Depois de um ano tão turbulento, a necessidade de fazer 2021 um pouco mais leve é urgente. E como já se sabe, a leitura, além de uma atividade prazerosa, é terapêutica e pode melhorar a ansiedade e a depressão. Para ajudar na escolha, a Bula reuniu em uma lista dez ótimos livros que devem estar na sua lista de leitura este ano. As obras selecionadas são agradáveis e breves, ideais para serem lidas antes de dormir ou em outros momentos de relaxamento. Entre elas, destacam-se “Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira” (2020), de Edson Aran; “Infidelidades Financeiras: Crônicas de uma Voyeur” (2020), de Mara Luquet e “O Complexo de Portnoy” (1969), escrito por Philip Roth. Os títulos estão organizados de acordo com o ano de lançamento: do mais antigo para o mais recente.

As vozes que narram as crônicas do livro de Mara Luquet são femininas, mas não porque enrascadas financeiras sejam exclusividade das mulheres. Mas porque elas estão mais abertas a partilhar as dificuldades em busca de soluções. São histórias reais, crônicas do cotidiano que foram contadas a ela, mas também experiências próprias da autora. Histórias que narram como o complexo triângulo amoroso — amantes e dinheiro — destrói o romantismo de casais outrora apaixonados. O livro mostra que é a relação com o dinheiro — e não necessariamente a falta dele — que provoca as desavenças entre casais. O objetivo de Mara com esta ‘experiência de voyeur’ é fazer melhorar o relacionamento afetivo do leitor em todos os aspectos inclusive — e por que não — no sexual.

“Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira”, livro escrito e ilustrado por Edson Aran, reúne os fatos mais importantes da vida e da obra dos maiores autores brasileiros. Coisas nunca lidas ou comentadas, por exemplo, Machado de Assis saindo no braço com José de Alencar por conta de índio pelado, Paulo Coelho realizando sacrifícios humanos para vender mais livros, Clarice Lispector driblando o assédio de um agente literário meio safado. Ou ainda: as colunas sobre vinho que Guimarães Rosa escreveu no jornal “A Tocha de Codisburgo” e que tacaram fogo no sertão das Gerais. Do quinhentismo ao terraplanismo, toda a literatura brasileira desfila por esse livro fascinante cheio de cascatas de colorido sutil. “Histórias Jamais Contadas da Literatura Brasileira” traz histórias tão boas que, caso não existissem, seria preciso inventá-las. Foi exatamente isso que Edson Aran fez.

Best-seller em todo o universo de língua espanhola, “A Uruguaia” é uma epopeia tragicômica sobre a busca pela felicidade. Lucas Pereyra, uma escritor argentino bem-sucedido e recém-chegado aos 40 anos, conhece uma bela uruguaia, chamada Magali Guerra, em um festival literário. Os dois se beijam, mas não passa disso. Lucas é casado e tem um filho. Um ano depois, ele planeja uma viagem a Montevidéu para receber uma dívida, mas também para se reencontrar com Magali. Tratando de temas como amor e culpa, responsabilidade e libertação pessoal, esse livro estabelece de uma vez por todas o talento de Pedro Mairal como um dos nomes de destaque de um novo “boom” da literatura latino-americana.

“Fun Home” é um marco dos quadrinhos e das narrativas autobiográficas, uma obra sobre sexualidade, relações familiares e literatura. Pouco depois de revelar à família que é lésbica, Alison Bechdel recebe a notícia de que seu pai morreu em circunstâncias que poderiam indicar um suicídio. Nesta aclamada autobiografa em quadrinhos, ela explora a difícil, dolorosa e comovente relação com o pai. A autora retraça também os próprios passos, da criança que cresceu entre os cadáveres da funerária da família, na zona rural da Pensilvânia, à jovem que se encontrou nos livros e na arte. Num trabalho sutil, Bechdel trilha o caminho de sua vida em busca de um pai enigmático e incontornável.

