Dizer que a pandemia alterou a convivência humana chega a ser redundante. Desde o início de 2020, as pessoas tiveram de se adaptar ao isolamento social e suas consequências — incluindo o afastamento de amigos e parentes. O mundo, desde então, voltou o seu foco para tentar amenizar os efeitos nefastos da doença, com protocolos de segurança em decorrência do número de mortes em escala crescente e assustadora. Mas nem isso serviu para mudar mentalidades e comportamentos de figuras pitorescas ao redor do globo terrestre. Entre eles, o presidente da República Federativa do Brasil.
Atualmente, o país enfrenta a maior média móvel de mortes desde junho de 2020 e passa da casa dos 1000 óbitos diários. São mais de 240 mil mortes no total e o país se aproxima dos 10 milhões de casos confirmados. Alguns estados, inclusive, já indicam um colapso indesejado nas redes de saúde pública, e alguns governadores inclusive estão em vias de adotar práticas restritivas mais severas, como o lockdown. O prognóstico do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME), da Universidade de Washington, é que nos próximos três meses morram mais 100 mil brasileiros. Uma tragédia sem precedentes.
Enquanto isso, o presidente da República segue a sua rotina de não ter pressa para adotar medidas de contenção. Enquanto países ao redor do mundo correm contra o tempo para vacinar a sua população, o Brasil alimenta a crença de muitos em um protocolo de tratamento precoce que não possui nenhum respaldo na ciência, com remédios sem eficácia comprovada. Na Nova Zelândia, a primeira-ministra, Jacinda Ardern, decretou lockdown de três dias após três novos casos serem detectados. No Brasil, por sua vez, com mais de 50 mil novos casos diários, a prioridade do governo foi editar um decreto para facilitar o acesso a armas de fogo.
Após tentar diminuir a extensão da pandemia com declarações polêmicas, não há nenhuma movimentação concreta que indique que o presidente esteja preocupado com a escassez de vacinas pelo país. Seu comportamento, aliás, flerta com o deboche: enquanto o número de mortes se aproxima de 300 mil, o chefe do Executivo se ocupa em interferir nas eleições do Congresso e em dar declarações condenando a imprensa livre. Os brasileiros adoecem progressivamente, mas não há preocupações ou seriedade no trato com o pior desastre sanitário da história da nação. Enquanto pais, mães, avós e amigos morrem aos milhares, o presidente simplesmente nada em Santa Catarina, como se tudo estivesse em plena normalidade. O Brasil padece, e o presidente literalmente nada.
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