Todo mundo só fala desses tais “Cinquenta Tons de Cinza”. Quando não é o livro é o filme. Só faltam lançar vídeo games e quadrinhos desse negócio! O pior é que, até onde sei (só folheie rapidamente os livros e vi o trailer do filme), me pareceram produtos meio-frouxos, meia-bomba. Sem pensar muito dou uma dúzia de livros que certamente fariam corar (a fã de “Crepúsculo”) E. L. James, “autora” dos romances. E nem preciso citar os mais óbvios, como o Decamerão, o Marquês de Sade, o olho de Bataille, os anais de Anaïs Nin, os trópicos de Miller ou os Budas Ditosos do “escritor ninja” João Ubaldo Ribeiro (alguém aí se lembra do ex-imortal vestido de ninja no Casseta & Planeta?). Realmente, a literatura para ser lida com uma mão só já viu dias melhores.
Cântico dos Cânticos, de Deus
É a prova de que até Jeová, como bom judeu que é, consegue escrever literatura erótica melhor do que E. L. James. Como pregou o bom rabino Woody Allen, “sexo só é sujo quando é bem-feito”. Amém.
O Amante, de Marguerite Duras
Ela achava o tal amante racionalmente inferior, feio e velho. Mesmo assim deu. Ouviu isso, senhorita Anastásia Steele? Galã, rico e jovem, até a Demi Moore aceitaria a proposta indecente, sem nem precisar oferecer um milhão!
A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues
O bom e velho Nelson, um caso raro de reacionário perdoado pelas esquerdas, usando uma vassourinha ao contrário da usada pelo presidente maluquinho Jânio Quadros, espalhava de volta todo o lixo varrido para debaixo do tapete pela respeitável família brasileira. Foi muito criticado quando disse que “nem todo mulher gosta de apanhar. Só as normais”. Anotou essa, Anastásia?
Bórgia, de Milo Manara e Alejandro Jodorowsky
A tetralogia em quadrinhos baseada nas histórias e lendas acerca da famigerada família Bórgia representa o refinamento máximo do traço do mestre Manara e um excepcional exercício de minimalismo literário do sempre exuberante Jodorowsky. Se alguém ainda acha que quadrinhos é coisa de crianças, vai sair chocado da leitura: orgias papais, incesto e castrações é apenas o começo. O chicotinho do senhor Grey não dá nem para as preliminares.
Identidade Frota, de Alexandre Frota
Nesse livro obrigatório, a autobiografia do gênio incompreendido Alexandre Frota, o Forrest Gump brasileiro, fica provado que seu personagem título possui pelo menos uns 500 tons de cinza em degradê. Porque, afinal, o negócio é comer (autocensurado) e (autocensurado).
Tudo o que Você Queria Saber Sobre Sexo, de David Reuben
Pensando bem, o livro é datado e anacrônico. Prefira a adaptação cinematográfica feita pelo bom rabino Woody Allen: “Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha Medo de Perguntar)”, de 1972. Se o sádico bonzinho Christian Grey levar uma ovelha para o Quarto da Dor / Prazer, aí sim vai merecer sua fama de mau. Nesse quesito, por enquanto, perde para o ex-presidente Lula, que se declarou especialista no assunto.
O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini
O menininho afegão é estuprado no começo do livro por meninos maus (sim, pedagogas, meninos maus existem). Uma cena terrível! Queria ver como o senhor Grey iria se virar trancado no Quarto da Dor / Prazer com um bando de talibãs tarados. Chicotinho contra AK-47. Certamente, sairiam cantando “a pipa do Christian não sobe mais / A pipa do Christian não sobe mais”.
O Mundo de Sófia, de Jostein Gaarder
Sim, não me enganei, é mesmo “O Mundo de Sófia”. Afinal, em qual mundo uma menina de 14 anos ir escondida encontrar um cinquentão desconhecido e esquisitão numa cabana remota não é um ato altamente reprovável e suspeito? Tenho certeza que a senhorita Anastásia Steele não pretendia aprender filosofia com o grande pensador Christian Grey quando aceitou entrar no Quarto da Dor / Prazer.
O Nome da Rosa, de Umberto Eco
A famosa cena de sexo no chão da cozinha, entre um noviço e uma camponesa, é um complexo mosaico composto por centenas de citações eruditas retiradas da Bíblia, da literatura clássica e de tratados teológicos. Mesmo assim consegue ser mais excitante do que a pornografia para donas de casa escrita por E. L. James.
O Doce Veneno do Escorpião, de Bruna Surfistinha
Parece que Christian e Anastásia estão grávidos. Parece que é uma menina. Parece que vão dar o nome de Raquel para a doce herdeira. Parece que ela vai preferir ser chamada de Bruna quando crescer. Parece que ela não será exatamente uma surfista. Não tenho certeza, li num blog.
O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst
Ehhhh, véia safada!
Os Catecismos de Carlos Zéfiro
Por falar nisso, sabe àqueles calos duríssimos nas mãos firmes e trabalhadoras de seu respeitável avô, esse homem sisudo que jamais passará perto desse tal livrinho sem-vergonha que as mulheres andam lendo? Pois bem, nem todos seus calos são frutos da dura labuta diária. Fique com essa imagem na cabeça.