante a infância. Perguntei à mamãe como eu me parecia quando era um menino. Ela sorriu, deu de ombros e respondeu: “Normal”. Nada mais genérico e maternal do que isso.

Não me recordo se eu sempre fui assim, de cara amarrada. Durante a adolescência, ninguém reclamava. Não que eu me lembre. Aliás, eu fazia um relativo sucesso com as mulheres feias. Uma vez, cometi a imperícia de perguntar para uma garota qual parte do meu corpo ela achava mais bonita. Ela respondeu que era a altura. Eu teria me jogado pela janela do prédio, se não estivéssemos namorando na praça, o lugar mais seguro e barato do mundo para se esfregar com uma gata. Se fizesse isso hoje, seria morto em cinco minutos pela bandidagem colossal nas ruas.

“Algum problema com você, meu chapa? Você parece sério demais”, é o que dizem, frequentemente. Catei algumas fotografias antigas para conferir como era o meu semblante antes de me tornar, supostamente, um carrancudo. A pesquisa não me levou a grandes descobertas. Com exceção das fotografias 3 x 4, que sempre deixam qualquer pessoa em estado deplorável, pareço até animadinho e bem humorado nas fotos. Pensei que era bolor, mas, eram sorrisos de verdade.

Isso não tem nada a ver com melancolia, com tristeza ou com depressão. Não se preocupem comigo. Ainda não será desta vez que o mundo cruel vai perder um cara tão formidável quanto eu. Percebam que o meu amor-próprio anda deveras pegajoso. Apesar disso, eu não faria sexo comigo, se eu fosse você. Sim. Estou misturando tudo, eu sei, vocês têm razão. Não é sobre a minha vida sexual que eu pretendo falar. Desejo compreender por que motivo tenho essa cara de fome de que tanto falam.

Fazendo um rápido retrospecto, constato que tive uma vida bastante confortável. Três refeições por dia. Cartão de vacinas completo. Saúde impecável: um coco! Dentes tortos, contudo. Calvície precoce, pero, hermosa. Aquele peculiar mau jeito com as mulheres, um conquistador medíocre. Formação educacional acima da média nacional. Profissão bem remunerada, a não ser pelos péssimos cachês para escrever nesta revista. O fascínio pelo cinema. O gosto musical apurado. O amor. Os filhos. Aonde é que se encaixa essa minha cara azeda?

“É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração.” Repito os versos do Vinicius como se fosse um mantra. Na verdade, estou me esforçando à beça para mudar a fisionomia circunspecta e parecer mais feliz do que, de fato, eu me sinto. Aquele tipo de indivíduo que você bate o olho e já cola nela por causa do magnetismo. Não se trata de falsidade, de forçar a barra ou de enganar as pessoas. Não é nada disso. Ocorre que o bom humor é contagiante e eu quero muito fazer parte dessa força tarefa imbuída em contaminar o planeta com alegria.

Estou tão genuinamente comprometido com esta intrincada missão de ser e de parecer feliz, que compilei, a pedido do meu editor — aquele bonachão que nunca me paga chopes — uma lista com 20 comédias terrivelmente evangélicas, ou melhor, 20 comédias terrivelmente hilariantes para alegrar os corações em tempos de pandemia, de morte no atacado e de sofrimento coletivo. Ele instruiu que eu não pensasse muito, que usasse a intuição, que fizesse uma lista, assim, de supetão, sem a necessidade de escrever resenhas individuais, senão, ficaria caro demais para ele não me pagar.

Gostei do desafio. Puxei na cachola a lembrança de filmes de comédia realmente muito engraçados, infalíveis contra a tristeza e a melancolia. Besteirol? Que nada. Besteira é abdicar de ser feliz. Se ainda não viram os filmes indicados, vejam. Se já viram, revejam e riam aos borbotões. Esvaziem suas bexigas primeiro. A alegria é garantida, ao menos, durante a trama. O resto do tempo é com a gente. Uma questão de atitude, tenho certeza. Decisão de foro íntimo. Um compromisso com a felicidade que vai além das aparências.

*As sinopses são das produtoras e distribuidoras.

Eberth Vêncio

É escritor e médico.