Dá dinheiro, mas não dá intimidade. Crônicas da voyeur Mara Luquet

Dá dinheiro, mas não dá intimidade. Crônicas da voyeur Mara Luquet

Um sábio ditado lituano de origem tailandesa apregoa: “Dá dinheiro, mas não dá intimidade”. Mas é possível intimidade real sem algum grau de envolvimento financeiro? Um casal pode ser carne da mesma carne sem ter uma conta conjunta? Ou a senha do cartão de crédito compartilhada? Esses dilemas da vida amorosa moderna são a matéria-prima e ponto de partida do livro “Infidelidades Financeiras”, da jornalista especializada em economia Mara Luquet, lançado pela editora Letras & Lucros.

Mara Luquet é um rosto conhecido e, também, aquilo que chamamos de autoridade. Foi colunista de finanças pessoais da Globo e da rádio CBN, editora do jornal “Valor Econômico” e criadora do caderno “Folhainvest”, da “Folha de S. Paulo”, e do canal MyNews. Entre seus outros livros estão “O Futuro é Seu” e “Muito Além do Voo”. Resumindo, é o tipo de pessoa a quem você pediria conselhos de investimento se a encontrasse em uma festa.

Mara Luquet foi colunista de finanças pessoais da Globo e da rádio CBN, editora do jornal “Valor Econômico” e criadora do caderno “Folhainvest”, da “Folha de S. Paulo”, e do canal MyNews

Um ditado sul-coreano de origem saudita apregoa que: “Dinheiro não traz felicidade, manda buscar”. A primeira parte do livro “Infidelidades Financeiras” é composta por crônicas que pretendem mostrar que, literalmente, o buraco é mais embaixo. Os relacionamentos amorosos podem ser afetados das mais diversas formas pelo vil metal; nada é simples. O ponto de vista é totalmente feminino. Segundo a autora, “são histórias reais, crônicas do cotidiano e experiências próprias que, nem sob tortura, revelarei quando a personagem for eu mesma”. Uma diversão extra do livro é tentar adivinhar quais seriam essas situações autobiográficas. Tenho meus palpites.

Mara Luquet se coloca como uma voyeur da vida financeira e amorosa de suas “personagens”. As crônicas abarcam uma infinidade de temas: quem deve pagar a conta em um primeiro encontro? Ter ou não ter filhos? Qual o preço do amor? Quanto custa fazer um post lacrador em redes sociais? Você vai encontrar um Marcello Mastroianni em Florença? Barcelona combina com ciúme? Como lidar com infidelidades financeiras? Muitas vezes as narrativas viram conversas, que viram confissões, que viram conselhos, que viram papo de comadres, tudo com leveza e senso de humor.

Se a primeira parte do livro aposta no lúdico, a segunda parte é pragmática. O título é bem claro: “10 Palavras que Vão Ajudar Suas Finanças”. Ações, Dólar, Fundos, Mercado, Orçamento são algumas dessas palavras mágicas — mágicas, mas tratadas com muita seriedade, sem perder a ternura. O objetivo do livro é dar conselhos? Sabemos que um ditado tailandês de origem lituana apregoa que: “Se conselho fosse bom não era dado, era vendido”. É verdade, mas lembre-se de que Mara Luquet pretende que você compre esse livro, não que faça perguntas circunstanciais em festas.

No meio disso tudo, é possível um final feliz? Não vou revelar muito, mas o título da conclusão do livro é justamente “Felizes para Sempre”. Quer saber como? Tire essa cobra do bolso, desapegue de uma parcela de seu dinheiro e compre (e leia) o livro, tendo em mente a célebre máxima do cronista carioca de origem javanesa Nelson Rodrigues: “Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”. Mas é preciso saber ganhar e, mais importante, é preciso saber gastar.

Ademir Luiz

É doutor em História e pós-doutor em poéticas visuais.