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Mesmo antes daquela tarde de 10 de janeiro de 2008, quando, aos 15 anos, estreou com a camisa 21 do Santos na Copa São Paulo de Futebol Júnior substituindo Ganso, que usava a 10, Neymar já era badalado. Acostumado ao assédio da imprensa desde a época do futsal e da Portuguesa Santista, o garoto Neymar se destacava pelo futebol atrevido, pelos dribles desconcertantes e pela sua incrível capacidade de decidir. Em 2009, aos 17 anos, assinou contrato profissional e iniciou a carreira no time principal do Santos. Ele precisou de apenas um ano para ganhar espaço e títulos. Vieram, em sequência, o tricampeonato Paulista, a Copa do Brasil, três Chuteiras de Ouro, algumas artilharias e a Libertadores da América. Ninguém mais, a partir de então, tinha dúvidas de que os próximos passos do menino Ney seriam a Europa e o título de melhor do mundo. O primeiro ocorreu em 2013, com sua contratação pelo Barcelona. O segundo, porém, pode ser algo que nunca aconteça. E as razões, para isso, são muitas.
Neymar chegou ao Barcelona com pompas de astro. 56 mil torcedores compareceram ao Camp Nou no dia de sua apresentação, quando ele afirmou estar realizando um sonho de infância. Sua adaptação foi rápida no time blaugrana. Formou, com Messi e Suárez, o temido trio “MSN”, que colecionou títulos e façanhas ao longo de quatro anos no clube. O brasileiro participou de 186 jogos, fez 105 gols, deu 59 assistências e foi o terceiro colocado no prêmio de melhor jogador do mundo da temporada de 2015, com apenas 23 anos. Era um indício praticamente indiscutível de que ser o maior de todos os jogadores seria questão de tempo. Em campo, Neymar correspondia de forma excepcional, mas a sombra de Messi não lhe fazia bem. O argentino era definitivamente o centro das atenções do clube espanhol, e disputar protagonismo com ele, jogando no mesmo time, parecia complicado. Foi então que o PSG entrou na jogada e pagou a inacreditável multa rescisória de 222 milhões de euros, rompendo os laços de Neymar com o Barcelona. Novos ares, clube em ascensão e possível protagonismo. Era o caminho livre para o objetivo de conquistar a premiação da FIFA. Mas não foi bem assim.
A lista de brasileiros que alcançaram o topo da lista da FIFA conta com ninguém menos que Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Todos eles faziam parte de times europeus espetaculares, recheados de craques. O diferencial deles é que, em suas temporadas de maior brilho, tiveram, além do protagonismo em seus clubes, um foco total na temporada e estavam disputando ligas extremamente competitivas. O campeonato francês é um grande empecilho para as pretensões de Ney. Uma competição fraquíssima, em que o PSG sobra e não traz nenhum desafio ao atleta. Reflexo disso é que nenhum jogador atuando na França ganhou o prêmio de melhor do mundo na história do futebol. Na Liga dos Campeões, a vitrine possível para Neymar brilhar, o time conseguiu chegar à final apenas em 2020 — mas perdeu o título para o Bayern.
Outro fator determinante para fulminar as pretensões de Neymar é a queda da Seleção Brasileira. Há quase duas décadas sem conquistar uma Copa do Mundo e com um futebol burocrático, que já não assusta mais os adversários, o time canarinho foi humilhado no ano de 2014, quando Neymar poderia ser o fiel da balança para si e para o Brasil, mas acabou se contundindo antes da semifinal. Apesar dos bons números em suas duas Copas, ele não conseguiu reproduzir em consistência o que um dia Romário ou Ronaldo fizeram. E, mesmo com um futebol genial, carrega a pecha de ser cai-cai, tornando-se o grande meme da Copa de 2018 devido a seu hábito de simular faltas. Os detratores de seu futebol também apontam a falta de seriedade nas pretensões do craque. De 2014 a 2019, por exemplo, Neymar sempre desfalcou seu clube no período do carnaval e do aniversário da irmã, em decorrência de um cartão amarelo ou de alguma lesão. Em algumas dessas vezes, foi flagrado curtindo a folia.
O fato de ser uma superestrela do futebol, lidando com os holofotes desde a infância, pode ser um peso a mais contra esse objetivo específico de Ney, que vez ou outra é injustamente acusado de ser mais midiático do que jogador. Apesar de seu futebol continuar de alto nível e com excelentes números, rendendo bons frutos nas temporadas pelo PSG, é como se houvesse alguma barreira metafísica que o impedisse de chegar ao total estrelato, como o melhor de uma temporada. Exemplo disso é que, apesar de se apresentar de forma brilhante em 2018 e 2019, Neymar sequer figurou entre os dez melhores do mundo no biênio. Em 2020, o ano em que ele resolveu deixar de ser o “menino” Ney para de fato focar em seu clube — faltando ao carnaval e ao aniversário da irmã —, a derrota na final da Champions veio como um grande balde de água fria em sua disputa com Lewandowski e Mbappé.
Com 28 anos e muita estrada pela frente em sua carreira, Neymar assiste aos concorrentes Messi e Cristiano Ronaldo, que se revezavam como vencedores do prêmio da FIFA, deixarem aos poucos o protagonismo. Por outro lado, há outros concorrentes de muita qualidade, como Mbappé, Kevin De Bruyne e Erling Haland. Quem conhece e acompanha futebol sabe que, com Neymar focado e determinado a vencer, é quase impossível frustrar sua pretensão de ser o melhor do planeta.
Porém, pelo que se vê até aqui, parece realmente muito difícil todos os fatores convergirem a favor do menino Ney. Uma grande pena para um jogador do seu quilate.