Não basta apenas sobreviver. Para viver é preciso sonhar

Não basta apenas sobreviver. Para viver é preciso sonhar

O que seria de nós, com todos os nossos medos, incertezas e angústias, sem o reconforto que a esperança nos dá? O viver não passaria de um purgatório sem saída ou uma prisão perpétua, a sensação indefinida de respirar por aparelhos. Uma tristeza profunda acomete os desiludidos e incrédulos, essa gente que vive dia após dia na passividade e aceitação do que a vida dá em doses homeopáticas. Seres desinteressados e desanimados, indiferentes com o amanhã, são miseráveis em sua escassez de paixão, de vontade… De viver. Só quem tem esperança é capaz de sonhar. E quem sonha, seguramente, é mais feliz!

Qual seria o sentido da vida se tudo não passasse de uma cronologia que demanda acordar, cumprir obrigações e dormir? Assim, sucessivamente, mecanicamente, previsivelmente. O grande barato de estar vivo é, justamente, sentir-se vivo! E isso significa ter vontade, ter gana, tirar um pouco os pés do chão e tocar o céu, de alguma forma, de qualquer maneira. A realidade é tão massacrante que, se não houver uma válvula de escape ou uma saída de emergência, a tendência é sufocar e implodir dentro de nós mesmos. Até que em algum momento nos tornamos as cinzas do que fomos, caminhando por aí com uma enorme sombra sobre as nossas cabeças, maldizendo a vida e os vivos.

Muito mais do que uma sucessão de acontecimentos diários, rotineiros, e a falta de perspectiva amarrada às pernas, viver é sonhar! A ideia é essa, estamos aqui para isso, para fazer planos e nos deixar levar por eles, acreditando numa probabilidade, em dez, em cem. Agarremo-nos aos sonhos e ao prazer de voar! Ter esperança é sonhar acordado, acreditar na mudança, no recomeço, na sorte… É ter fé. A esperança tem cheiro, tem gosto, forma, toque e mãos para segurar e caminhar entrelaçados e confiados por aí.

É hora de quebrar o cofre que está entupido de descrenças, medos e precauções, trocar todas as fichas por novas possibilidades. Isso. Vai lá e troca tudo que você economizou por tanto tempo com pavor de gastar e faltar, ou falir. Confie em mim. Esperanças se multiplicam, elas nunca acabam.

A vida é muito curta para deixar que ela escorra entre os dedos, que rasteje no chão, pequena e pouca, apática, murcha. Com previsibilidade e monotonia todo entorno aborrece, perde a cor.

O conforto que eu tenho é a segurança de que todos nós, seres vivos, temos duas opções certeiras no manual de sobrevivência terrena: Tentar ou desistir. Eu escolho, sempre, a primeira opção. Se não der certo, ao menos houve a experiência, a vivência, a disritmia aqui dentro, bagunça generalizada que tirou tudo fora do lugar.

Eu acredito que esperançar é uma maneira que encontramos de lutar pela nossa própria vida. É como se mostrássemos aos outros e a nós mesmos o tamanho da nossa força, que tem sangue correndo nas veias, que o pulso ainda pulsa, e que respiros e suspiros não bastam para existir. A vida toma outro sentido, incrivelmente amplo, quando nos permitimos voar.

Não basta apenas sobreviver. Para viver é preciso arriscar, é preciso querer, é preciso sonhar.

Karen Curi

é jornalista.