Quem já andou de amores por aí sabe bem do que se trata. Entende como funciona. Sentir amor é a maior sorte que a vida nos dá. Do sentimento amoroso brota um mundo inteiro de possibilidades novas, vontades honestas, intenções felizes, projetos abençoados. Do amor vem todo o resto.
O amor nos empurra para a frente, nos leva adiante. Faz nascer em nós razões irresistíveis e toda sorte de desejos, ímpetos e motivos para romper amarras mesquinhas, vencer torcidas contrárias, superar encalhes derrotistas, evoluir, melhorar. E merecer mais amor.
Aos sortudos escolhidos na roda dos acasos, o amor chega trazendo fortuna. Melhora a pele, desopila o fígado, clareia a vista. Amor jamais segura, não atravanca e nem atrasa. Amar faz bem e ponto.
Sentir amor faz de nós bombas atômicas ambulantes, reagindo em cadeia aqui e ali com outros seres amorosos, varrendo a terra de ternuras. Quem sente amor o espalha pela vida, transborda o mundo de festa. É o que nos salva da sanha dos patifes, invejosos, cretinos, estúpidos e patetas tão dedicados a distribuir descaso e apatia e desamor.
Amar o ser amado, um ofício, uma ideia, um sonho, não importa o quê. Amar faz bem e só. Sempre! Quando faz “mal”, como acontece a quem ama e não se sente correspondido, já não é amor. O que machuca quando o amor não é recíproco é a frustração, a carência e esses sentimentos decorrentes da indiferença do outro. Não o amor.
Isso também acontece com o amor não declarado, não vivido: o que castiga é a ansiedade, a aflição, a espera do que nunca vem. Não o amor. Misturar sentimentos negativos na mesma panela resulta em uma mixórdia pegajosa de emoções estranhas. E tem gente que dá a isso o nome de “amor”. Odiosa injustiça.
Não é possível amar quem nos faça mal. Mas é certo que vez ou outra a intenção afetuosa de querer estar com alguém e lhe fazer bem se mistura e se contamina de outros sentimentos menos nobres: a necessidade de posse, a insegurança, o egoísmo. Não ser correspondido por aquele que, em nossa impressão egoísta, deveria nos devolver o mesmo que oferecemos é fogo. Machuca e deságua em mágoa, arrependimento, raiva. Menos amor.
O amor também há de não ter receitas e nem medidas. Não há “quanto mais, melhor”. Um amor tímido, de declarações sutis, silêncios e distâncias também pode ser amor. E se aquele que receber esse amor achálo “pouco”, pode simplesmente tentar cultivá-lo, fazê-lo maior, cheio de frutos. Ou partir para outra. Para que complicar?
Ninguém sofre de amor, não. A gente sofre é da falta dele. Amar nos dá sorte. Enche os olhos de sonhos e os dias de esperança. Quem ama não faz jogos. Ama simplesmente. Jogos são para apostadores. Amor é para os amantes.
Eu tenho sentido amor, sabe? Muito. É tanto que nem cabe aqui dentro. Dividi-lo assim, com você, é bem o meu jeito de amansar esse aperto franco que dá no peito. É que me assalta a alegria de me saber pessoa que nasceu para seguir um caminho largo ao lado de outra pessoa. E de ali na frente enxergar a nós, aos nossos e às nossas esperanças todas se ajeitando na vida, querenças de gente sofrida que vez ou outra desanima mas jamais desiste.
Dá trabalho. Muito. Não vem de graça, não cai do céu, não aceita ordem e nem obedece a planos. Mas quando vem é sorte. Bem-vinda, amor. Pode entrar. Senta. Come do meu pão, bebe do meu vinho. Fica que a casa é sua e a sorte é nossa. A sorte é toda nossa.
Ilustração: Elena Romanova