Recentemente, num debate no Facebook, quando mencionei que a União Soviética de Stálin e a Alemanha de Hitler assinaram um pacto de não-agressão, em agosto de 1939, uma tradutora e um pianista contestaram a informação, que consta de qualquer livro de história do período e é, claro, de domínio público. A irritação cresceu quando escrevi que, devido ao acordo, os nazistas se sentiram seguros para invadirem a Polônia, a qual foi dividida com os comunistas. São fatos incontestáveis.
O pacto durou dois anos, e não foi rompido por Stálin, e sim por Hitler, em 1941. As forças militares da Alemanha pegaram as União Soviética, por assim dizer, com as calças na mão. O soviético havia sido alertado por espiões, mas parece não ter levado a sério o que informaram. Parecia confiar em Hitler, embora fosse um dos seres mais desconfiados (e paranoicos) da história política global.
Mas nas redes sociais, por vezes, criticar Stálin, a face vermelha de Hitler, é como se fosse um elogio ao presidente Jair Bolsonaro. O totalitário georgiano, responsável pelo assassinato de entre 25 milhões e 30 milhões — pesquisadores ainda não conseguiram propor números precisos —, é, para a esquerda, menos mal visto do que o nazista. Ambos, na verdade, são o que há de pior na esquerda e na direta internacionais. Nenhum deles merece alguma defesa, nem mesmo por interesses tático-estratégicos.
Mas é preciso acrescentar que, quando foi invadida pelos alemães, em 1941, a União Soviética migrou para o lado dos Aliados — que foram decisivos para salvá-la do poderio das forças armadas de Hitler. Em seguida, é preciso admitir, por uma questão de justiça histórica, que os comunistas — o povão russo — foram cruciais para a derrota das forças nazistas. Em caso de neutralidade do país de Púchkin, os Aliados — Inglaterra, Estados Unidos, França (as forças de Charles de Gaulle) — teriam vencido a guerra? Teriam, é provável. Mas demorariam mais tempo e o custo humano seria mais elevado. Aliás, o custo humano para a União Soviética foi o mais alto da guerra.
Aqueles que não querem discutir a aliança entre Stálin e Hitler — fica-se com a impressão de que os mais interessados na aliança eram os comunistas, tanto que no dia da invasão estavam enviando produtos para a Alemanha — deveriam consultar um livro que está sendo lançando no Brasil, O Pacto do Diabo — A Aliança de Hitler com Stálin, 1939-1941 (Objetiva, 416 páginas, tradução de Berilo Vargas), de Roger Moorhouse, formado em História pela Universidade de Londres e professor visitante no Colégio da Europa em Varsóvia. Trata-se de uma história rigorosa e detalhada das relações promíscuas, política e eticamente, entre os dois ditadores, que, de certa maneira, se admiravam.