Depois de você, nada, nunca mais, será como antes

Depois de você, nada, nunca mais, será como antes

Que curiosa é essa vida… Procuramos o amor feito cachorro farejando cheiro de comida, e muitas vezes ele está bem ali, na nossa cara, aonde sempre esteve. Não importa quantas trombadas se dá, quantos amores a gente inventa e finge que acredita. De nada serve a entrega com um pé atrás, nem a ilusão de colecionar corpos para substituir o amor verdadeiro. Uma vez colado, pregado, rejuntado e soldado na alma, nada nem ninguém é capaz de arrancar o grande amor de dentro da gente.

Acredito sinceramente que todos querem um coração preenchido, colorido, uma viva alma que nos faça cair de joelhos e de amores. Enquanto isso não acontece, vamos ocupando os espaços vazios com sonhos e pretendentes, até que por obra do destino e razões do universo, nos reconhecemos em alguém especial e a sorte é lançada.

Alguns fogem, outros desistem, não dão conta de tanto amor, de tanto amar. A verdade é que não é possível enganar por muito tempo um coração que já não é mais nosso. E quando exaustos de renegar o amor que nos pertence e nos apropria, esgotados de insistir com a ideia fixa de substituição e fadigados da ingenuidade de que somos mais fortes que o amor verdadeiro, pedimos colo ao coração, que chega abrindo os nossos olhos e escancarando as janelas, já de saco cheio de tanto ser tapado com a peneira! Se ele pudesse, tenho certeza que nos daria boas sacudidas, nos mandaria sentir e amar sem medo de perder as rédeas, que por sinal já estão frouxas desde que os olhares pousaram um no outro.
“Vá amar, minha filha! Está aí o seu grande amor! Segurem-se as mãos e amem sem freios!”

Tem pessoas que entram em nossas vidas e fazem com que nunca mais sejamos os mesmos. Dizem que deixamos um pedacinho de nós por onde passamos e levamos conosco um pouco de cada um, mas tem gente que chega e fica, se instala, traz o cimento, começa a levantar a parede. E o coração, antes sem dono, dá lugar à uma casa com quintal, porta-retratos e vasos de plantas. Por mais que numa noite a casa se inunde de lágrimas e ao amanhecer as flores sequem de tanta amargura, a casa vai estar sempre lá. E será única e exclusivamente daquele que a construiu, tijolo por tijolo, dia após dia, com sua entrega e todas as virtudes e defeitos de quem ama.

Eu penso que se o amor verdadeiro fosse uma tatuagem ele seria um enorme coração vermelho no meio da cara. Desse jeito era mais fácil a gente identificar quem já encontrou o seu… Mas como nada vem de mão beijada, o amor da nossa vida chega com uma mala de reboliços, varrendo a monotonia dos dias em que éramos nós e Deus. Junto dele o desejo de arriscar, de sentir e viver toda a desordem emocional de forma plena, sem nada de pequenice, nem pormenores. Eu sei, a gente hesita porque nos acostumamos aos amores pequenos, desses que não trazem grandes mudanças. De toda forma, o amor sublime desembarca na nossa plataforma e em suas mãos uma verdade; que nada, nunca mais, será como antes.

Estou certa de que quando encontramos esse amor nesse alguém, e nos permitimos viver toda a intensidade que ele proporciona, as outras histórias serão apenas recordações de um tempo pretensioso em que achávamos saber o que é esse sentimento… E quando eu digo “intenso”, é com toda a potência de um amor único, singular tanto nas afinidades quanto nas diversidades. Abundante, febril, vigoroso, excessivo, agudo, robusto e tantos outros adjetivos volumosos. Porque amor de alma é assim, é amor de arroba.

Mesmo que os anos passem, que pessoas atravessem o nosso caminho, que insistam em ficar, e por carência ou comodidade nós as abrigamos. Mesmo que outros olhos nos encantem e outros sorrisos nos façam rir. Mesmo que venham outras mãos, outros braços e abraços, outras vozes e músicas. Virão novos filmes, novos livros, novos lugares, bares e viagens. Mesmo que terminemos sós ou acercados de alguma companhia. O amor verdadeiro estará sempre conosco, sempre vivo dentro dos nossos corações etiquetados e identificados com nossos nomes e apelidos.

Pulsará a cada segundo, em cada minuto de insônia, cada hora de solidão, seja ela acompanhada ou dolorosamente solitária. Todos os dias nós teremos a paz da certeza de que nos encontramos e nos pertencemos.

Depois de você, nada, nunca mais, será como antes…

 

Karen Curi

é jornalista.