Em conversas com um psicanalista, o advogado nova-iorquino Alexander Portnoy discorre sobre seu passado: a infância abastada, a descoberta do sexo na adolescência com as tentativas frustradas de perder a virgindade, e sua vida atual, em um relacionamento conturbado com uma amante bela, mas semianalfabeta. Portnoy confessa que foi impelido ao longo da vida por uma sexualidade insaciável, mas ao mesmo tempo refreado pela mão de ferro de uma infância inesquecível. Afinal, ele é totalmente incapaz de se livrar da ligação paralisante com a mãe. Quando lançado, em 1969, “O Complexo de Portnoy” se tornou best-seller e foi saudado como a consagração definitiva do talento de Philip Roth.

Richard Brautigan traduz seu espírito lisérgico em um romance metaliterário, sem sequência temporal, de capítulos curtos e ligados por um mesmo assunto: o ato de pescar truta na América. Publicada originalmente em 1967, a história percorre a infância de Brautigan no noroeste dos Estados Unidos; a vida adulta em São Francisco; e uma viagem de acampamento em Idaho, com a mulher e a filha, no verão de 1961, ao longo da qual a maioria dos capítulos foi escrita. Richard Brautigan foi um romancista, poeta e contista norte-americano. Sua literatura ficou conhecida como surrealista, satírica e nonsense. Além de “Pescar Truta na América”, sua primeira experiência com a prosa, “Watermelon Sugar” (1968) é um de seus livros mais conhecidos. Brautigan cometeu suicídio em 1984.

“O Púcaro Búlgaro”, último romance de Campos de Carvalho, pode ser tomado como a síntese de toda a sua obra. No verão de 1958, enquanto visitava tranquilamente o Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia, um cidadão chamado Hilário avista um púcaro (vaso) búlgaro. Espantadíssimo, embarca numa jornada à Bulgária, a fim de comprovar a (in)existência desse país. O relato dessa expedição, segundo o narrador é “o mais pormenorizado e o mais honesto possível, embora tenha sido reduzido ao mínimo para que pudesse caber num só volume”. A narrativa é um exercício de humor e escrita, com doses de surrealismo e um texto formado por relatos que beiram a esquizofrenia.

O livro acompanha um fim de semana da vida de Holden Caulfield, um jovem de 17 anos, estudante de um respeitado internato para rapazes, o Colégio Pencey. Ele é expulso da escola depois de tirar notas ruins, e precisa voltar mais cedo para casa no inverno. Durante o caminho de volta, o rapaz busca adiar ao máximo o encontro com os pais, fazendo uma viagem reflexiva sobre sua existência, a partir de sua peculiar visão de mundo. Antes de enfrentar os pais, ele se encontra com algumas pessoas importantes na sua vida e, junto a elas, reflete sobre as hesitações que se passam em sua mente.

Em “O Amanuense Belmiro”, Cyro dos Anjos constrói um diário íntimo de um burocrata belo-horizontino de 28 anos, amanuense (copista) do Ministério da Agricultura. Ele narra suas lembranças e situações cotidianas, num período que se estende do carnaval de 1935 até o do ano seguinte. Belmiro mantém uma paixão platônica por Carmélia Miranda, uma bela jovem da alta sociedade, que acaba se casando com um médico conceituado. Passam pelo dia a dia do amanuense outros personagens e amigos, como a atraente Jandira, o anarquista Redelvim, o filósofo católico Silviano e o seu colega de repartição Glicério. Com essa obra, Cyro dos Anjos foi comparado a Machado de Assis e entrou para o panteão dos maiores escritores brasileiros.

Uma espécie de hippie em plena Alemanha do fim do século 19, o jovem Knulp vagueia de cidade em cidade e se hospeda na casa de conhecidos, que lhe dão teto, comida e algum afeto. Ele evita, no entanto, construir relações mais profundas, estabelecer laços definitivos: é um amante da liberdade, uma espécie de esteta em fuga de um mundo crivado de imposições e crenças antiquadas. À medida que os anos passam, amigos o repreendem por ter desperdiçado seu talento e sua saúde com uma existência vadia, entregue à boemia e ao improviso. O andarilho, ainda que debilitado, não lhes dá ouvidos e segue desfrutando dos prazeres mais simples, aferrado aos breves momentos de felicidade. Uma das mais belas construções literárias de Hermann Hesse, Knulp é um personagem também complexo, que duvida constantemente de suas próprias escolhas.