Faz um tempo, escrevi um texto sobre o Batman aqui pra Revista Bula. De vez em quando, a Bula vai lá e “sobe” o artigo de novo. É o que basta para que eu seja xingado, malhado, hostilizado, achincalhado e acusado de não conhecer o Batman, o Bruce Wayne e muito menos Gotham City.
Nada posso dizer a meu favor, infelizmente. Tudo isso é verdade. Nunca encontrei Bruce Wayne pessoalmente e jamais visitei Gotham City, embora imagine a cidade como uma versão gótica do Rio de Janeiro, só que mais fria e sem montanhas. As duas cidades enfrentam o mesmo problema: a ausência absoluta do Estado para administrar o caos e fazer justiça. Daí a necessidade populista de idolatrar vigilantes que agem acima da lei, como o Batman e o Capitão Nascimento.
Isso não é especulação, isso é fato. Lembra das famosas manifestações de junho de 2013? Lembra quem estava sempre ali pelo meio, exigindo a prisão imediata de políticos? Ele mesmo, o Batman. É só procurar no Google que você acha as imagens. Se tivesse ficado mais tempo no Rio de Janeiro, em vez de se mandar rapidinho para Gotham City, o Morcego acabaria por quebrar a placa da rua Marielle Franco e certamente votaria em Daniel Silveira e Jair Bolsonaro. Talvez ele próprio saísse candidato pelo PSL ou pelo Novo. “Por um Brasil direito, vote Batman! Jair Bolsonaro presidente. Wilson Witzel governador.”
Meus críticos podem argumentar que apenas faço especulações, sem apresentar provas convincentes. Afinal, eu nunca conversei com Bruce Wayne — e isso também é verdade. Mas ainda que eu tivesse o privilégio de encontrar o multibilionário, tenho a impressão de que ele não teria muito o que dizer. Imagino um chato que passa o tempo todo reclamando e resmungando com voz gutural. Ou seja, é um Véio da Havan que se veste de morcego.
Aí me dizem: “Mas a Wayne Enterprises tem um trabalho beneficente muito importante, a empresa ajuda vários orfanatos em Gotham City”. Sim, é verdade. Mas os orfanatos só existem para doutrinar mini-milicianos que, no momento adequado, serão recrutados para atuar como Robins. É só interesse e estratégia, não é benemerência.
É sempre possível argumentar que a LexCorp é muito pior. No Brasil, é quase certo que Lex Luthor estivesse enfiado até o pescoço em Pré-Sal, Lava Jato e BNDES. A Wayne Enterprises, por outro lado, estaria financiando youtubers, blogueiros, tuiteiros, facebuqueiros e instragramers para pregar a “batmização” do Brasil. Sinceramente, não sei o que é pior. Bruce Wayne já teria, inclusive, assinado artigo na “Folha de S. Paulo” defendendo as reformas liberais do falastrão Paulo Guedes. Eu não tenho provas, mas tenho convicções.
O único ponto positivo do Batman, sejamos justos, é a atração irresistível que ele sente pelo “outro lado”. A proximidade dele com a Mulher-Gato é muito mais que tesão, nós sabemos. Aquilo é identificação mesmo, já que ambos vivem à margem da lei. A ideologia, afinal, é uma ferradura e os extremos sempre se tocam. Por isso, não tenho nenhuma dúvida: se vivesse no Brasil, a Catwoman do Batman seria a Karol Conká. Véio da Havan e Karol Conká… já imaginou? Se você quer mesmo viver num mundo onde a justiça é feita por esses dois, vou dizer algo que dói: você escolheu errado o seu super-herói.