A escola pós-pandemia não poderá fingir que 2020 não aconteceu. Não poderá ignorar que as crianças passaram praticamente um ano inteiro isoladas. Precisará lidar com o medo que algumas crianças estão desenvolvendo de aglomeração. A escola precisará enxergar crianças e adolescentes gravemente afetados por um ano sem amigos. E precisará admitir que o tal conteúdo dado foi pra inglês ver. A escola precisará pensar em unificar os conteúdos de dois anos e priorizar o que realmente é importante.
Talvez as crianças precisem de mais aulas ao ar livre. Talvez as crianças precisem de dois ou mais recreios durante um turno. Talvez as crianças precisem de muito, muito tempo de brincadeira.
E a escola, que sempre priorizou conteúdo, vai precisar priorizar o brincar, as tão criticadas conversas paralelas e aceitar que receber conteúdo é importante, mas não mais importante que o convívio social.
Disseram que a escola teve que se reinventar na pandemia. Não se reinventou: continuou priorizando conteúdo, só que agora por meio digital. Ela vai precisar se reinventar agora, depois que isso passar. Porque a escola se reinventar significa mudar suas prioridades, que não poderão ser decoreba de tabuada, mil exercícios de análise sintática e treino de letra cursiva.
A prioridade terá que ser outra. E essa mudança não poderá ser só pra quem pode pagar Waldorf, Montessoriana ou Construtivista. A mudança deverá ser pra todos.
Dany Santos é autora da página Quartinho da Dany